Normalmente, a gestão de pessoas e o desenvolvimento humano das instituições estão pautados na análise das competências técnicas e comportamentais dos colaboradores. No entanto, os mecanismos neurais que estão ocultos nas manifestações comportamentais às vezes são deixados de lado.
De acordo com Carla Tieppo, coordenadora dos cursos de pós-graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo em “Neurociência e o Futuro Sustentado de Pessoas e Organizações” e “Neurociência aplicado à Educação”, quando analisamos o perfil comportamental de um indivíduo, por melhor que seja a ferramenta utilizada, não buscamos encontrar as relações funcionais que originaram determinadas manifestações comportamentais.
Na gestão, é comum a utilização de medidas motivacionais para o alcance de metas da instituição, como premiações ou promoções. Segundo Carla, alguns estudos da neurociência trazem uma perspectiva cientificamente comprovada de que o desejo raramente é alcançado através desta técnica. “Nesse caso específico, sabemos que o reconhecimento posterior ao esforço, sem que tenham sido feitas promessas anteriormente, gera uma expectativa muito mais positiva e trazem melhores resultados”, explica a coordenadora.
Na Saúde, por exemplo, é importante a construção do sentimento de empatia e compaixão. No entanto, a profissional ressalta que para muitos, sentir o que o paciente sente pode ser extremamente complicado e produzir respostas de estresse significativas.
Eficácia
Para elaborar uma abordagem mais estratégica, tanto no processo de recrutamento quando na adequação da equipe, é fundamental conhecer os elementos que estão na gênese do comportamento dos indivíduos.
Se o gestor conhecer quais são as áreas cerebrais que estão envolvidas com cada um desses tipos de empatias – já que cada uma delas está diretamente relacionada a uma área diferente do cérebro – é possível desenvolver um trabalho adequado para a evolução de uma empatia mais cognitiva do que afetiva. “Ao detalhar como cada uma dessas áreas é desenvolvida em especial, o gestor pode trabalhar mais diretamente e de forma mais eficiente para desenvolver essas competências socioemocionais”, acrescenta.
A eficácia dos processos é a grande vantagem da aplicação da neurociência na gestão. Carla explica que os resultados serão mais efetivos se apoiarmos a tomada de decisão e a construção de metas nessa ciência, além de aliá-las a uma comunicação mais eficiente. “Alguns problemas que parecem ser impossíveis de serem acessados passam a ter um tratamento teórico novo e diferenciado que tem trazido melhores resultados.”
Segundo a coordenadora, ao incorporar uma visão neurocientífica, o gestor irá se dispor de elementos fundamentais para a compreensão de demandas não antes consideradas. “É necessário ampliar a visão do gestor para que as inter-relações entre as diferentes facetas do ser humano sejam melhor compreendidas e permitam uma gestão mais eficiente.”
Neurociência
A neurociência é uma ciência jovem que tem comprovado que toda a vida emocional, afetiva, cognitiva e executiva de um indivíduo está relacionada a um funcionamento cerebral. Como ciência, “ela é um conjunto de pressupostos teóricos fundamentada na investigação científica que promovem uma visão mais ampla e contextualizada sobre o comportamento humano”, explica Carla.
*Matéria publicada na 46ª HealthCare Management. Clique e confira a edição completa.