Em entrevista para o Saúde Online, Nestor Casado, CEO da Capital Invest M&A Advisors, fala sobre a lei de abertura de capital estrangeiro no setor da saúde, promulgada neste ano, e quais as mudanças a partir de agora.
1-Como você avalia o interesse em investir no setor da saúde do país depois da promulgação da lei que amplia ainda mais o capital estrangeiro na saúde?
Diminuir as restrições aos investimentos é sempre positivo para qualquer setor da economia. No caso do segmento de saúde no Brasil, isto é ainda mais positivo, especialmente na área hospitalar, por dois motivos:
- a) A OMS recomenda de 3 a 5 leitos para cada mil habitantes. No caso do Brasil o índice médio é de 2,4. Precisaríamos investir uns R$40bi para chegarmos ao nível mínimo recomendado.
- b) Hospitais de menos de 150 leitos dificilmente são rentáveis, sendo que no Brasil mais do que 60% dos hospitais contam com menos de 50 leitos, sendo a média de 64 leitos. Eis o motivo pelo qual nos últimos 5 anos mais de 15mil leitos foram fechados. Faria sentido, portanto novos investimentos para consolidar o setor.
2- Quais são os países que mais procuram o Brasil neste setor?
No segmento de saúde os países tradicionalmente interessados eram os Europeus e EUA. Nos últimos anos também fomos contatados por multinacionais asiáticas, de países tais como Japão, Coreia e China.
3- Quem serão os maiores beneficiados com esta lei?
Em longo prazo o consumidor brasileiro que contrata planos privados de saúde deveria ser o principal beneficiado, pois novos investimentos deverão trazer maior concorrência, mais tecnologia, maior profissionalismo, etc. Tudo isto sob a premissa de que o CADE fará bem seu papel permitindo a necessária consolidação, sem que cheguemos a uma situação de oligopólio.
4- Será o fim de hospitais de pequeno porte, familiares?
Os hospitais de menos de 150 leitos com um mínimo nível de atendimento dificilmente são rentáveis. No Brasil, mais de 60% dos hospitais tem menos de 50 leitos, e a tendência com lei 13.097 ou sem ela, seria a sua consolidação em redes maiores para diminuir custos e melhorar seu nível de serviços. A lei 13.097 simplesmente deverá trazer mais capital e, portanto, acelerar esta necessária consolidação. Relembrando que sem potenciais compradores, alguns destes hospitais terminavam simplesmente falindo. Eis um dos motivos pelos quais mais de 15mil leitos foram fechados nos últimos 5 anos. A nova lei deverá de consolidar o segmento, e estes hospitais de menor porte deveriam ser consolidados em redes hospitalares maiores.
5- Quais são as barreiras que os investidores estrangeiros encontram nos hospitais brasileiros?
A barreira principal era legal. A tendência a partir de agora será melhorar a tecnologia, a gestão, a infraestrutura, a formação in‐situ, etc.
6- Que tipo de abordagem pode haver para hospitais filantrópicos, já que não distribui lucros?
Resultava inacreditável que com as necessidades na área hospitalar que o Brasil ainda tem, caso um determinado segmento da sociedade, de conotação religiosa, tivesse interesse em investir recursos vindos do exterior num determinado hospital (ainda que filantrópico), tivesse, até a promulgação da lei 13.097, diversos entraves e empecilhos que praticamente impediam o seu investimento. Felizmente isto mudou.
7- Mesmo em meio a um cenário econômico crítico, como você avalia o interesse estrangeiro de investir na saúde do Brasil?
Realmente o cenário econômico brasileiro se encontra em um momento complicado. Entretanto, será que isto é negativo ou positivo para o investimento estrangeiro? Por exemplo: o Real está no menor valor dos últimos 10 anos, e os múltiplos de aquisição são os menores dos últimos 5 anos.
8‐ O que a inovação pode ganhar com esta nova lei?
Esperamos o aumento da transferência de novas tecnologias provenientes do exterior, sejam advindas de softwares como de hardwares, especialmente em áreas da saúde nas quais o Brasil está defasado. Por exemplo: atualmente temos no país em operação não mais que 20 robôs da vinci, enquanto nos EUA existem mais de 500 equipamentos em operação.