Devemos insistir nas discussões e reflexões sobre como voltar a inserir o Brasil no comércio mundial, não ficar apenas nas commodities, mas ampliar a exportação de produtos de alto valor agregado. Nossa produtividade continua estagnada: ocupamos o 75º lugar entre 122 países avaliados. Os coreanos produzem quatro vezes que os brasileiros. Entre 75 países analisados, somos o 54º em inovação.
É sabido que a competitividade se apoia em três pilares: na inovação, na infraestrutura adequada ao porte do País e no aumento da produtividade. A pergunta que se coloca é “por que não avançamos?”. Vemos os esforços do governo em estimular a inovação, seja com políticas industriais, seja com financiamentos atrativos, como, por exemplo, no Inova Empresa.
Em recente Painel promovido pela ABIMED sobre como acelerar a inovação no Brasil na área de produtos para saúde, foram ouvidos membros do governo, da academia e da indústria. Todos foram muito positivos em relação ao potencial do País para melhorar sua posição e até se tornar um grande exportador de altas tecnologias.
Os entraves já estão mais do que identificados: leis trabalhistas obsoletas, deficiência de infraestrutura que provoca enormes gargalos logísticos, alta carga e complexidade fiscal-tributária, fragilidade das instituições de ensino, marcos regulatórios que não acompanham a velocidade das inovações e falta de mão de obra qualificada. Parafraseando Delfim Neto: “Investir em infraestrutura é dar injeção na veia da produtividade”.
Estudo do Fórum do Banco Mundial mostrou que o Brasil perdeu oito posições na produtividade por deficiências de infraestrutura. Ainda um dado recentemente citado pelo Presidente do Finep, Glaubo Arbix, “cada R$ 2 bilhões investidos em infraestrutura geram R$ 17 bilhões no PIB do País”.
Outro ponto destacado no painel da ABIMED é a falta de entrosamento entre indústria e academia. Mais uma vez foi citado que a academia tem recursos para pesquisa, desenvolvimento e inovação, mas há barreiras e incertezas para que as novas ideias e projetos cheguem ao mercado, começando pela questão de propriedade intelectual ainda não resolvida nas universidades públicas. No outro lado, está a cultura empresarial, ainda muito avessa a riscos e insegura, muita vezes atribuída à complexidade legal e tributária e ao excesso de burocracia.
Aí voltamos à questão inicial: se conhecemos os caminhos e podemos identificar as barreiras, então faltam vontade e disposição política para implementar as ações que realmente são necessárias.
Temos excelentes exemplos positivos, resultantes de determinação, ousadia, visão estratégica e qualidade. Entre outros, podemos citar a Embraer, a Embrapa e a própria Petrobrás no caso da exploração de petróleo em águas profundas.
O setor de Produtos para a Saúde vive um momento de estimular a inovação e a agregação de valor no País, mas também enfrenta os mesmos entraves. É hora de agir, pois o Brasil não pode esperar.
* Carlos Goulart é presidente-executivo da ABIMED – Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Equipamentos, Produtos e Suprimentos Médico-Hospitalares.