O governo encampou a polêmica sobre o uso da fosfoetanolamina no tratamento do câncer. Depois de o Ministério da Saúde comunicar, na quinta-feira passada, a criação de um grupo de trabalho para estudar a eficácia do uso dessa molécula, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) anunciou que está trabalhando com seis grupos de pesquisa do país na área de fármacos e medicamentos para aprofundar os estudos da fosfoetanolamina como remédio auxiliar no combate à doença.
Está em discussão nos grupos de pesquisa a realização de testes para verificar a segurança e a eficácia da molécula no tratamento de vários tipos de câncer, e assim auxiliar a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na decisão sobre o uso como medicamento.
— Os laboratórios que estão no projeto são liderados por cientistas brasileiros altamente qualificados e que têm capacidade comprovada para atuar na síntese, na caracterização e na realização dos testes in vitro necessários, num prazo de seis meses — disse o ministro Celso Pansera.
Segundo ele, os grupos de trabalho estão atuando com rapidez para, se comprovada a segurança e a eficácia da molécula no combate ao câncer, o ministério apoiar estudos necessários para a produção em grande escala do medicamento. Os laboratórios envolvidos no projeto são de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Ceará.
— Com o estudo, vamos auxiliar a Anvisa na sua decisão sobre o uso como medicamento e, consequentemente, responder ao clamor da população dependente desse tipo de tratamento — destacou o secretário de Políticas do MCTI, Jailson de Andrade.
O uso da fosfoetanolamina se tornou uma polêmica com dimensão nacional no mês passado, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) liberou o seu uso como medicamento experimental, derrubando decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, que havia suspendido o fornecimento do remédio a 1.400 pacientes de câncer na cidade de São Carlos.
A fosfoetanolamina sintética foi desenvolvida em 1990 por Gilberto Orivaldo Chierice, professor de Química da USP-São Carlos. As cápsulas foram produzidas e distribuídas gratuitamente por ele a pacientes na própria universidade. Ano passado, após a aposentadoria de Chierice, o Instituto de Química da USP parou a produção e distribuição do medicamento, por não ter registro na Anvisa. Pacientes passaram a recorrer à Justiça para receber a droga. Apesar dos grupos de trabalho formados pelo governo, o Ministério da Saúde recomenda que as pessoas não façam uso da substância até que os estudos sejam concluídos.