Um turista de São Paulo, em férias na Bahia, sofre um acidente durante passeio na capital soteropolitana. O paciente é prontamente levado a um hospital da região, e a primeira providência tomada pela equipe médica segue o protocolo comum em muitas instituições de saúde Brasil afora: uma série de exames deve ser realizada antes que qualquer procedimento seja iniciado.
Neste caso fictício, especificamente, nada de mais grave aconteceu – apenas uma torção no tornozelo e algumas escoriações em decorrência da queda. Após horas no hospital, o viajante estava de volta ao seu quarto de hotel se preparando para o jantar.
Quando se trata da vida real, este nem sempre é o roteiro: a depender do caso, a agilidade no atendimento pode ser determinante para garantir a integridade do indivíduo. Nessas horas, um sistema integrado com o histórico de pacientes que elimine a redundância de alguns exames se torna um aliado das instituições de saúde na “luta contra o relógio”.
E é exatamente por isso que o conceito de interoperabilidade tem pautado importantes discussões no mercado da saúde, pois garante a capacidade de diversos sistemas e instituições trabalharem em conjunto, apesar de suas particularidades, de modo a garantir que interajam para trocar informações de maneira eficaz e eficiente. Ou seja, são universos diferentes que possuem a mesma forma de se comunicar.
Simplificando, e recorrendo mais uma vez ao exemplo da ficção relatado no início desse texto, a interoperabilidade permitiria aos médicos de Salvador o acesso a todo o histórico de atendimentos do viajante paulista – realizados em São Paulo ou em qualquer outra cidade do Brasil –, incluindo sua informações ligadas à presença de alergias, doenças pré-existentes ou possíveis interações medicamentosas.
Garantir que dados coletados por meio dos equipamentos de um hospital sejam compartilhados com outras instituições pode, por este prisma, parecer benéfico apenas aos próprios pacientes, mas não é verdade. A disseminação desse conceito pode ser um dos atores da transformação de toda a saúde no país, uma vez que evitaria o desperdício de recursos causados pela realização de exames desnecessários, o que impacta diretamente nos custos operacionais de hospitais e clínicas e nos preços e reajustes praticados pelos convênios, por exemplo.
Já os benefícios proporcionados a hospitais, laboratórios e clínicas são inúmeros. Não são poucas as instituições que tornaram seus processos mais ágeis e eficientes – e reduziram consideravelmente a quantidade de erros – após o uso de soluções que possibilitam uma atuação integrada, em detrimento ao uso de sistemas próprios e que não “conversam” entre si. Em um país de dimensões continentais como o nosso, não é difícil mensurar os impactos quantitativos e qualitativos que seriam causados apenas com a adoção de novas práticas e de uma atuação com base na tecnologia.
Ainda que a interoperabilidade garanta que mais seja feito com investimentos menores, infelizmente está longe de ser unanimidade no mercado. Mas, não há dúvidas de que este é um tema que deve ser discutido com todos da sociedade, considerando os benefícios para instituições (hospitais, clínicas, laboratórios, centros de imagem, radiologia e diagnósticos), profissionais de saúde e, principalmente, pacientes. Assim como em um atendimento de emergência, a urgência nesse debate pode ser a diferença entre a vida e a morte de muitos brasileiros.
André Silveira é diretor de tecnologia e produto da Pixeon, e Humberto Santos, analista de requisitos da Pixeon