Infelizmente, quando vemos a capacidade orçamentária de muitos países de tomar conta da população pobre, esta é limítrofe. Com o crescimento das populações e, principalmente, da idade média das mesmas, o aumento das necessidades tem que levar a soluções criativas e inovação.
A primeira das ações é, obviamente, a de melhorar e tornar mais eficientes os processos de atendimento à população, e isso poderia ser alcançado pela ação do governo na criação das unidades de atenção primária (UBS, UPA, UAI, AME, AMA, etc.) que, no entanto, tem que ser orquestradas de maneira tal que funcionem realmente dentro de um processo de tratamento, com velocidade necessária e que, efetivamente, filtre o volume populacional no acesso aos hospitais de complexidade.
Se tomarmos pelo nosso País, não é incomum vermos pessoas tendo uma consulta na atenção primária levando meses para ser marcada e quando, efetivamente, chega a data e horários marcados, por diversas vezes o médico que atende o faz com displicência e gasta menos de 5 minutos com o paciente, ou pior, não comparece à consulta, obrigando nova marcação para meses.
Este ciclo também segue na questão dos pedidos de exames que, até chegar ao tratamento necessário, já acarretou em um aumento extraordinário de doenças e pioras, além de óbitos. Qualquer doença tratada corretamente em seu início custa muito menos aos cofres públicos que aquela relevada e que demora para ser atendida. Os custos nestes casos sobem exponencialmente.
No plano privado, apenas aqueles que fazem parte de planos de seguros de operadoras, que, em sua maioria, somente oferecem o serviço para pessoas jurídicas, têm acesso a este tratamento, o que não significa que, dependendo do plano, problemas como o supracitado não ocorram. Talvez o mesmo caminho adotado pelo setor público de trabalhar a atenção primária possa fazer voltar as operadoras para o plano da pessoa física.
Então, o que pode ser feito? Primeiro, cabe entender que temos processos extremamente arcaicos em nossas estruturas de saúde em geral, vários processos e atividades desnecessários que são trabalhados há anos da mesma forma. Um estudo e um desenho mais correto de todos os métodos e a forma como estes são orquestrados e integrados passa a ser vital para todo o atendimento, e o retorno em redução de custos pode ser dramático, o que ajuda, sensivelmente, na sustentabilidade e lucratividade do setor, automatizando ao máximo as atividades e os processos.
Isso traz velocidade e qualidade do atendimento que, em minha opinião, deveriam ser metas medidas e, por estas metas, pagas aos profissionais do segmento. Aliás, este tema está sendo muito discutido em âmbito internacional nestes dias.
A outra oportunidade que não exclui de forma alguma a primeira é a de partir para o que chamo de “Individual Care”, aproximando o paciente e a população de sua saúde sem necessidade de se deslocar para alguma instituição. É o uso da tecnologia avançada de mHealth e Telemedicina que vem aumentando presença em nosso País.
Outro foco é cultural, e aí a educação da população mais pobre sobre seus direitos, sobre os processos que devem seguir (muitos são desorientados quanto aos passos para ter a consulta, exames e diagnóstico e, consequente, tratamentos).
Não podemos esquecer também a necessidade de esquemas de financiamento à saúde serem mais flexíveis e mais orientados aos tratamentos com maior aderência aos custos possíveis das comunidades onde a população mais pobre reside (ocorre muito isso em Ruanda, Senegal e outros países com altos níveis de pobreza e, muitas vezes, com a liderança de entidades religiosas locais)
Por fim, um programa de incentivos para trabalhar com a medicina preventiva (não somente doentes crônicos, como é o foco de muitos hoje) é fundamental também.
Conclui-se que entender as necessidades da comunidade local, apoiar iniciativas da comunidade no segmento, ampliar a atenção primária tanto no setor público quanto no setor privado, redesenhar os processos de saúde e automatizá-los, usar tecnologias de ponta como mHealth e Telemedicina e trazer educação e incentivos à população mais pobre podem não somente elevar a qualidade e a velocidade do atendimento, como também ser feita de forma mais eficiente e menos custosa.