A qualidade é uma característica básica para que sistemas e empresas tornem-se competitivas no segmento de saúde. No entanto, investir em sistemas com interfaces amigáveis, ferramentas web e aplicações flexíveis para a demanda de cada cliente não bastam. É necessário também, mostrar que estes sistemas atendem uma série de protocolos que garantem, tanto a segurança da informação quanto a segurança do paciente e todos os processos clínicos envolvidos no cuidado.
Uma ferramenta muito comum para demonstrar ao mercado que esses sistemas atendem aos protocolos de uma determinada área são as certificações emitidas por entidades como a Sociedade Brasileira de Informática em Saúde, com a certificação Sbis-CFM, por exemplo.
Sistemas de Registro Eletrônico de Saúde (S-RES) como o Tasy, da Philips, WPD da Agfa, MV PEP da MV, TrakCare, da Intersystems, BHOSP da Benner e TOTVS Hospitalar, são alguns dos 46 sistemas atualmente certificados pela Sbis no Brasil com a certificação Sbis-CFM.
O processo de certificação SBIS-CFM avalia o conjunto completo de subsistemas e componentes que fazem parte do S-RES, que devem ser configurados para atender aos requisitos especificados no anual de certificação para sistemas de registro eletrônico em saúde. O S-RES é caracterizado como um sistema que capture, armazene, apresente, transmita ou imprima informação identificada em saúde.
De acordo com informações da Sbis, inicialmente, o processo de certificação SBIS-CFM está disponível somente para algumas categorias S-RES, consideradas mais genéricas ou básicas. Em um futuro próximo, ainda segundo a entidade, e considerando a demanda, essas categorias poderão ser ampliadas, e em alguns casos, até segmentadas ou especializadas.
A adoção por parte da indústria de TI em saúde pela certificação SBIS-CFM não é obrigatória. Nenhuma das duas entidades exigem que qualquer sistema seja certificado, tornando o processo totalmente voluntário por parte do mercado. Atualmente podem ser submetidos à certificação sistemas enquadrados em duas categorias, assistencial e básica.
Na primeira, enquadram-se softwares voltados à assistência à saúde para pacientes, utilizados em consultórios, clínicas, hospitais, pronto atendimento e unidades básicas de saúde. Também estão submetidos à essa categoria sistemas integrados de informação em saúde, sendo que o escopo da avaliação será limitado ao processo assistencial.
Já a categoria básica é destinada para ferramentas voltadas a determinados segmentos ou partes do processo de atenção à saúde – não caracterizados como processos ambulatoriais ou hospitalares completos – como por exemplo sistemas específicos voltados à prescrição eletrônica, imunização, atenção home care, serviços de SADT (diagnóstico e terapias), telemedicina, saúde ocupacional e repositórios de dados demográficos e clínicos.
De acordo com o professor adjunto da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e membro da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), Eduardo Almeida, a certificação é uma forma de atestar a maturidade da empresa que desenvolveu o software. “Quando há licitação de uma empresa, por exemplo, certamente quem for certificado levará vantagem. Isso atesta que a empresa atende determinadas praticas e engenharia de software, protocolos de segurança etc.”
O professor também defende a certificação de sistemas pode ser consideradas um diferencial estratégico no mercado que beneficia não apenas a organização, mas no casos da saúde, toda a sociedade. “É importante que essa iniciativa entre na cultura da empresa, pois irá mudar processos e cultura, atingido todas as camadas de gestão, do CEO até ao desenvolvedor.”
Para o CEO da Folks, empresa de consultoria, e membro da Sbis, Claudio Giuliano, a demanda por sistemas certificados que aderem às regras vem crescendo. O custo da certificação, por exemplo, não é considerado uma barreira, o fato de ser auditado também não é uma limitação. O custo está na dedicação de tempo para adequar o sistema as exigências da certificação. Empresas de menor porte podem ter dificuldades em evoluir os softwares, mas certamente amadurecerão e se diferenciarão das demais.
Ainda de acordo com Giuliano, ao realizar esse processo, o mercado é contemplado com um software mais seguro, protegendo melhor a informação. “Esse sempre foi o grande objetivo da Sbis, e os hospitais vêm aderindo a isso. Outro ponto é a adoção de um grupo de funcionalidades exigido, privilegiando também a segurança do paciente, dentro do caráter assistencial. A norma da HIMSS olha muito para segurança do paciente e qualidade assistencial, ela se aprofunda nisso, e o sistema que se aprofundar muito nesses conceitos certamente irá ganhar mercado.”
As normas consideradas pela certificação da Sbis estao em constante evolução e ainda podem avançar em outros campos, como na emição de receituários medicos, garantindo melhores perscrições e reduzindo eventos adversos decorrentes de erros de interação medicamentosa, por exemplo.
Na prática
Fabício Avini, CEO da Salux, empresa brasileira de softwares para o setor de saúde e que possui a certificação Sbis-CFM, avalia que, atualmente, esse mercado de TI em saúde pode ser dividido em duas partes: empresas que possuem sistemas certificados, rigorosamente testados e com segurança comprovada, e as que não organizações que possuem, com sistemas sujeitos à falhas, ataques e fraudes, ausentes de assinaturas digitais, por exemplo, que garantem a integridade das informações.
“O processo e certificação é extremamente rigoroso. Ele impede que o desenvolvimento de sistemas vulneráveis comprometam a integridade das informações, melhorando a segurança dos pacientes. A exigência de certificação digital, criptografia de dados e controle de Log, por exemplo, são pontos fortes defendidos para a segurança de dados e exigidos pela certificação.”, completa o executivo da Salux.
Avini conta que, por ser um processo rigoroso, a Salux contou com a ajuda de uma consultoria para identificar e atualizar seu sistema de acordo com as exigências da certificação além da assessoria de profissionais médicos para tratar sobre questões voltadas à segurança do paciente. “Nos preocupamos muito em tornar o sistema seguro, em relação à tecnologia, mas também amigável e intuitivo para o profissional de saúde. Para isso seguimos o raciocínio médico na hora de programar. Mesmo não sendo um dos requisitos exigidos nos preocupamos em desenvolver um fluxo claro entre os processos administrativos e clínicos para simplificar a comunicação entre os dois setores.”
Todo esse processo exigiu da Salux um investimento considerável. Além da adequação aos termos de compliance e aderência às exigências da Sbis, a empresa aproveitou o momento para transformar seu sistemas – antes com boa parte voltada à área administrativa – em um S_RES, que tornou a ferramenta um dos sistemas de maior adesão por parte do corpo clínico entre seus clientes, por possuir uma interface mais amigável e priorisando aspectos voltados à segurança do paciente.
Em constante atualização, a Salux vem realizando intercâmbios em busca de soluções e tecnologias que possam melhorar o desempenho de seu sistema, conta Avini. “Todos os anos vamos à HIMSS para conhecer o que há de novo nesse mercado. Atualmente, temos em andamento um processo de certificação nível 6 da HIMSS em um de nossos hospitais parceiros”.