É sempre oportuno revisitar o tema da importância da inovação como fundamento para a moldagem do futuro e garantia de sustentabilidade do sistema de saúde, tendo como pano de fundo um cenário no qual é crescente a demanda por qualidade de vida e cura de enfermidades e que se caracteriza também pelo aumento das doenças crônico-degenerativas decorrentes do envelhecimento da população.
O desenvolvimento da genômica, os avanços no uso médico das tecnologias da informação e sem fio, bem como o desenvolvimento de um número cada vez maior de aplicativos, mudará o conceito da medicina em um futuro próximo, alterando a relação entre médico e paciente e a atuação de toda a cadeia de saúde. É esperado que os pacientes tenham uma participação mais ativa, modificando também o papel dos prestadores de serviços, uma vez que deixarão de ir aos hospitais para realizar diagnósticos e recorrerão a essas instituições apenas para intervenções cirúrgicas. A estrutura de remuneração dos prestadores de serviço também se alterará, assim como os próprios cursos de medicina.
Mas não precisamos esperar este futuro próximo para usufruir do que as tecnologias já oferecem hoje. As cirurgias minimamente invasivas, videolaparoscopias, artroscopias, para citar alguns exemplos, já são realidade e devem ser estendidas à maioria da população (interiorização), por promoverem enormes benefícios econômicos, redução de eventos adversos e de estada hospitalar.
A conectividade e a telemedicina também devem ser ampliadas, pois proporcionarão grandes avanços em termos de precisão diagnóstica, redução de custos e eficácia no tratamento de doenças.
Muito se tem falado sobre a importância da sustentabilidade no setor da saúde, cujos custos serão o de maior peso no PIB da maioria dos países. Apenas a inovação poderá contribuir para que possamos enfrentar os desafios gerados pelas alterações demográficas e epidemiológicas e, ao mesmo tempo, garantir a sustentabilidade do sistema. No entanto, para que isso de fato ocorra, devemos nos ater ao uso racional da tecnologia, evitando a utilização excessiva de exames e analisando a possibilidade e viabilidade de desincorporar tecnologias que podem ter se tornado obsoletas.
Outro aspecto fundamental é compartilhar com o poder judiciário informações sobre o estágio de desenvolvimento das tecnologias na área da Saúde, bem como incrementar seu conhecimento sobre políticas públicas de saúde e a disponibilidade de recursos, para que a judicialização seja usada corretamente em defesa do cidadão.
A tecnologia e a inovação devem ser estimuladas, as políticas industriais devem fomentar sua promoção e, sobretudo, deve-se buscar uma maior aproximação entre universidades, institutos de fomento e de financiamento e indústria. Esse é o caminho para podermos, em conjunto, beneficiar toda a população.
* Carlos Alberto P. Goulart é presidente-executivo da ABIMED – Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde