Em palestra durante o Brazil Conference, evento sobre o Brasil organizado pela Universidade Harvard e o Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT), o Ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirmou que “80% dos exames de imagem no SUS (Sistema Único de Saúde) têm resultado normal” e que isso representa “desperdícios que precisam ser controlados”. O posicionamento da Associação Médica Brasileira (AMB) sobre o caso indica que o “Governo mais uma vez erra no tema exames complementares. Diagnóstico preciso é condição fundamental para tratar pacientes. Exames fazem parte de vários processos diagnósticos, terapêuticos e preventivo”.
Da mesma forma, a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), que reúne médicos, especialistas e laboratórios clínicos, lamenta o comentário do Ministro Ricardo Barros, pois defende a importância da realização de exames como parte fundamental da assistência à saúde. Segundo estudos, cerca de 70% das decisões médicas se baseiam em resultados de exames laboratoriais, o que demonstra sua importância na cadeia assistencial. Para a SBPC/ML, os testes laboratoriais produzem informações importantes para prevenção e triagem de doenças, avaliação de fatores de risco, escolha e monitoramento de tratamentos personalizados e avaliação de desfechos clínicos para fins de alta hospitalar. Além disso, são minimamente invasivos para os pacientes e evitam que sejam necessários procedimentos complementares mais complexos, agressivos e caros.
De acordo com a entidade, fatores como o advento de novas tecnologias, o envelhecimento da população – e, consequentemente, o aumento no número de pacientes com doenças crônicas –, além do empoderamento dos pacientes na procura pela medicina preventiva, também contribuem para o aumento no número de pessoas realizando exames laboratoriais. No entanto, os médicos ressaltam que, para que a utilização dos exames seja efetiva, as solicitações médicas devem ser deliberadas e corretas, pois o mau gerenciamento na exploração de procedimentos laboratoriais gera o risco de subdiagnóstico e de subtratamento, elevando o custo assistencial. Soma-se a isso o prejuízo que a subutilização de exames pode trazer aos desfechos clínicos.
Assim como a AMB, a SBPC/ML aponta que a má formação de alguns profissionais pode ser considerada o ponto central do desperdício do sistema de saúde, e pondera ser necessário evitar generalizações. A literatura médica comprova que solicitar exames corretamente, respeitar as diretrizes de cada especialidade e praticar medicina com qualidade e preventivamente diminui o custo de saúde para todos. Com a finalidade de esclarecer dúvidas e desfazer esses e outros equívocos de pacientes e profissionais de saúde sobre a realização de exames e importância dos laboratórios clínicos na cadeia de assistência à saúde, a SBPC/ML divulgou recentemente uma relação de Mitos e Verdades sobre os Exames Laboratoriais.
Um último ponto de atenção em relação à atuação do Ministério da Saúde deveria ser, segundo a SBPC/ML, a adoção do prontuário único, que diminuiria exames em duplicidade no sistema e auxiliaria o médico a construir um histórico mais completo e eficiente do paciente.
Mais sobre o tema:
A SBPC/ML refuta a informação divulgada recentemente pela mídia de que 30% dos exames não são sequer retirados, numa tentativa de desqualificar a necessidade de pedidos. Reforçamos que nos laboratórios de patologia clínica associados à entidade, este dado não chega a 5%. Vale lembrar que ao falar de exames, estamos incluindo três especialidades: Patologia Clínica/Medicina Laboratorial, Radiologia e Imagem e Anatomia Patológica e os dados da SBPC/ML referem-se somente ao primeiro caso.
Como o laboratório não prescreve exames, mas tem o profissional médico que pode auxiliar o especialista na indicação do exame mais custo-efetivo, a entidade investe muito em educação e ainda mantém o portal Lab Tests Online BR (www.labtestsonline.org.br), com o objetivo de ser uma fonte confiável, uma vez que é escrita por especialistas em Medicina Laboratorial, isenta e não comercial sobre testes laboratoriais para profissionais de saúde e público leigo. O portal teve mais de 2,5 milhões de acessos em 2015, auxiliando a melhorar o conhecimento sobre o que está sendo pedido, sem substituir a consulta nem a orientação dos médicos.
A SBPC/ML apoia, ainda, a iniciativa da Fundação ABIM, nos Estados Unidos, “Choosing Wisely”, para estimular o diálogo entre pagadores de serviços e pacientes e ajudá-los a tomar decisões baseadas em evidências, evitar a duplicidade de exames ou sua repetição e realizar apenas testes que são realmente necessários. Com base nesse programa, a American Society for Clinical Pathology (ASCP) elaborou uma relação de questões que devem ser debatidas entre médico e paciente antes de solicitar um teste laboratorial. Ainda neste aspecto, a SBPC/ML tem publicado anualmente editoriais e posicionamentos técnicos nas diversas especialidades laboratoriais, apresentando aspectos clínico-laboratoriais e metodológicos sobre os exames.
“Quanto mais conhecimento os colegas de outras Especialidades Médicas tiverem sobre a medicina laboratorial, mais sábias serão as escolhas e o uso racional dos exames laboratoriais”, comenta Galoro. A SBPC/ML participa e divulga no país as iniciativas do projeto em cursos, congressos e divulgando informações sobre o tema.
Mas é possível e necessário estruturar ações para evitar a realização desnecessária de exames, como por exemplo: evitar o uso de requisições que estimulam a utilização de exames sem critério; a eliminação de exames obsoletos; a instituição de algoritmos diagnósticos baseados em evidências científicas; a aproximação dos médicos solicitantes com os médicos patologistas clínicos, sendo estes consultores e especialistas na correlação clínico laboratorial dos resultados; os sistemas de decisão clínica; a introdução da disciplina de patologia clínica/medicina laboratorial no currículo do curso de graduação médica, entre outras.