Atuando como cirurgião do aparelho digestivo e coloproctologista há 20 anos, Sidney Klajner iniciou, em 2009, o tratamento de hemorroidas através da técnica pioneira “Desarterialização Hemorroidária Transanal” no Brasil. Com isso foi possível a difusão do tratamento por todo o país, ensinando grande número de cirurgiões em diversas cidades. Coautor de cinco livros, Klajner exerce a vice-presidência do Hospital Israelita Albert Einstein desde 2010. Com a saída de Claudio Lottenberg da presidência do hospital, no final do ano passado, Klajner foi eleito o novo presidente da instituição. À Healthcare Management, Sidney Klajner lembra o início de sua história no Einstein, o legado deixado por seu antecessor e como faz para conciliar a vida de médico e gestor.
1- Quando começou a sua história no Hospital Albert Einstein?
O início de minha atividade no Einstein ocorreu ao final de 1992, como médico, cirurgião do aparelho digestivo, participando como auxiliar em cirurgias e em visitas de algumas equipes cirúrgicas do hospital. Em 1998, participando de concurso para cirurgião plantonista da Unidade de Primeiro Atendimento, fui contratado no Pronto Atendimento da recém-inaugurada Unidade Alphaville, a primeira das unidades externas, e do Morumbi. Neste momento, como cirurgião do corpo clínico aberto, trazendo meus pacientes para procedimentos no hospital, e como médico contratado das Unidades, passei a frequentar um número crescente de Comissões Voluntárias do hospital (Comissão de Prontuários, Comissão de Ética Médica, Comissão de Novos Procedimentos, Reuniões de Tecnologia, Fórum de Gastroenterologia etc). A oportunidade de trabalhar em duas unidades diferentes me deu a oportunidade da padronização, da busca de melhoria de qualidade em ambas. Em meados de 2005, em conversas com o presidente Lottenberg, a quem conhecia desde minha adolescência, frequentando o Clube A Hebraica, do qual Claudio já era um diretor, surgiu a oportunidade de fazer mais pelo hospital tanto na prática médica, como no âmbito comunitário. O convite surgiu ao final de 2007, pelo próprio Claudio, para início do mandato 2007-2010, para fazer parte do quadro de Diretores Vogais e, a partir de então, atuei como Membro do Comitê de Qualidade e Assistência. Já no mandato de 2010-1016, passei a ocupar o posto de vice-presidente, como Chairman do Comitê de Qualidade e Assistência e Prática Médica, além de fazer parte de outros comitês da Diretoria.
2- Você almejava ocupar o cargo atual?
Sempre almejei de alguma forma contribuir para o crescimento e posição de liderança do Einstein, quer por sua representatividade comunitária, como membro da comunidade judaica; quer pela minha atuação como médico, com objetivo de trabalhar nas melhores instituições do país, por isso minha dedicação e participação de forma voluntária há quase 20 anos. O fato de ao longo do tempo assumir papéis cada vez mais estratégicos na governança do Einstein me despertou a vontade de ocupar o atual cargo. Para isso, me dediquei a um verdadeiro processo de preparação, aumentando minha participação nos diversos comitês, frequentando cursos de assuntos não relacionados somente à saúde e liderança, mas também passei a andar muito próximo ao Lottenberg, que muito me incentivou.
3- Na sua opinião, qual o maior exemplo de seu antecessor quando se trata de liderança e gestão?
O Claudio tem o grande mérito de ter criado o nosso Sistema de Governança, profissionalizado, sem perder a liderança médica, da forma como ele é hoje. Mas os grandes exemplos que recebi são vários e, portanto, difícil de eleger o maior. Entre eles, como o grande líder que é, Claudio sempre colocou em primeiro lugar os valores institucionais. Formado por preceitos judaicos desde a sua fundação, preceitos de filantropia, justiça social, excelência de assistência médica e geração do conhecimento. São estes os valores pétreos que fizeram com que chegássemos onde estamos. Ainda no papel de líder, Claudio acredita que é possível os sonhos que poucos acreditam e isso contagia a todos. Por isso, projetos arrojados foram desenvolvidos e tiveram resultados que nos orgulham e, ao mesmo tempo, nos ensinam. Como gestor, Claudio sempre motiva demais quem está ao seu redor, com estímulo e cobrança. O conjunto de atributos fez com que liderasse o Einstein de forma impecável nos últimos 15 anos.
4- Como conciliar a vida de médico e gestor?
Nossos cargos na diretoria do hospital, tanto de presidentes e vice-presidentes, são voluntários, não remunerados. Para que consiga exercer as duas atividades, acordo muito cedo e inicio minhas cirurgias às 6h em ponto, todos os dias. Para isso, conto com o auxílio de uma equipe de quatro cirurgiões, além de um grupo de anestesistas. Permaneço na Presidência entre 8:30 e 14:30 todos os dias e então faço minha tarde de consultório até as 20h. Geralmente, após o consultório, acabam restando alguns e-mails para responder, eventos a comparecer etc. Nos finais de semana, aproveito para resolver aquilo que a semana não permitiu, bem como me encontrar com alguns gestores e colegas da diretoria.
5- De que forma a sua formação na medicina colabora para a gestão da instituição?
