Diante do cenário atípico, pela primeira vez o principal evento de moda do Brasil foi cancelado. Nos últimos dias, a direção do SPFW anunciou que a edição que seria realizada entre 24 e 28 de abril, foi cancelada. Segundo Roze, isso reafirma o impacto do novo coronavírus em todas as relações de negócios a nível global. “É um momento delicado em que temos que aprender a lidar com tudo isso. Afeta o mundo todo, mas essas reações precisam ser tomadas o quanto antes.”
Na Semana de Moda Milão 2020, a ameaça já estava presente e a stylist conta que isso se tornou um marco: “A semana de moda de 2020 ficou marcada pra sempre na história. As pessoas estavam preocupadas, não estavam confortáveis”. Como solução ao vácuo que restaria na moda, Roze afirma que é importante se reinventar e investir no mundo virtual: “É hora das grandes marcas aprenderem com tudo isso e se reinventarem. A Armani deu um ótimo exemplo fazendo transmissões ao vivo nas redes sociais e isso tem tudo a ver com a geração atual. Está todo mundo conectado e prestando atenção.”
Cenário geral
Shoppings fechados e lojas com horários reduzidos podem dificultar o consumo, mas de acordo com a stylist, não interfere na busca pela moda. “Não é porque as pessoas estão de quarentena que deixarão de se preocupar com a moda. As pessoas que gostam de estar antenadas continuam buscando. Como eu disse, está todo mundo conectado.” Com um olhar um pouco mais otimista sobre a situação, Roze diz que o público deve aproveitar o tempo livre para buscar, pesquisar, se atualizar e lembrar que toda essa crise é passageira.
Entretanto, no ponto de vista do consumo, é importante focar na consciência das engrenagens que trabalham para fazer com que entregas de compras online sejam realizadas. “E uma boa hora para trabalhar virtualmente, buscando e consumindo moda. Podemos até comprar mais, mas temos que pensar nas pessoas dos correios. Em algum momento o serviço pode parar. Existem pessoas se expondo para fazer essas entregas. Tudo deve ser pensado para colocar o mínimo de pessoas nas ruas.”
Como o problema é mundial, Roze acredita que não existe impacto na velocidade em que novas tendências chegam ao Brasil, justamente devido à internet.
A grande questão gira em torno da exportação e importação, sendo novamente sobre o consumo. Segundo a stylist, 40% do setor de luxo é consumido pela China, causando um impacto econômico imensurável. “Sem desfiles, resta essa carência aos consumidores fiéis. Não conseguimos importar e nem exportar nada”, e novamente Roze menciona a reinvenção das marcas: “Na última semana de moda a gente já viu máscaras cirúrgicas em alguns fashionistas com estampas, logos, como a Supreme e outras marcas. Acredito que todos seguirão esse caminho e conseguirão passar por isso.”
Mais estudo, menos trabalho
Com relação ao próprio trabalho, Roze sentiu os efeitos da crise de forma intensa. “Os shows estão sendo cancelados, os programas de TV, gravação de DVDs”, mas afirma que continua trabalhando como pode, sem arriscar sua equipe: “A criação de peças continua de uma forma mais lenta. O trabalho que conseguimos terceirizar em casa, ok, o restante a gente precisa suspender e esperar. Eu não posso pedir para o meu costureiro vir trabalhar e colocá-lo em risco. Afeta muito, não posso ir ao shopping montar figurinos e estar em programas de TV. Mas é a hora de ter paciência e produzir conteúdo”, diz sobre seu trabalho. “Tudo isso pode influenciar o mercado da moda para sempre”, finaliza.