Quando o assunto é avaliação de performance e seus desdobramentos, como o encarreiramento, sucessão, aceleração do conhecimento etc, o setor da Saúde traz aspectos complexos que desafiam ainda mais o resultado esperado, pois além do cuidado com a vida humana, trata-se de organizações multidisciplinares, com alta complexidade de especialização, atualização, remuneração, além de jornadas e benefícios bem particulares.
“Todo esse cenário deveria catapultar o mercado da Saúde para patamares bem estratégicos de gestão de pessoas, mas, ao contrário, vemos uma carência enorme de indicadores e processos de recursos humanos. Ao meu ver, o processo e a crença metodológica da avaliação de performance em Saúde ainda precisa ser muito acelerado”, afirma Agatha Machado Alves, executiva de Recursos Humanos e Consultora Especialista em Desenvolvimento e Engajamento.
Cultivar ambientes éticos onde seja possível criar estruturas e processos de gestão capazes de identificar os erros, monitorá-los e minimizá-los é um importante passo. “Este é o grande dilema de Saúde. Falamos em preservação da vida, de boa formação dos profissionais, mas nos esquecemos de trabalhar e investir em gestão de pessoas na prática, o que prejudica a estrutura de sustentação dessa prestação de serviço.”
Neste contexto, o feedback é um processo impossível de ser dispensado. “Seres humanos se entendem conversando e a qualidade dessas conversas é que pontuará a necessidade de mais ou menos feedbacks ao longo de seu trabalho comum.”
A grande reflexão que uma organização deve fazer é a respeito do seu próprio nível de maturidade cultural e que sistemática de “conversas” é a mais adequada para a sua realidade, para daí criar ou rever seu sistema de feedbacks.
“Quanto mais maturidade, transparência e verdade uma organização tem, mais fácil será esse processo e mais fluído; e certamente, bons alinhamentos são essenciais para melhores performances. A qualidade das conversas entre todos os stakeholders de uma organização – líderes, liderados, pares, fornecedores etc – refletirá o nível de alinhamento de entrega e performance de um negócio.”
O diálogo organizacional refere-se também aos processos e práticas instalados que facilitarão ou dificultarão o trânsito de informações, e não apenas de diálogos espontâneos. “Se uma organização trabalha com transparência, abre dados, audita suas rotinas, cria indicadores de sustentabilidade, por exemplo, suas práticas refletirão esse “modo de ser” e, assim, determinará um certo funcionamento das pessoas que trabalham sob sua cultura. Dificilmente nesta cultura serão aceitos comportamentos antiéticos, pois seus hábitos provocarão mais transparência no funcionamento geral e isso é refletido nas atitudes.”
Modernizar o Rh na Saúde
Agatha afirma que a Saúde ainda tem que evoluir muito quando o assunto é gestão de pessoas. “Muitas organizações de Saúde sequer possuem sistemas adequados de avaliação instalados, onde o processo de encarreiramento e reconhecimento é duramente afetado.”
Instalar processos mais modernos em Saúde, com foco no engajamento de todos, líderes e liderados, e que efetivamente estivessem atrelados a outras esferas de recursos humanos, como desenvolvimento do potencial, retenção e carreira é um passo importante.
Além disso, utilizar tecnologia adequada para esses processos e, assim, conversar com essa nova geração de profissionais e indivíduos é um diferencial.
Engajamento
A Saúde geralmente é um setor cujo índice de engajamento dos profissionais com o trabalho é alto. Muitos relacionam este fator ao “altruísmo” com a manutenção da vida que naturalmente desperta nos profissionais o estado de compromisso.
“Isso nos leva a deduzir, então, que a falta do engajamento está muito mais relacionada à organização para quem se presta o trabalho do que praticamente para a execução dele em si”, afirma Agatha.
Diferente de outros setores, o desengajamento na Saúde pode estar muito mais associado a quem a organização é, como ela está estruturada, como são executadas suas práticas e processos, sua justiça no dar e receber, entre outros fatores.
O maior desafio para engajar pessoas em um ambiente de saúde está diretamente relacionado a estrutura dos processos de recursos humanos e seu nível de maturidade e transparência. “Cuidar da cultura organizacional é, nesse caso, essencial.”