Em primeiro lugar, acredito que o conhecimento como gestor somente contribui para a nossa prática como médicos. Inclusive, neste sentido, nossa Faculdade de Medicina tem como parte do modelo pedagógico o ensino de gestão. Por outro lado, não há dúvidas que em saúde, o melhor gestor é o médico e aquele que atua como tal. Mas, conciliar, de fato, não é tão fácil, mas obrigatório. O fato de viver o hospital no seu dia a dia, estar com pacientes das mais variadas patologias, atuar em centro cirúrgico e encontrar colegas me permite uma melhor compreensão daquilo que representa qualidade, anseios por parte dos pacientes, queixas, prática de enfermagem, ambientação, estrutura e serviços em geral. Uma formação médica, somada ao conhecimento de gestão, permite diagnosticar e direcionar melhor o planejamento estratégico, que é de uma instituição, antes de tudo, de saúde.
6- Em sua avaliação, quais são os fatores que identificam o Albert Einstein como uma organização com liderança setorial?
O hospital constrói liderança na medida em que atua de forma transparente, buscando sempre oportunidades de melhoria de seu atendimento, dos desfechos de tratamento de seus pacientes, na inovação de processos, na aquisição tecnológica de forma equilibrada, levando-se em conta aquilo que agrega valor. Existe, culturalmente, uma inquietação constante de toda a diretoria em achar que nunca está bom o suficiente, nos motivando a buscar sempre algo melhor. Ao mesmo tempo, possuímos em nosso quadro de colaboradores e corpo clínico os melhores profissionais do mercado, com padrões éticos e com valores identificados aos da instituição. Além disso, temos a preocupação da formação de capital humano, através de grandes investimento em Ensino, que hoje conta com mais de 20 mil alunos, em cinco unidades apenas em São Paulo, além de eventos científicos que reúne grandes profissionais do Brasil e exterior.
7- Quais as principais habilidades que o hospital exige de seus líderes?
Muito mais que habilidades, o Einstein exige de seus líderes, e de certa forma de todos os nossos colaboradores, o respeito e a identificação com nossos valores. Por maior que seja o currículo, extensão da formação e habilidades, nunca está completo sem que esteja presente em toda a atividade o respeito e a própria disseminação entre os liderados dos preceitos e valores herdados de nossos fundadores.
8- Quais serão seus principais desafios frente ao Albert Einstein?
Devemos ampliar a utilização da Telemedicina, para que possa ser utilizada não como fim, mas como processo facilitador de rompimento da barreira logística entre o Einstein e seus pacientes, clientes internos e externos, bem como profissionais de saúde de todo o país. Temos também o desafio relacionado ao corpo clínico, que é fundamental para conseguirmos o sucesso almejado relacionado à perenidade, eficiência, qualidade e segurança. Para isso temos já em andamento o programa dos Grupos Médicos Assistenciais, os GMAs, que passam a ter o poder da liderança da prática assistencial exercida por grupos multidisciplinares, formado por médicos de diferentes especialidades e equipe multiprofissional, reunidos com base em doenças ou condições de saúde (Síndrome Metabólica, Cuidados Perioperatórios, Doenças do Sono etc). A organização em torno dos GMAs tem permitido maior engajamento dos colegas, proposição de linhas de serviço, padronização de condutas, criação de eventos científicos, entre outros. Também será importante a ampliação do formato e o engajamento de novos médicos, além da criação de novos grupos. A expansão das atividades de ensino já acontece com a criação da Faculdade de Medicina que, somada a da Enfermagem, já existente há 20 anos, à Residência Médica, aos cursos de pós-graduação latu sensu e stricto sensu, e cursos técnicos permitem a formação de nossos profissionais em um molde bem mais amplo que a formação técnica, incluindo perfis de liderança para mudanças, mentalidades criativas, capacidade de trabalho em equipe e amplo conhecimento acerca das questões que envolvem a saúde como um todo, e não apenas daquilo que envolve a relação de um profissional com seu paciente.
9- Quais serão suas ações a fim de manter a sustentabilidade da instituição?
A constante busca pela melhoria da eficiência, a eliminação do desperdício e dos incentivos inadequados. A criação da Diretoria de Auditoria e Compliance foi importante no sentido de estabelecer a transparência da atividade profissional, contribuindo para este fim. A transparência permitirá uma relação melhor com as operadoras de saúde, evidenciando desfechos, taxas de complicação, eficiência, enfim, aquilo que traz valor à assistência de cada paciente.
10- Quais serão os avanços que a filantropia ganhará em sua gestão?
Daremos continuidade a um plano robusto vindo de gestões anteriores, amadurecido ao longo do tempo, graças à atividade de todos aqueles que me antecederam, contemplando de forma inequívoca aquilo que sempre esteve em nossa missão, desde a fundação. Vale ressaltar que nossa atividade filantrópica oferece assistência a mais de 1 milhão de pessoas somente na cidade de São Paulo, o que nos permite a ocupar posição de liderança, inclusive participar de programas de melhoria da saúde populacional, como o Programa de Segurança do Paciente e o Projeto do Parto Adequado, ambos em conjunto com o Ministério da Saúde e, o último, juntamente com a ANS e o Institute for Healthcare Improvement (IHI), dos Estados Unidos.
Matéria publicada na 46ª HealthCare Management. Clique e confira a edição na íntegra.