Qualidade e melhoria contínua são fenômenos de aprimoramento que demonstram progressivamente a evolução dos padrões. São também processos essencialmente culturais e, dessa forma, envolvem a motivação, o compromisso e a educação dos participantes da entidade, que são assim estimulados a uma participação de longo prazo no desenvolvimento progressivo dos processos, padrões e produtos da entidade.
No âmbito dos cuidados em saúde, essa mudança cultural provém da base organizacional e pode envolver crenças, atitudes compartilhadas, valores, normas e comportamentos. A cultura pode refletir o caminho em que as coisas são feitas, bem como a forma como são compreendidas, julgadas e valorizadas. Essa mudança deverá ser baseada em estratégias que precisam levar em conta as necessidades organizacionais, levando a uma melhoria sistêmica com promoção do desempenho clínico e qualidade do cuidado em saúde.
Pensando em tornar os processos de melhorias mais claros e ágeis, Walter Andrew Shewart, conhecido como precursor do controle estatístico para produção em massa, desenvolveu o modelo de controle e gestão de melhoria continuada conhecido como PDCA, sigla referenciada para quatro verbos da língua inglesa: to plan (planejar), to do (fazer), to check (checar) e to act (agir). Esse modelo foi amplamente difundido por William Edward Deming e utilizado na indústria automobilística e de manufatura.
Outra ferramenta bastante utilizada para melhoria contínua e que vem ganhando espaço nas instituições de saúde é o LEAN. Esta filosofia que nasceu com o Sistema Toyota de Produção e é amplamente utilizado na manufatura, foca na eficiência dos processos, ou seja, entregar o máximo de valor com a menor locação de recursos (financeiro, humano, material, tecnológico, dentre outros).
Como o sistema de saúde figura entre os de maiores desperdícios, é fácil aceitar que o LEAN pode ser amplamente utilizado como ferramenta de melhoria para uma gestão eficiente e enxuta.
Grandes projetos com o uso dessa ferramenta começam pelo mapeamento do fluxo de valor, que nada mais é do que uma representação visual do fluxo de informações, materiais e pessoas envolvidas em um determinado processo. Assim espera-se identificar etapas, atividades e recursos desnecessários para uma determinada entrega que não agregam valor e, na medida do possível, eliminá-las.
Outros recursos propostos e muito utilizados dentro do pensamento LEAN são o fluxo contínuo e a padronização. Para isso, é fundamental estudar e entender como o trabalho é organizado e gerenciado para que as oportunidades de melhorias e as contramedidas possam ser propostas e bem aplicadas.
Iniciativas de qualidade são de responsabilidade e comprometimento do mais alto nível da administração, sendo repassados aos demais setores através de estratégias elaboradas que englobam toda a instituição. Assim, a utilização de ferramentas como o LEAN e o PDCA nas instituições de saúde não devem estar simplesmente na constância e no propósito de melhoria; é preciso que haja engajamento dos principais líderes e empoderamento dos profissionais que estão diretamente ligados ao processo e, principalmente, que as pessoas trabalhem juntas, pois só assim que os esforços ao longo do tempo vão se tornando naturalmente menos desgastantes em virtude da maturidade aumentada proporcionada por estas e outras ferramentas.
*Escrito por Paulo Henrique de Oliveira, farmacêutico clínico, MsC, Consultor de Projetos e Assessor Científico do IBSP – Instituto Brasileiro de Segurança do Paciente.