“Até o ano 2020” não é o começo de alguma história de ficção científica infantojuvenil distópica. Não, a dura verdade é que, até o ano 2020, ainda vou estar dirigindo o mesmo carro que tenho agora, e ele ainda estará na garantia do fabricante.
Mas a expressão “até o ano 2020” figura com destaque na última edição do Cisco® Global Cloud Index, um relatório publicado anualmente pela empresa desde 2001 e que observa tendências relativas ao número e à natureza das organizações que migram sua infraestrutura para a nuvem de alguma forma.
O relatório de 2016 observa que, até o ano 2020, cerca de 98% de toda a carga de trabalho de processamento será realizada por uma arquitetura baseada na nuvem. Dessa porcentagem impressionante, 66,5% (ou 68% de todas as cargas de trabalho de processamento baseadas na nuvem) ocorrem em espaços de nuvem pública como o Amazon Web Services™ e o Microsoft® Azure®, restando 31,5% das cargas de trabalho de processamento para os ambientes de nuvem privada.
Apenas esses números devem fornecer um contexto matemático da atmosfera atual de bonança no que se refere ao investimento e às inovações em ferramentas e soluções centradas na nuvem.
Mas esse relatório não conta toda a história inteira, ou pelo menos não captura a realidade muito particular que existe na prática para os gerentes de datacenter de hoje. Por isso, é preciso analisar um conjunto diferente de números: os do Relatório de tendências em TI da SolarWinds, agora em seu quarto ano.
O estudo deste ano, o Relatório de tendências em TI da SolarWinds para 2017: Retrato de uma organização de TI híbrida, também acompanhou a adoção da nuvem. Ele revelou que, embora 95% dos profissionais de TI brasileiros pesquisados tenham migrado algo para a nuvem nos últimos 12 meses, nenhum deles tem 100% de sua arquitetura baseada na nuvem. A maioria tem apenas metade da arquitetura na nuvem, enquanto os demais permaneceram com a arquitetura no local.
O que isso indica é uma condição chamada TI híbrida.
A TI híbrida é um estado no qual parte da infraestrutura está na nuvem e outra parte permanece no local, com sua equipe responsável por toda a infraestrutura, incluindo a Internet, que conecta as duas. Não é somente uma realidade: de acordo com o relatório, é a norma entre as empresas. Embora seja verdade que pouquíssimas empresas evitam o impulso de migrar alguma coisa para a nuvem, também é verdade que poucas empresas migraram tudo “lá para cima”.
Para a maioria, isso provavelmente não é novidade. Na verdade, eu ficaria surpreso se houvesse muitas empresas que ainda não tenham passado por essa situação. No entanto, há muitas outras informações a serem extraídas do relatório, dados que poderiam ajudar a orientar as suas decisões e sua rota nos próximos meses.
Uma viagem de ida… e volta?
Dos 95% que migraram algo para a nuvem nos últimos 12 meses, 30% disseram que também tinham migrado cargas de trabalho da nuvem de volta para o local. Isso se deveu a preocupações com segurança/conformidade ou desempenho.
Isso, é claro, nos leva à pergunta: por que esses aplicativos chegaram a ser migrados? Apesar de ser novo no que diz respeito a custo e sobrecarga, a verdade é que o processo de migração de um projeto para a nuvem é quase idêntico aos projetos de uma década atrás, nos quais migrávamos de servidores “bare metal” para instâncias virtualizadas. Então, onde foi que essas empresas se perderam nos detalhes? Meu palpite é que elas simplesmente foram dominadas pelo puro entusiasmo pela migração da nuvem.
No entanto, precisamos lembrar que não há garantia de que as expectativas de economia e velocidade sempre se concretizarão. A nuvem não é um cenário que atende a todos os casos (ou mesmo que atende à maioria dos casos).
A necessidade de testes prévios e desempenho de carga de trabalho e considerações de segurança anteriores à migração não deve ficar em segundo plano em relação à velocidade de implantação. Para melhorar o trabalho com a liderança dos negócios e não perceber tarde demais que uma carga de trabalho funciona melhor na nuvem, tente participar mais cedo (e com mais frequência) das conversas sobre a nuvem.
