Universidade de São Paulo (USP) decidiu que abrirá um curso de medicina em Bauru, no interior de São Paulo. Será o terceiro curso de medicina da USP, que já mantém o ensino da carreira na capital paulista e em Ribeirão Preto.
A criação do curso foi aprovada na tarde desta terça-feira (4) pelo Conselho Universitário. O novo curso será vinculado à Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) e, no primeiro vestibular, já em 2018, serão oferecidas 60 vagas em período integral.
De acordo com a assessoria de imprensa da Reitoria, 42 vagas serão oferecidas pela Fuvest e 18 vagas serão oferecidas pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), por meio da modalidade de cotas para estudantes oriundos de escola pública.
Na reunião do Conselho Universitário, a maioria dos conselheiros também aprovou a criação do curso de biotecnologia na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (Each), localizada no campus da Capital conhecido como USP Leste.
Parceria para administrar hospital
Ao defender a proposta, a professora Maria Aparecida Machado, diretora da FOB, explicou que ela foi a solução encontrada pela faculdade para resolver o problema da manutenção do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais, conhecido como Centrinho.
Atualmente, o Centrinho atende cerca de 70 mil pacientes por ano, tem mais de 600 servidores e é considerado modelo na região, segundo Maria Aparecida. Depois de obras que aumentaram a área do hospital, os custos passaram a ser considerados altos demais para a universidade.
Por isso, a faculdade conseguiu um acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, junto com a Secretaria Municipal de Saúde de Bauru, para que o Estado passe a arcar com os custos do hospital. De acordo com a professora, a contrapartida da USP seria utilizar esses recursos para a criação de um curso de medicina no município.
Nova metodologia e número de vagas
A previsão é que o número de calouros seja ampliado até chegar a 100 novas vagas em 2021. Segundo Maria Aparecida Machado, diretora da FOB, serão contratados dez professores, e as demais vagas devem, inicialmente, ser supridas com o apoio de professores tanto do curso de São Paulo quanto de Ribeirão Preto.
Antonio Carlos Hernandes, pró-reitor de Graduação, afirmou que o projeto pedagógico do novo curso é baseado em metodologias ativas, uma tendência dos novos cursos de medicina em diversos países, que leva em conta uma formação considerada mais contextualizada. “Isso faz com que o aluno seja parte central do processo de formação”, afirmou Hernandes.
Além disso, houve a defesa de uma modernização dos cursos de graduação da USP no campus de Bauru. Segundo um dos conselheiros, o campus é o único que, nas últimas décadas, não sofreu ampliação no número de cursos e vagas.
Decisão não foi unânime
Ao todo, 97 conselheiros votaram, sendo que 67 foram favoráveis e 18 contrários à criação do curso. Entre as opiniões contrárias, houve quem apontasse que as regras do Sistema Único de Saúde (SUS) talvez impeçam o novo hospital do Centrinho de ser financeiramente sustentável e manter a qualidade do atendimento.
Houve ainda quem defendesse que recursos devem ser investidos no Hospital Universitário (HU), que fica no campus da Cidade Universitária, e em políticas de permanência estudantil, em vez de ser usado na criação de mais um curso.
Antes de a votação ocorrer, o reitor da USP, Marco Antonio Zago, foi questionado em uma questão de ordem e concordou com o pedido de um dos conselheiros, que argumentava que o voto favorável à aprovação do novo curso está condicionado à efetivação do acordo com o governo estadual na gestão do centro médico.
Na USP Leste, reaproveitamento de vagas ociosas
Já o novo curso de biotecnologia na EACH recebeu poucas críticas na reunião do Conselho Universitário. De acordo com a vice-diretora da unidade, Neli Aparecida de Mello-Théry, o motivo para a criação do novo curso também surgiu da necessidade de resolver um problema. Nesse caso, a questão era o alto número de vagas ociosas do curso de licenciatura em ciências da natureza no período matutino.
Segundo dados apresentados pelo professor Alessandro Soares da Silva, que dá aulas na USP Leste, no último processo de transferência interna, quando estudantes de graduação da USP podem solicitar a transferência para outros cursos de graduação, se houver vagas, o curso de licenciatura de ciências da natureza acabou ficando com 63 vagas ociosas.
“É uma licenciatura para o ensino de ciências, voltada para o ensino fundamental, mas que não tem tido a adesão mesmo no Sisu”, afirmou Silva.
Hernandes, pró-reitor de Graduação, explicou que os professores do curso se reuniram para discutir o problema durante cerca de dois anos, e que a solução encontrada foi transferir as 60 vagas anuais da licenciatura em ciências da natureza do período matutino para um novo curso de biotecnologia. De acordo com ele, o novo curso exige uma mudança mínima nas estruturas do campus e não requer a contratação de mais servidores. Além disso, diz Hernandes, esse curso tem “caráter tecnológico, com maior empregabilidade para os alunos”.