O ministro da Saúde, Ricardo Barros, disse nesta quarta-feira (17), no Rio de Janeiro, que a grave crise que atinge hospitais e institutos federais no estado deve-se à ineficiência das unidades.
“Estamos trabalhando duramente para melhorar a eficiência desses hospitais. Contratamos o Hospital Sírio-Libanês para uma consultoria com especialistas em administração hospitalar para fazer o funcionamento de todos os seis hospitais e os três institutos em rede e, assim, termos maior escala, especialização e custos mais baixos para a população”, anunciou.
Ele afirmou que esteve hoje com todos os diretores das nove unidades e pediu que ajustem o número de funcionários nas áreas onde há mais demanda. Determinou a especialização de todos os hospitais federais para aumentar a produção e a qualidade dos procedimentos e anunciou a criação de uma fila única.
“Há excesso de pessoal alocado em locais indevidos e faltam médicos onde há demanda maior. Hoje discutimos também como substituir cerca de 600 profissionais que deixarão este ano os contratos temporários, fora os muitos que estão se aposentando, porque não querem cumprir o horário que está estabelecido no padrão eletrônico de presença”, explicou o ministro. “Mas antes de iniciar as contratações, os hospitais devem se especializar. Haverá remanejamento de pessoas e assim que tivermos esse novo plano iniciaremos as contratações”.
Prazo de 60 dias
Segundo o ministro da Saúde, cada hospital já terá definida sua área de especialização em no máximo 60 dias. No início da tarde, o ministro participou de um almoço na Associação Comercial do Rio de Janeiro para falar sobre a situação da saúde no estado.
Na ocasião, o presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), Nelson Nahon, entregou um relatório com base nas vistorias sobre a situação dos hospitais federais do Rio e chamou de criminoso o estado em que se encontram as unidades de saúde geridas pelo Ministério da Saúde.
“É necessário organizar a gestão, mas neste momento é urgente fazer concurso público, contratar médicos temporários e garantir medicação digna. Está faltando morfina para paciente com câncer avançado. Estamos vivendo um caos na saúde”, explicou.
“Há medicamentos que estão em falta há quatro meses, isso é criminoso. Pessoas estão morrendo nas nossas filas cirúrgicas, por falta de medicamento e diagnóstico para tratamento de câncer, estamos deixando de operar crianças com problemas cardíacos. O paciente começa o tratamento e acaba o medicamento quimioterápico”, disse.
E acrescentou: “O Inca no ano passado recebeu menos R$ 40 milhões referentes a 2015. Houve efetivamente redução de investimentos e com a nova lei esses investimentos serão cancelados por 20 anos”.
Do lado de fora do edifício da Associação Comercial, servidores federais da saúde fizeram ato público para protestar contra a falta de medicamentos, equipamentos e novos concursos. Segundo o ministro, os servidores estão insatisfeitos porque, a partir deste mês, todos os hospitais terão ponto eletrônico por determinação do Tribunal de Contas da União.
Horário não é cumprido
“Evidentemente, isso causou grande insatisfação porque eles não cumpriam o horário acordado e previsto no concurso”, disse Barros. “O ponto eletrônico vai permitir aproveitamento melhor da mão de obra que já é paga”. Para o presidente do Cremerj, culpar os médicos é a solução mais fácil, porém injusta.
“Os médicos querem trabalhar, mas precisam de condições dignas de trabalho. Esses médicos são heróis da resistência, que se submetem a atender um paciente com câncer e ter que informar que o quimioterápico acabou”, disse Nhom. “Quer colocar ponto eletrônico, então garanta também medicamento, complete as equipes e depois discuta o perfil”, disse.
O médico comentou ainda que o Hospital Federal de Bonsucesso perderá 42 médicos até o final do ano e a emergência já ficou sem 28 profissionais. “O ambulatório de cardiologia do Hospital Cardoso Fontes vai fechar porque os médicos estão se aposentando e os temporários estão saindo. Hoje os temporários representam 43% dessas unidades”.
O Instituto Nacional de Cardiologia, que é o único no estado que faz transplante cardíaco, anunciou redução de 30% das cirurgias a partir deste mês.
Segundo o Ministério da Saúde, os repasses anuais para os hospitais e institutos federais do Rio de Janeiro permanecem regulares, totalizando R$ 1,2 bilhão para o atendimento em saúde em nove unidades. Os recursos destinados ultrapassam R$ 3,3 bilhões, considerando o custeio de pessoal.
O Ministério da Saúde informou que os seis hospitais federais no Rio de Janeiro (Andaraí, Bonsucesso, Cardoso Fontes, Ipanema, Lagoa e Servidores do Estado) apresentaram crescimento de 15% nos atendimentos de emergência (30.213) e de quase 20% nas consultas ambulatoriais (203.549) no primeiro trimestre de 2017, em comparação ao mesmo período de 2016.
Os principais indicadores de atendimento à população cresceram no período, disse em nota a assessoria do ministério. Informou também que, em 2016, os seis hospitais realizaram aproximadamente 1 milhão de atendimentos, entre emergências, consultas ambulatoriais, cirurgias e internações, com aumento de 13% nas cirurgias e de 10% nas internações.