Boa parte dos empreendimentos hospitalares no Brasil acaba desperdiçando muito tempo e dinheiro pela falta de planejamento detalhado e compatibilização durante a fase de projetos. E o pior, é que dentre os projetos, o mais negligenciado é justamente aquele que pode representar até 50% do valor do empreendimento e que, em tese, seria aquele que definiria as instalações a serem previstas pelos demais projetos: Projeto de Equipagem.
O que acontece na prática é que tanto os médicos diretores, quanto administradores e empresas de arquitetura e construção hospitalar tratam a equipagem como algo que deverá ser feito quando a obra estiver em estágio mais avançado. Esse fato acaba gerando muitos problemas de refazimento na obra, ou limitando as possibilidades de escolha dos equipamentos aos “que cabem” no ambiente.
Para piorar, a equipagem não é tratada como um “Projeto” (Projeto de Equipagem), ou seja, não é realizado previamente o planejamento orçamentário detalhado, nem mesmo cronograma de implantação e menos ainda de requisitos técnicos de instalação para alimentar de informações os projetos complementares (elétrico, gases, ar-condicionado, etc).
“Na verdade, no Brasil de hoje, a equipagem é prescrita pelos médicos. O verbo “prescrever” é o que melhor descreve a forma como são incorporadas tecnologias pela base da indicação médica, sem análise de viabilidade técnica financeira, nem comparação dos custos de operação. Como principais consequências, temos:dinheiro voador”, diz Guilherme Xavier, Engenheiro Clínico.
Segundo ele, a dificuldade de discernir “vontades” de “necessidades”, faz com que se invista mais do que o necessário, quando na indicação dos equipamentos pelos médicos;
A seleção item a item por indicação de diferentes profissionais, sem um planejamento prévio centralizado, faz com que em um mesmo setor se tenha itens de altíssima sofisticação, ao lado de outros itens de sofisticação mediana, ou seja, não há uma coerência no investimento: quem pedir melhor, ganha melhor;
Retrabalhos e embaraços durante as instalações gerando grandes perdas, pela falta de espaço ou instalações adequadas para os itens adquiridos;
A condução dos processos de aquisição sem a utilização de técnicas de planejamento e gestão de projetos gera uma grande perda de tempo, de controle e de documentação.
Você pode estar se perguntando: “Ok, mas como e quando deve ser iniciado o Projeto de Equipagem?” O que é a Concepção do Projeto de Equipagem?
Trata-se de listagem completa de todos os equipamentos, móveis hospitalares e materiais de apoio necessários para cada área do projeto arquitetônico. Além de definir quais tipos de itens/equipamentos e sua quantidade, deve estabelecer o nível de investimento (orçamento) necessário para sua incorporação. Os custos devem ser consolidados e apresentados tanto por setor/serviço quanto por tipo de equipamento.
Dimensionamento
Depois disto, é preciso definir como se agruparão os “pacotes de negociação” e qual a sequencia que serão realizadas as aquisições. Isto é importante para alinhar o cronograma de implantação da equipagem ao cronograma da obra e dar ao planejamento financeiro a informação do cronograma de desembolso. Também facilita muito na comunicação com o mercado de fornecedores, que desejarão saber qual o momento certo de submeterem proposta comercial, em sequencia lógica.
Portanto, a concepção do projeto de equipagem deve:
Definir escopo: O que será necessário e qual a quantidade para cada setor previsto em planta? O que será adquirido e o que poderá se alugado ou comodatado? Como serão agrupados os itens em pacotes de negociação?
Definir custos: Quanto custará cada item? Qual o orçamento para cada setor? Qual o orçamento para cada concorrência / pacote de negociação?
Definir tempo: Quais as fases de implantação do hospital? Qual a ordem que se darão as concorrências? Qual o melhor momento para cada aquisição de acordo com cronograma da obra?
Quem deve ser envolvido?
envolvidosO Projeto de Equipagem deve ser concebido com a participação dos patrocinadores, gestores e responsáveis pelos projetos, tendo especial interface com a empresa de arquitetura.
Da mesma forma que o projeto arquitetônico se inicia em uma versão preliminar, caminhando em detalhamento até uma versão executiva/definitiva, o projeto de equipagem também vai sendo aprofundado com o caminhar do processo. É interessante convidar médicos especialistas e profissionais que estarão envolvidos com o Hospital, para conhecer e opinar no escopo e nível de sofisticação planejado.
Quando deve ser iniciado este trabalho?
agendaTão logo se tenha em mãos o Projeto Básico Arquitetônico, já será possível realizar todo o planejamento detalhado da equipagem. Outras vezes o trabalho de dimensionamento do investimento, ou seja, a orçamentação dos equipamentos previstos, é solicitado desde a fase de Estudo Preliminar para fins de análise de viabilidade financeira do projeto.
No entanto, o marco que indica o prazo máximo para inicio do Projeto de Equipagem é a contratação dos chamados Projetos Complementares: elétrico, gases, ar-condicionado, dados, etc. Trata-se de requisito primordial que o Projeto de Equipagem já esteja sendo concebido quando no início da elaboração dos projetos complementares. Isto porque faz parte do Projeto de Equipagem alimentar os Complementares com as seguintes informações e premissas:
Carga elétrica requerida para cada equipamento;
Pontos de dados, de elétrica ou de gases requeridos;
Definição da melhor disposição e posicionamento das tomadas;
Reforço estrutural no piso, na parede ou na laje para grandes equipamentos;
Portas e vãos de dimensões especiais para rota de entrada;
Apontamento sobre larguras de bancada ou prateleiras onde serão instalados equipamentos;
Locais onde serão necessários pontos de água ou dreno, bem como a vazão requerida pelo equipamento;
Definir ambientes que precisarão de proteção radiológica;
Decidir com arquitetura se serão utilizadas réguas de parede, ou estativas de teto, ou pontos/tomadas diretamente nas paredes;
Alinhar com projeto elétrico quais ambientes terão equipamentos de suporte à vida, ou outros requisitos que por norma, definem a previsão de Sistema IT, cobertura de gerador ou cobertura de nobreak, entre outros.
Como pode ser concluído, o Projeto de Equipagem determina em detalhes todo o programa de necessidades para os projetos complementares. Mas o que temos visto em nosso país é que as empresas projetistas acabam propondo seus projetos com base em convenções e experiências prévias, sem de fato contar com as valiosas informações de um projeto de equipagem elaborado por uma equipe de engenheiros clínicos especializados, muitas vezes por desconhecimento das facilidades e economias que um Projeto de Equipagem pode vir a trazer para o empreendimento.
Fonte: Equipacare (www.equipacare.com.br)