“É como se disséssemos ao paciente que estaremos ao lado dele, do início ao fim”. Foi exatamente dessa forma que a médica do Hospital São Rafael (HSR), Fernanda Tourinho, definiu o trabalho de cuidados paliativos, desenvolvido pela unidade de saúde, para pacientes internados com doenças incuráveis ou em terminalidade, a fase mais avançada de uma doença. O serviço está alinhado com a humanização do atendimento e visa proporcionar o alívio da dor, melhorar a qualidade de vida e garantir uma morte digna e com o menor sofrimento possível.
O serviço de cuidados paliativos começou a ser realizado, de maneira sistematizada, no início do ano passado e é oferecido de forma multidisciplinar, proporcionando cuidado médico, psicológico, de enfermagem e assistente social, além de disponibilizar assistência espiritual. Esses profissionais entram em ação no momento em que recebem a sinalização do corpo clínico sobre a existência de um paciente que necessita desse tipo de cuidado, passando a oferecer uma assistência individualizada, que abrange também os familiares.
Doenças ameaçadoras à vida, ativas e progressivas, com prognóstico de impossibilidade de cura, são os alvos da iniciativa. Dentre elas, o câncer é maioria, dado que vai de acordo com a realidade mundial, segundo informações da Organização das Nações Unidas (ONU) que aponta que um terço das pessoas que precisam de cuidados paliativos sofre da doença. Pessoas com problema renal avançado, doenças pulmonares, sequelas graves em decorrência do AVC e demências também podem necessitar desse tipo de assistência.
Reduzir o Sofrimento
Segundo Fernanda Tourinho, por ser um tabu, a morte é muitas vezes tratada pelas pessoas como um insucesso na medicina, mas o fato é que até 80% dos pacientes morrem em decorrência de doenças crônicas e suas complicações e, é justamente por isso, que as instituições devem oferecer condições que possam aliviar o sofrimento desses pacientes, possibilitando um fim de vida digno.
O objetivo do cuidado paliativo não é, necessariamente, substituir ou parar o tratamento convencional, mas melhorar a qualidade de vida do paciente e fazer com que ele esteja mais bem preparado para lidar com os processos inerentes à sua condição física, atuando em conjunto com a terapêutica direcionada ao tratamento da doença. De acordo com o médico João Gabriel Ramos, também integrante da equipe, a comunicação com o paciente é a palavra-chave. “Tudo é conversado e as decisões são tomadas de forma compartilhada, de maneira que tanto o doente, quanto a família, tenham ciência sobre todo o processo e estejam no centro de nossas atenções”, pontuou.
Muito além de um serviço, propriamente, os cuidados paliativos constituem uma filosofia de cuidado humanizado e um olhar atento às necessidades do paciente e seus familiares, que vão desde a aplicação de medicamentos que diminuem a dor; atendimento com psicólogo para que o paciente compreenda melhor a sua situação, assistência social, para dar suporte e orientação aos familiares; amparo religioso, por meio do capelão do São Rafael, Padre Bento Viana, ou algum outro líder religioso, caso haja a manifestação do paciente nesse sentido. Os cuidados incluem ainda a possibilidade de flexibilização de horários de visitação, entrada de alimentação ou a satisfação de pequenos desejos dos pacientes, por exemplo. Atitudes simples, à primeira vista, mas que fazem a diferença para o paciente e sua família num momento delicado.