Nossas vidas são pautadas por inúmeras incertezas somadas às mudanças cada vez mais rápidas. A tecnologia avança de forma exponencial fornecendo ferramentas para diversas áreas, entre elas, a da saúde, com soluções até então inimagináveis há alguns anos. A maioria dos equipamentos de ponta, entretanto, somente as classes econômicas mais privilegiadas têm acesso facilitado.
A indústria da Saúde vive um momento crítico de reinvenção, e um dos pilares mais importantes deste cenário é a democratização do acesso à saúde, especialmente para dois segmentos de alto impacto: baixa renda e mais de 60 anos. Até 2050, as projeções apontam que a população mundial deve chegar a 9,5 bilhões, e a base da pirâmide deve representar dois terços das pessoas, enquanto a terceira idade corresponderá a um quarto do total.
A base da pirâmide é constituída por pessoas das classes C, D e E, que ganham de um a cinco salários mínimos. Segundo o último Censo do IBGE, de 2010, a categoria representa 80% da população brasileira, e dentro dela, 90% não têm plano de saúde. São mais de 170 milhões que têm altas restrições no acesso à saúde e condições primárias de atendimento e saneamento básico.
Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) é a principal porta de acesso para essa classe, que, na teoria, lida desde a atenção básica a atendimentos de média e alta complexidade. Mas, na prática, o programa enfrenta diversos desafios. A falta de informação por parte da população complementa a gestão ineficiente do sistema e seus processos. Faltam médicos especialistas que atendam chamados de média complexidade e infraestrutura hospitalar para suprir as necessidades do atendimento de alta complexidade. E esses problemas se agravam ainda mais quando se tratam das regiões Norte e Nordeste.
Como democratizar a saúde?
Existem várias oportunidades para melhorar o acesso à saúde. Uma é o desenvolvimento de mecanismos que auxiliem na melhoria da gestão do SUS. Outra possibilidade é a criação de produtos e serviços que podem servir como alternativas ao sistema. Um exemplo é a rede Dr. Consulta, que nasceu em 2011 para atender especialidades médicas como oftalmologia, cardiologia e ortopedia em clínicas confortáveis e bem equipadas, sob um preço acessível. A proposta é oferecer um atendimento com qualidade para a base da pirâmide e auxiliar no atendimento à demanda que o SUS não consegue suprir.
Outro exemplo interessante é a empresa Saútil, que criou um buscador de informações de saúde sobre o SUS. Eles possuem um banco de dados que pode ajudar as prefeituras e o governo a entenderem as necessidades das pessoas de cada região, a fim de melhorar a prevenção e o tratamento das doenças.
A soma de necessidade, tecnologia e inovação pode trazer resultados inimagináveis, e a sustentabilidade, neste caso, se traduz no bom andamento do sistema de acesso à saúde. Não resolvemos nada somente apontando as deficiências dos programas públicos oferecidos. É preciso mostrar como é possível auxiliar no atendimento dessa demanda.
*Roberta Valença é CEO da Arator, consultoria especializada em projetos de sustentabilidade com inovação – roberta@aratorsustentabilidade.com.br