Sem visibilidade, sem controle, sem serviço
Para ser realmente bem-sucedido como profissional de TI, é necessário ter responsabilidade e autoridade. A maioria de nós consegue a primeira, mesmo que involuntariamente. A autoridade é geralmente o fator pelo qual precisamos lutar e que fica ainda mais delicado em um ambiente de TI híbrida. Na verdade, o Relatório de tendências em TI da SolarWinds mostrou que mais da metade dos profissionais de TI consideram que a falta de controle sobre o desempenho de cargas de trabalho baseadas na nuvem foi um grande desafio e ainda representa um obstáculo considerável à migração.
Um segredo é lembrar que visibilidade é quase tão importante quanto autoridade. Se você for capaz de ver o problema em questão e comunicá-lo ao provedor com os mínimos detalhes, será um caminho muito mais rápido para a resolução, o que, por sua vez, aliviará um pouco do estresse associado à migração da carga de trabalho para a nuvem. Sendo assim, “confie, mas verifique” deve ser o lema do profissional de TI para o ano à frente, à medida que as organizações trabalham para identificar a melhor forma de manter um elemento de controle e visibilidade de cargas de trabalho e aplicativos hospedados na nuvem. É essencial garantir que você tenha ferramentas para monitorar todos os aspectos do seu ambiente de TI híbrida, tanto no local quanto na nuvem (abrangendo qualquer coisa entre eles), e que possa se suprir de uma fonte de insights consistente e coerente.
Aprendizagem pela vida toda
Uma das constantes que descobri ao longo dos meus 30 anos em TI é o desafio que muitos de nós enfrentamos para permanecer atualizados com as novas tecnologias. Não é surpresa então que a complexidade continue sendo uma barreira para adoção da nuvem e um desafio fundamental para aqueles que já migraram. Além disso, de acordo com a pesquisa, os gerentes de datacenter admitem que consideram que os profissionais de TI que estão entrando na força de trabalho não têm as habilidades necessárias para realizar seus trabalhos atuais com êxito.
É claro que essas habilidades podem ser ensinadas, aprendidas e implementadas para preparar você e sua equipe para gerenciar os ambientes de TI híbrida e supervisionar a migração de sistemas para a nuvem. No momento, o único ponto consistente na adoção da nuvem é sua inconsistência entre empresas, departamentos, projetos e até mesmo profissionais de TI. Os gerentes de datacenter precisam aceitar que atualizar novos membros da equipe sobre o que “seu ambiente” significa quando se trata de nuvem, TI híbrida, funções como serviço etc. são coisas da vida.
Nuvem: Não é um produto multiuso
Apesar do que dizem os especialistas, a nuvem não se presta a todos cenários do datacenter. De acordo com o relatório, nos últimos 12 meses, os entrevistados realizaram a migração de aplicativos (73%), armazenamento (39%) e bancos de dados (30%) para a nuvem mais do que qualquer outra área de TI.
A maioria das pessoas se concentra no que foi migrado, mas pense nas coisas que não foram migradas. É óbvio que nessa lista de itens ausentes estão coisas como computação de desktop e aplicativos de voz, mas existem outras. E observar atentamente a conversa sobre migração para a nuvem que acontece nas notícias, na Web e, sim, nas páginas do Data Center Journal ajudará você a entender o que funciona bem na nuvem e quais aplicativos, serviços e elementos de infraestrutura devem permanecer firmemente no local do seu datacenter.
A nuvem não é gratuita, mas é bem barata
Outra informação interessante do relatório é que quase dois terços dos entrevistados disseram que gastam menos de 40% do orçamento anual com a nuvem. Isso significa que o seu orçamento no local não será eliminado, mas também é claro que o orçamento dos datacenters tradicionais está em queda, e os gerentes de datacenter inteligentes precisam estar preparados para mudar para a nova realidade no futuro próximo.
Conclusão
Estamos claramente em meio a uma dessas grandes mudanças na computação que ocorrem aproximadamente a cada década. Organizações de todos os portes estão implementando a computação em nuvem para atender melhor às demandas de uma força de trabalho adaptada aos tempos modernos. O nível de abstração de tecnologia promete aumentar a migração de sistemas e a complexidade da TI híbrida, exigindo que os gerentes de datacenter e sua equipe estejam preparados para as mudanças contínuas nos requisitos de gerenciamento e monitoramento. A importância cada vez maior da computação em nuvem e a mudança para a TI híbrida são normas em evolução. Com as descobertas de toda a pesquisa acima em mente, é de vital importância que todos nós continuemos a aprender novas habilidades e nos adaptar ao ambiente dinâmico da TI híbrida.
Leon Adato é Head Geek™ da SolarWinds