Recentemente, a HealthXL, incubadora de start ups de TI em Saúde formada pela IBM, Novartis, Cleveland Clinic, Sillicon Valley Bank, Reckitt Benckiser e Glaxo, elegeu a pesquisadora Magdala de Araújo Novaes, Coordenadora do Núcleo de Telessaúde da Universidade Federal do Pernambuco, como a pessoa mais influente em saúde digital da América Latina.
Este é o reconhecimento diante dos inúmeros trabalhos que a pesquisadora vem se dedicando a fim de desenvolver e aprimorar a Telemedicina no Brasil. Entre eles está o “Telessaúde Mental”, realizado em parceria com o Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento (INPD), coordenado pelo Instituto de Psiquiatria da USP.
O projeto tem como objetivo prover tecnologia que viabilize o uso de equipamentos móveis para facilitar a identificação precoce de distúrbios mentais, ampliando o acesso de profissionais e pacientes a recursos em dispositivos móveis que venham a minimizar os riscos de agravamento das doenças.
Segundo Magdala, os benefícios deste estudo trouxeram uma contribuição social tanto na área da saúde mental como na tecnológica. “Isso possibilitou um maior contato dos profissionais com a tecnologia de informação aplicada à saúde, realizando a educação continuada destes. Para a população será possível o rastreamento precoce de transtornos mentais, aumentando as possibilidades de um bom prognóstico do transtorno.”
Outro projeto dedica-se a ações de Telessaúde na prevenção da obesidade e suas comorbidade. Este foi um projeto de extensão desenvolvido durante seis meses em 2013 através da Tele-educação da RedeNutes. “O objetivo era instruir os profissionais dos municípios de Pernambuco na prevenção, diagnóstico e triagem para tratamento, se clínico ou cirúrgico, da obesidade.”
Para tanto, foram realizados seminários ministrados por especialistas do Grupo de Pesquisa em Obesidade do HC/UFPE. “Os profissionais que participaram foram capacitados nas diversas esferas que envolvem a obesidade, possibilitando a maior efetividade de atividades na comunidade.”
Diante do reconhecimento de ser a pessoa mais influente em saúde digital da América Latina, Magdala afirma que o prêmio destaca a importância do Estado e da universidade na promoção e desenvolvimento da saúde digital. “Isso reafirma a nossa missão de disseminar o conhecimento para sociedade e nos motiva, ainda mais, a buscar soluções inovadoras e realistas para o fortalecimento do nosso SUS.”
Desafios
Investimento em conectividade. Este é o primeiro passo para que a Telessaúde passe a ser realidade no sistema de saúde brasileiro, tanto em serviços públicos como nos setores privados.
“A internet é a grande estrada digital que possibilita as práticas da Telessaúde. Para ter acesso a serviços de Telemedicina, como o telediagnóstico de exames de imagens, é preciso uma conexão de qualidade. No entanto, o acesso à internet ainda é precário na maior parte das unidades de saúde do País”, ressalta Magdala.
A pesquisadora também afirma que há certa resistência por parte dos médicos, principalmente no setor público, além de lacunas na legislação.
“Também há no setor público dificuldades na execução de recursos, pouca disponibilidade de profissionais especializados em saúde digital e alta rotatividade destes colaboradores nas unidades.”
A formação do profissional também é outro desafio para a Telemedicina, até mesmo por envolver diversas áreas do conhecimento. “Precisamos ter profissionais que pesquisem, desenvolvam e operacionalizem soluções, bem como aqueles que utilizem estas soluções em suas práticas clínicas. Por ser uma área relativamente jovem em termos de mercado, ainda necessita de um maior investimento em capacitação, tanto para sua utilização, como para sua implementação.”
A pesquisadora pontua ainda que, para a evolução do mercado brasileiro de Telessaúde, faz-se necessário a oferta de uma estrada digital de qualidade e de baixo custo; em dispositivos digitais de monitorização, pois a maioria ainda é tecnologia importada e cara; no desenvolvimento de soluções de software multiplataforma e seguras; legitimação dos processos de trabalho por Telessaúde; formação e capacitação de recursos humanos especializados; e aumentar o investimento em pesquisa e nos incentivos para o empreendedorismo.
“Outro aspecto não menos importante é haver uma melhor compreensão pelos gestores do potencial da Telemedicina, principalmente como meio para oferta de serviços em escala, e chegar onde não há serviços especializados tradicionais de saúde, bem como pela possibilidade que ela oferece de melhor qualificar a assistência ao paciente.”
Pesquisas
Os núcleos criados em hospitais universitários por meio de programas como o Telessaúde Brasil Redes do Ministério da Saúde e a Rede Universitária de Telemedicina – RUTE vem realizando diversas pesquisas. As iniciativas recebem apoio do Ministério da Saúde e de agências como a FINEP.
“Muitas pesquisas ainda sofrem com fragilidades na infraestrutura técnica e de recursos humanos. Outro entrave é o fato da área de tecnologias da informação em saúde ou saúde digital não constar como área de P&D junto ao CNPq, por exemplo. Isso dificulta a visibilidade dos estudos e também a análise de projetos por especialistas da área.”
Magdala ressalta também o fato de não haver uma política nacional para formação de recursos humanos em saúde digital e sua fixação nos centros de ensino e pesquisa. “Há uma carência de professores e pesquisadores em informática em saúde, vetores para inserção da saúde digital nos cursos, junto com os centros de pesquisa nas empresas. Ações como estas poderiam alavancar as pesquisas e colocar o Brasil no cenário mundial de produção científica na área.”
Médico e Paciente
Apesar de algumas pessoas enxergarem na Telemedicina como um serviço substitutivo ao atendimento médico presencial, Magdala acredita que este segmento se complementa à rede de saúde como uma nova forma para se ter acesso a conteúdos e profissionais de saúde.
“Claro que alguns ainda olham com desconfiança para serviços em que não há a presença física do médico ou para dispositivos que transmitem dados que serão analisados em outro local, mas muitas vezes estes são os únicos recursos disponíveis. Da mesma forma que hoje exames de base tecnológica como a ressonância magnética têm um alto grau de confiabilidade, gradativamente a Telemedicina passará a ser comum na relação médico-paciente.”