“A gordura está quase sempre associada com malefícios à saúde, uma vez que a obesidade – definida como acúmulo de tecido adiposo (de gordura) no corpo – é um problema grave de saúde pública”, destaca Ana Paula Del’Arco, nutricionista e consultora da Associação Brasileira de Laticínios (Viva Lácteos).
Atualmente vivemos uma epidemia de obesidade infantil em todo o mundo e no Brasil não é diferente. Segundo a Organização Mundial de Saúde, em torno de 41 milhões de crianças menores de 5 anos apresentam excesso de peso e, no Brasil, de acordo com o IBGE, estima-se que um terço das crianças brasileiras (33,5%) apresentam sobrepeso ou obesidade. Se nada for feito, a tendência é o agravamento desta epidemia, que imprime graves consequências físicas e psicossociais que já são observadas na infância.
Contudo, “comer gordura” não significa se tornar obeso, ou ainda, “não comer gordura” não significa estar “imune à obesidade”.
A gordura é uma excelente fonte de energia para o corpo, fornece 9 calorias por grama, e, apenas se consumida em excesso, pode ser acumulada pelo corpo como principal fonte de energia. Como qualquer nutriente, sendo deficiente ou estando em excesso no corpo, pode trazer problemas de saúde.
Importante destacar que o estoque de energia que o corpo produz (em forma de gordura), pode ser oriundo do excesso de gordura que é ingerido na dieta ou do excesso de açúcar (de carboidratos) consumido na dieta, associado com o baixo dispêndio energético (a falta de atividade física). Então, não é apenas o excesso de gordura consumido que fica acumulado em forma de gordura no corpo.
Em relação à gordura dos lácteos, é importante considerar o perfil lipídico desta gordura, que é bastante diversificado, no qual existem gorduras saturadas, insaturadas, frações lipídicas cis e trans, que compõem um sistema lipídico único, absorvido como tal pelo organismo, capaz de entregar benefícios à saúde quando dentro desta complexidade bioquímica.
A gordura láctea tem sido alvo de diversos estudos científicos recentes que apontam para a inexistência de evidências consistentes entre o consumo de lácteos (com qualquer teor de gordura) e o risco cardiovascular, mostrando inclusive efeito protetor para a saúde cardiovascular. Faz-se necessário conhecer o perfil das gorduras, entender quais ácidos graxos as compõem, pois, cada ácido graxo se comporta de maneira diferente no organismo em relação aos eventos cardiovasculares, principalmente em relação ao colesterol. Dentre as gorduras saturadas, verifica-se que os ácidos graxos láurico, mirístico e palmítico, que aumentam o colesterol ruim (LDL-colesterol) também elevam os níveis de HDL-colesterol (o colesterol bom). Ainda, o ácido graxo esteárico (C18:0) não denota efeito sobre o colesterol.
O sistema lipídico dos lácteos também apresenta ácidos graxos insaturados, como o oleico, que se associa à redução dos níveis de colesterol total, LDL-colesterol e triglicérides, representando 25% do total do conteúdo da gordura presente no leite. Os ácidos graxos poli-insaturados (PUFA’s) também estão presentes na gordura láctea e a relação entre os ácidos graxos ômega-6 (ácido graxo linoleico) e ômega-3 (alfa-linolênico) está em torno de 1-2:1 (w-6:w-3), uma boa proporção quando comparada com a maioria dos alimentos ao se excluir os peixes e derivados marinhos.
O ácido linoleico conjugado (CLA) é abundante no leite de vaca (especificamente nos ruminantes) e o isômero cis9, trans11 (9c,11t-CLA) é o isômero que mais ocorre no leite. Dentre os benefícios do CLA, em especial do 9c,11t-CLA, está a redução do colesterol total, LDL-colesterol e triglicérides, com efeito anti-aterogênico e antitrombótico, por inibirem a agregação plaquetária. No leite, o isômero cis9, trans11 do CLA pode ser obtido a partir do ácido graxo trans vacênico (18:1,11t), uma gordura trans que ocorre naturalmente nos ruminantes.
Outro aspecto importante para destacar em relação às gorduras, são suas inúmeras funções no organismo, sendo a gordura essencial para a saúde. Além de serem excelentes fontes de energia para o corpo e apresentarem benefícios em sistemas complexos, as gorduras também exercem funções básicas no organismo, que são vitais, tais como: 1) a regulação da temperatura interna do corpo, funcionando como um isolante térmico, ou seja, garantindo a temperatura ideal interna do corpo para o adequado funcionamento dos órgãos e sistemas; 2) a produção de hormônios que regulam os processos internos do corpo; 3) a proteção interna dos órgãos em casos de choques mecânicos; 4) o transporte de diversas substâncias e de vitaminas para todo o corpo; entre outras funções.
“O leite é um alimento único, com uma matriz nutricional complexa, sendo a relação entre seus nutrientes e componentes capaz de entregar inúmeros benefícios ao organismo, desde contribuir com uma dieta equilibrada e saudável, até contribuir na prevenção de doenças cardiovasculares, obesidade, osteoporose, diabetes, entre outras, destaca a nutricionista.
Inclusive em crianças e adolescentes, se observa os inúmeros benefícios que o leite e seus derivados entrega. Estudos apresentam evidências de que o consumo de leite está inversamente associado com o risco de excesso de peso (sobrepeso e obesidade) na infância; além de fornecer nutrientes essenciais para o adequado crescimento e desenvolvimento das crianças, que devem necessariamente consumir os lácteos em sua versão integral (com gordura), pois além dos benefícios da própria gordura láctea, os produtos lácteos integrais se caracterizam como uma das principais fontes de vitamina A na alimentação das crianças.