Segurança do Paciente: Componente Crítico da Qualidade?
por Sandra Cristine da Silva*
Nos serviços de saúde, a busca pela qualidade constitui-se preocupação incessante dos profissionais que neles atuam, frente à necessidade contínua de mudanças nos padrões de assistência, decorrentes dos avanços no conhecimento técnico-científico impulsionado pelas novas tecnologias. Assim, prestar assistência à saúde que garanta o máximo de qualidade e mínimo de riscos para o paciente e equipe sob um baixo custo, tem sido o desafio das últimas décadas.
A segurança é uma das dimensões da qualidade dos serviços de saúde. Não podemos falar de qualidade sem abordar as questões de segurança e vice-versa, são temas indissociáveis. O importante é ressaltar que o desenvolvimento da área da segurança do paciente permitiu um novo olhar sobre o cuidado à saúde, na medida em que foi influenciado por outros campos do conhecimento que se voltaram para estudar o erro humano, os acidentes e sua prevenção.
A ausência de danos desnecessários, real ou potencial no decorrer da assistência ao paciente, traduzida pela busca da melhoria continua e diminuição dos possíveis riscos e danos, está irremediavelmente aumentando a qualidade dos serviços de saúde. Esta condição é uma meta a ser perseguida por todos.
Para os profissionais da saúde, a segurança do paciente não é um fenômeno novo, compõe a própria essência do trabalho, transparecendo em fazeres e atitudes comuns do cotidiano, seja por meio da lavagem de mãos, do processo de educação do paciente/familiar, da adequada iluminação e ventilação do ambiente físico, dentre outras, que muitas vezes, sequer são percebidas como medidas pró-ativas de segurança. O próprio processo de trabalho desenvolvido nas áreas, muitas vezes, necessita ser reavaliado constantemente, pois pode constituir em um facilitador de potenciais erros. Rever, analisar e propor novas estratégias para atuação da equipe na prestação do cuidado ao paciente pode resultar em maior segurança para todos.
Simplesmente não falar sobre os erros, não evitará que aconteçam, assim como não investigá-los tampouco trará subsídios para a sua prevenção. Resta aos profissionais envolvidos na assistência, o desafio de enfrentar problema tão indesejável.
Ressalta-se que na maioria das vezes, o evento adverso acontece por sistemas que foram mal desenhados, produzindo assim, resultandos ruins. Embora o principal objetivo da segurança do paciente seja a implementação de prátricas seguras, nota-se ainda que, para o atingimento de um alto nível de qualidade e segurança, faz-se necessário o maior envolvimento do paciente/familiar no seu cuidado e a transparência das instituições com essas questões. Só assim, conseguiremos proporcionar uma assistência segura e livre de riscos para todos os envolvidos no cuidado.
Atualmente o movimento para a Segurança do paciente substitui a culpa e a vergonha, por uma nova abordagem, a de repensar os processos assistênciais, com o intuito de antecipar a ocorrência dos eventos antes que causem qualquer tipo de danos aos pacientes.
Eventos Adversos no decorrer da assistência, longe de serem vistas como normais e aceitáveis, devem ser considerados como eventos excepcionais, raros, desvios que não devem ser tolerados. Independente das consequências delas resultantes, não se pode admitir que infusões venosas corram fora do tempo prescrito, que medicações deixem de ser administradas, que sondas sejam retiradas acidentalmente, entre tantas outras possibilidades de eventos que poderiam ser vistas como menores.
Simplesmente negar a existência dos eventos adversos na prática assistêncial pouca contribuição trará para os envolvidos, sejam profissionais, pacientes, familiares, instituições e sociedade. Nesse sentido, devemos tirar o maior proveito desta condição, o que significa apreender com o erro. Isto nós proporcionará a possibilidade de intervenções que levem à prevenção desses eventos adversos, sempre que possível. Isto é Qualidade e Segurança!
*Doutoura em Enfermagem pela USP e Gerente de Qualidade do Hospital Sírio-Libanês