A desagradável rotina do diabético que precisa monitorar cuidadosamente os níveis de açúcar no sangue e autoaplicar injeções de insulina poderá ser substituída por um dispositivo muito mais simples. Cientistas americanos desenvolveram um pequeno adesivo capaz de detectar o aumento nos níveis de glicose e secretar automaticamente as doses necessárias de insulina na corrente sanguínea. Ele vem sendo testado ainda em camundongos, mas já anima médicos e se soma aos muitos avanços que o tratamento do diabetes vem tendo nos últimos anos.
Não é para menos. Há 387 milhões diabéticos no mundo, segundo dados da Federação Internacional de Diabetes, e estima-se que em 2035 sejam quase 600 milhões. No Brasil, são cerca de 12 milhões. A epidemia é puxada pelos casos de diabetes tipo 2, que estão diretamente associados ao estilo de vida pouco saudável. Em geral, mudanças de hábitos e medicamentos orais podem controlar a doença nesses indivíduos. Enquanto isso, 10% dos diabéticos são do tipo 1, um mal autoimune que torna o corpo incapaz de produzir insulina. A inovação serviria especialmente para este grupo (e em casos avançados do tipo 2), que precisa ter agulhas e dispositivos para medir a glicose sempre à mão.
ADESIVO QUASE IMPERCEPTÍVEL
Do tamanho de um moeda de um centavo de dólar (ou de dez centavos de Real), o adesivo é coberto de mais de cem microagulhas, que carregam unidades microscópicas de insulina, junto a enzimas sensíveis à glicose. Quando os níveis de açúcar aumentam, as enzimas são “alertadas” e liberam a insulina no organismo. Coordenado pelas universidades da Carolina do Norte e Estadual da Carolina do Norte, o estudo com os resultados bem-sucedidos em camundongos foi publicado nesta segunda-feira no periódico “Proceedings of the National Academy of Sciences”.
“A grande sacada é que a insulina é usada só quando necessário. Isto mudaria o dia a dia do diabético, que acaba sendo escravo das injeções. Ele não precisaria pensar na doença 24 horas por dia, ganhando em qualidade de vida, algo que vale muito hoje quando se fala de doenças crônicas”, comemora Carlos Eduardo Couri, endocrinologista da Equipe de Transplante de Células-Tronco do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP).
Com duração de nove horas, os adesivos precisariam ser trocados pelo menos duas vezes ao dia. Além disso, o sistema poderia ser personalizado conforme o peso do paciente e sua sensibilidade à insulina. Pelo que os estudos até agora vêm indicando, eles não têm efeitos colaterais sérios. Pelo contrário, até reduziriam os riscos de injeções fora de hora ou com doses erradas, que podem levar a complicações, como cegueira e amputações.