Dedicando cada vez mais recursos para aquisição de novas tecnologias, hospitais de todo País vem melhorando seu desempenho clínico e assistencial
A Tecnologia da Informação permeia cada vez mais o cotidianos das instituições de saúde em todo o Brasil. O emprego de novos sistemas e dispositivos não trazem apenas benefícios para a operação dos hospitais ou aumentam sua produtividade, e consequentemente, o lucro, mas também melhoram a segurança do paciente e reduzem o risco de incidência de eventos adversos.
Todos esses benefícios não estão limitados apenas ao universo das unidades de saúde. Outra beneficiária dessa crescente dependência da TI na saúde é a própria indústria de software e dispositivos, que vem aumentando sua receita com o crescente investimento.
Um estudo divulgado pelo GVcia – Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EAESP) – em março desse ano, apontou que, em média, os investimentos em TI em Saúde por parte dos hospitais gira em torno de 7,6% do faturamento. Em 2011 essa porcentagem era de 7%.
Segundo dados de 2010 da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil ocupa a 8a posição no ranking global da saúde, em relação do PIB. No ano da divulgação do estudo pela OMS, os hospitais privados, em geral, aplicaram 4,9% de sua receita em TI e os públicos 4,1% de um PIB total de US$ 4,4 trilhões.
Seguindo essa realidade o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, anunciou em 2014, um pesado aporte de R$ 180 milhões que serão destinado à adoção de uma nova solução para gerenciar os dados dos pacientes hospitalares e ambulatoriais da entidade.
O hospital de excelência fechou uma parceria com a empresa americana Cerner Millennium, especializada em hospitais e sistemas de saúde, para integrar todas as informações do hospital e otimizar os processos que eliminam erros e desperdícios. Essa implementação, que teve início junto com o anúncio dos investimentos deverá ser concluída até o final de 2016. Com isso, todo o Storage do hospital será transferido do Morumbi para o bairro do Itaim, em São Paulo, liberando mais espaço físico na unidade Morumbi para a criação de uma nova ala para pacientes.
A Health-IT conversou com o diretor de tecnologia e informação do Hospital Israelita Albert Einstein, Ricardo Santoro, sobre este e outros assuntos.
Health-IT – A demanda por excelência tem impulsionado as organizações de saúde a investirem cada vez mais em soluções de TI. Como você avalia o atual cenário e o uso de TIC setor de saúde brasileiro?
Ricardo Santoro – Eu acredito que o uso de TI na área de saúde no Brasil vem aumentando rapidamente, porém ainda encontramos muita diferença em termos de investimento e adoção de tecnologia entre as organizações. Também é possível identificar uma indústria de TI madura focada no segmento de saúde no Brasil, já temos mais profissionais especializados neste segmento do que no passado, porém os gestores de saúde ainda não conseguem justificar os ganhos reais que podem ser obtidos através do uso mais intenso de tecnologia, isto acontece em parte porque o custo da tecnologia no Brasil é proporcionalmente mais caro do que no exterior ao passo que a mão-de-obra é mais barata. De qualquer maneira eu acredito que será inevitável intensificar o uso de TI no segmento de saúde.
Health-IT – De que forma o HIAE vem trabalhando no sentido de trazer melhorar os processos e decisão clínica através da tecnologia? Ainda nesse sentido, como é trabalhada a questão da segurança?
Ricardo Santoro – O Einstein tem investido muito na modernização de sua infraestrutura e arquitetura de TI, particularmente em soluções que irão melhorar a segurança de nossos pacientes e ajudar no suporte a decisão dos profissionais de saúde. O novo sistema de prontuário eletrônico consegue cruzar várias informações dos pacientes e enviar alertas e sugestões para os profissionais de saúde, a decisão será sempre do profissional, mas o sistema consegue avisar para doses erradas de medicamentos, pedidos de exames duplicados, alergias, interações indevidas entre medicamentos, resultados de exames fora dos intervalos de segurança etc. não só indicar como sugerir a adoção de protocolos de tratamento e acompanhar a execução das atividades nos horários e prazos necessários.
Health-IT – Como é a adesão do corpo clínico frente à tais tecnologias?
Ricardo Santoro – A adesão pela tecnologia na área de saúde é sempre algo complicado, por um lado os profissionais deste segmento possuem um interesse natural pelo novo, pela inovação tecnológica, por outro lado o uso de tecnologia sempre será mais demorado e complexo do que o papel. Este é o ponto da discussão, quanto tempo adicional o profissional vai precisar dedicar para usar a tecnologia e o que ele e seu paciente ganham e perdem com isso. Nós estamos investindo muito para explicar para nossos profissionais de saúde os benefícios do uso destas novas tecnologias de maneira que eles possam entender que vale a pena ter um pouco mais de trabalho para inserir as informações no sistema.
Health-IT – Como você o papel da tecnologia na redução de custos? É possível compartilhar exemplos de como isso acontece no hospital?
Ricardo Santoro – Voltamos à questão de provar o retorno de investimento da tecnologia. Não tenho dúvida que existem grandes processos nas organizações de saúde que permitem provar diretamente que a tecnologia pode aportar redução de custos, fluxo de paciente, logística de medicamentos, portais de autl-serviço, automação de processos diversos etc. Em outros casos a justificativa é pela segurança do processo e consequentemente do paciente. Neste último caso, se as organizações conseguirem mapear claramente o custo de eventos adversos, também vai conseguir provar que o uso de tecnologia para melhorar a segurança do paciente pode ter um retorno grande ao ajudar evitar estes eventos adversos
HM – Como você avalia o potencial do mercado brasileiro/latino americano para tecnologia de informação em HealthCare?
Ricardo Santoro – Acho o potencial do mercado muito grande, mas a médio e longo prazo. Também acho que os fornecedores irão trabalhar para rever o custo total da tecnologia para este setor. O setor de saúde não consegue suportar os mesmos níveis de preço dos setores de telecomunicações e financeiros por exemplo.
Health-IT – Pensando em tecnologias emergentes e nas “megatendências” em e-health, o que você citaria como a mais promissora em médio/longo prazos para as instituições de saúde do País?
Ricardo Santoro – Eu acho que as grandes tendências estão em soluções de suporte a decisão, IoT e Big Data focado em gestão de saúde da população.