A transformação digital tem sido abordada por gestores e empresas dos mais variados segmentos. Porém, mais do que adotar tecnologias inovadoras, é preciso, antes de tudo, avaliar a infraestrutura e outros aspectos tecnológicos para garantir a evolução da operação e o aprimoramento dos processos. No setor de saúde, a evolução tecnológica tem potencial para garantir mais segurança ao paciente, tanto em relação aos dados como na redução de erros médicos, e contribui para a diminuição do tempo de internação e aumento da receita dos hospitais. Para alcançar esses resultados são necessárias quatro etapas que abordarei abaixo.
A primeira delas é a infraestrutura, que precisa ser única e capaz de suportar todos os sistemas que virão depois. Ela é a base para a transformação digital, pois garante a disponibilidade e o funcionamento de todos sistemas e da operação. No entanto, atualmente, a maior parte das instituições está construindo infraestruturas para demandas específicas, sem visão de longo prazo. Em geral, unidades menores conseguem se dedicar mais a essa etapa, enquanto organizações maiores, em meio a fusões e aquisições, não têm conseguido dar a devida atenção a esta fase, muitas vezes subestimada.
Com o alicerce ajustado, as empresas precisam se dedicar à interoperabilidade dos sistemas – desde o software de gestão até os equipamentos de imagem e diagnóstico. Todos eles precisam se falar. Uma das formas de garantir isso é adquirir soluções do mesmo fabricante ou com protocolos que falam entre si. É muito importante que as instituições mapeiem seus processos de negócio para identificar o que precisa estar integrado e em que nível, pois só a partir desse levantamento será possível construir camadas intermediárias para garantir as integrações e automações necessárias.
Outro passo para a transformação digital é a digitalização em si. Hoje, há muita informação legada em papel, tanto administrativa quanto de pacientes. Além disso, as instituições precisam investir na certificação digital de acordo com as normas do ICP Brasil para garantir a autenticidade do legado e dos novos documentos – eliminando assim a necessidade de imprimir, carimbar e assinar. Esse processo está ganhando maturidade agora e demanda infraestrutura de armazenamento, tecnologias de segurança e uma evolução de toda a cadeia, inclusive dos planos de saúde, que terão que aceitar as informações fornecidas pelas clínicas e hospitais em formato digital.
É chegada então a hora de adotar tecnologias como analytics, BI e sistemas cognitivos, como o Watson, para apoiar a consolidação de informações clínicas e oferecer insights que contribuirão para o aumento da segurança do paciente e melhoria da tomada de decisão dos médicos. No entanto, essas ferramentas só poderão ser implementadas após as etapas anteriores – fundamentais para garantir a confiabilidade e a disponibilidade das informações e possibilitar uma operação com mais inteligência.
Seguir essas etapas ajudará as instituições a caminharem em direção ao estágio mais avançado (sete) do HIMSS/EMRAM – modelo que define requisitos mínimos relacionados à maturidade de adoção de tecnologia pelos hospitais. Para se ter uma ideia do momento atual do mercado nacional, até o momento só há um hospital que opera totalmente sem papel – nível sete. Porém, esse cenário mudará radicalmente na próxima década. O Governo está adotando um programa de digitalização das unidades básicas de saúde, o que deve acelerar a legislação e incentivar a adoção de tecnologia nas instituições privadas.
Porém, é importante lembrar que, além de todas essas etapas tecnológicas, é necessário investir no treinamento de pessoas para o uso das novas ferramentas e processos. Mais do que isso, para que a mudança seja efetiva, as instituições precisam ir contra uma das maiores causas de fracasso dos projetos de transformação digital e envolver, além da área de TI, o corpo clínico e gestores de todas as áreas no caminho da transformação digital. Só assim será possível entender os processos e redesenhá-los da melhor maneira possível, permitindo a adoção de tecnologias inovadoras como IoT e blockchain, que contribuirão para operações ainda melhores, mais automatizadas e seguras.
Carlos Reis é consultor especializado em Saúde da Logicalis no Brasil