Cientistas canadenses descobriram uma maneira não invasiva de levar medicação a partes do cérebro que, até então, eram inacessíveis. A descoberta pode gerar um enorme avanço nos tratamentos para o Alzheimer, o Parkinson e outras doenças relacionadas ao cérebro.
A chamada barreira hematoencefálica — uma estrutura de permeabilidade altamente seletiva, composta de células, que protege o sistema nervoso central de substâncias potencialmente neurotóxicas presentes no sangue e infecções — tem sido um empecilho para os médicos. A barreira semi-permeável é essencial para manter a função metabólica normal do cérebro, mas grande parte dos medicamentos não conseguem ultrapassá-la, por isso, ela é um dos principais desafios para os tratamentos que agem sobre o sistema nervoso central.
Neurocientistas do Sunnybrook Health Sciences Centre encontraram uma solução não invasiva para o problema. A nova técnica utiliza o ultrassom e microbolhas para penetrar a barreira. Até agora, testes realizados em animais têm dado bons resultados. Os cientistas se preparam para começar a testar o método em humanos.
Bonny Hall, que é avó e dona de seu próprio negócio no Canadá, será a primeira paciente a tentar o tratamento. Ela descobriu recentemente que o tumor benigno no cérebro com o qual conviveu por oito anos começou a crescer rapidamente e se tornou maligno. Apesar de assustada com a notícia, Bonny se disse esperançosa com o novo estudo. O tipo de tumor que a paciente tem é um glioma. Eles são particularmente difíceis de tratar, porque se espalham como uma teia e não podem ser completamente removidos com cirurgia.
Com as tecnologias atuais, os médicos podem usar a quimioterapia para tratar o que sobrar do tumor após a cirurgia, mas os especialistas ressaltam que apenas cerca de um quarto das drogas chegam ao cérebro, por conta da barreira hematoencefálica. Por isso os índices de sobrevivência de pacientes com câncer de cérebro são tão baixos, segundo o doutor Todd Mainprize, que chefia o estudo canadense.
“Falando francamente, nossa capacidade de tratar esse tipo de tumor, o glioma, não é boa”, disse ele à rede canadense CTV News. “Entre 1940 e 2005, houve pouco progresso no sentido de melhorar o prognóstico desses pacientes”.
No entanto, os médicos estão otimistas e acreditam que o novo tratamento pode ser um sucesso no caso de Bonny.
“Minha esperança é que eu possa ser apenas uma mãe normal, uma avó normal”, comentou a paciente.
O novo tratamento envolve três passos. Primeiro, é dado ao paciente uma dose de medicamentos de quimioterapia; no caso de Bonny, essa droga é a doxorrubicina. Em seguida, inofensivas microbolhas de gases são injetadas na corrente sanguínea.
No terceiro passo, um feixe de ultrassom de alta intensidade é dirigido ao tumor, para fazer com que as bolhas vibrem e separem as proteínas que envolvem os capilares, permitindo que o medicamento chegue ao tecido cerebral.
“É muito direcionado”, afirmou Mainprize. “Parece ser muito seguro. Não causa nenhum dano. E é passageiro. Após cerca de 12 horas, esse revestimento em torno dos vasos sanguíneos se regenera, e a barreira hematoencefálica permanece intacta”.
Outros nove pacientes com câncer de cérebro em breve serão tratados da mesma maneira. Em seguida, os pesquisadores publicarão os resultados completos do estudo.