Apontadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como um “risco substancial à segurança do paciente”, as possíveis contaminações por bactérias têm exigido cuidados constantes com desinfecção de ambientes, uso correto de paramentação estéril e conscientização de profissionais em instituições de saúde do País.
De acordo com o Diretor de Relações Públicas da Sociedade Brasileira de Controle de Contaminação (SBCC), José Augusto Sodré Senatore, os cuidados para evitar a contaminação hospitalar ainda não são satisfatórios. Para o diretor, a falta de infraestrutura adequada e a conscientização dos profissionais e gestores sobre o problema são uma das causas para a falta de eficiência no combate ao problema. “Ainda existe a cultura de que basta o médico lavar as mãos de maneira adequada, porém existem diversos outros requisitos para que os pacientes estejam realmente protegidos”, afirma. Ainda segundo Senatore, o Brasil conta com importantes ferramentas e técnicas, mas falta investimento das instituições, exceto em alguns poucos e grandes hospitais.
Segundo o médico do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Albert Einstein, Fernando Gatti de Menezes, a prevenção à contaminação hospitalar na instituição é feita por meio de um conjunto de ações, como a limpeza dos setores seguindo o padrão da Anvisa, uso de tecnologia e conscientização dos colaboradores. “O uso de materiais estéreis como avental, luvas máscara e óculos, além dos campos colocados no paciente é fundamental para evitar a contaminação durante a realização de processos invasivos”, disse.
Conforme afirma Menezes, além da proteção aos pacientes, é necessário garantir a segurança também dos profissionais para evitar acidentes ocupacionais e disseminação de patógenos multirresistentes dentro do ambiente hospitalar.
O médico afirma que para que promover a conscientização de seus colaboradores para o problema, o hospital realiza estratégias como disponibilizar a informação sobre o tema, treinamentos frequentes, realização de campanhas institucionais, além de constantes avaliações da estrutura e processos das diversas áreas do hospital. “As avaliações nos permitem identificar os pontos de melhoria, por meio do feedback dos setores envolvidos”, disse.
Outro auxílio citado por Menezes na prevenção da contaminação hospitalar está o uso de tecnologia. No caso da instituição, esta ferramenta é utilizada por meio do laboratório de microbiologia, que possui equipamentos automatizados para o diagnóstico precoce de diversos agentes infecciosos e a possibilidade do uso de biologia molecular. “O laboratório de microbiologia é um grande parceiro no controle e prevenção da disseminação de patógenes multirresistentes, pois facilita a ação mais ágil do Serviço de Controle de Infecção”, disse.
No Hospital Márcio Cunha (HMC), em Minas Gerais, são realizados encontros mensais sobre segurança assistencial a fim de reforçar os conceitos de comportamento seguro e atenção sobre os processos assistenciais na atividade diária. “São feitas visitas e reuniões para discussão dos casos de infecção hospitalar/segurança do paciente, orientações de boas práticas e aplicação de bundles nas áreas críticas”, explica Adir de Paula Lima, Oficial do Controle de Infecção Hospitalar.
A campanha anual de conscientização para a higienização das mãos é outra ação da equipe do controle de infecção hospitalar, com o intuito de lembrar aos colaboradores, pacientes e acompanhantes da importância de lavar as mãos. “Diversas peças gráficas foram fixadas próximas aos lavatórios das áreas de assistência, trazendo dicas sobre a maneira correta de higienizar as mãos, deixando-as limpas e livres de microrganismos transmissores de doenças. Uma intervenção artística também passou pelas unidades do hospital, distribuindo adesivos, panfletos explicativos e chamando a atenção do público. Realização de treinamentos para todos os profissionais focados na segurança das ações de prevenção de transmissão da infecção.”
Com uma baixa taxa de infecção hospitalar geral, de 2,90% no ano de 2013 e 2,33% no ano de 2014, o HMC segue as recomendações internacionais ao buscar mensurar indicadores de infecção focados nos pacientes de maior risco (como os internados nas UTIs). “A instituição apresenta dados comparáveis aos valores de referência da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo (SES/SP), que reúne dados de 350 hospitais com UTI Adulto e 138 hospitais com UTI Neonatal e Pediátrica.”
Pesquisas
Segundo o diretor da SBCC, a entidade mantém estudos nos mais diversos segmentos do controle de contaminação, inclusive no que diz respeito aos métodos aplicados na Europa e Estados Unidos. “Atualmente buscamos parcerias sólidas com formadores de opinião no segmento e mantemos internamente um grupo de trabalho para a discussão de normas, recomendações normativas e boas práticas em ambientes hospitalares”, disse.
Um dos projetos da SBCC, a Sala Limpa Itinerante, busca demonstrar o uso de produtos que atendem às boas práticas de produção neste tipo de ambiente. Nos últimos dois anos, o projeto contou com 13 parcerias, essas empresas produzem e comercializam diversos produtos para a aplicação em áreas limpas e controladas. “Pela primeira vez, a sala contou com um sistema complexo de ar condicionado, com unidade de tratamento de ar e sistema de controle e automação capazes de simular diversas situações de uso e operação do ambiente”, afirmou o representante da sociedade.
Inovação
Em 2013, o HMC deu um importante salto para a segurança da assistência. A Central de Material e Esterilização (CME), responsável pela aquisição, preparo, esterilização e distribuição de artigos e materiais cirúrgicos utilizados em diversas áreas no hospital, consolidou o processo de rastreabilidade dos artigos esterilizados.
A ampliação do sistema de monitoramento dos processos de esterilização, desenvolvido com a participação da equipe de Tecnologia da Informação, alcança, até mesmo, o cliente final: pacientes que utilizam os pacotes e kits de instrumentais.
Com a implementação da rastreabilidade é possível identificar todos os instrumentais destinados a um paciente e checar registros de seu processamento em CME. Ao realizar a marcação de procedimentos no centro cirúrgico, o sistema cria, automaticamente, um pedido de materiais por IH (identificação hospitalar para cada paciente). A CME gera os pedidos para atendimento, com dados do paciente, código e nome do procedimento, cirurgião responsável, sala de cirurgia, horário e materiais necessários para cirurgia. Os kits de materiais esterilizados solicitados pela sala de cirurgia são lacrados e identificados com código de barras, informando o código do material e o lote/validade da esterilização.
Ao término da cirurgia, o carro de transporte de material estéril retorna ao arsenal da CME devidamente identificado. Caso algum material não seja utilizado no procedimento, é realizado o estorno do item ao estoque da CME. Já a devolução do material contaminado é realizada no expurgo da CME.