Secretário-geral da Associação Italiana de Slow Medicine e autor do livro “O Doente Imaginado”, Marco Bobbio, médico italiano é um dos grandes defensores pela filosofia de uma medicina sem pressa, com uma conexão mais intensa entre medicos e pacientes. Em passagem pelo Brasil, Bobbio fala sobre este novo movimento da Medicina, a evolução deste pensamento ao redor do mundo e as diferenças entre estudantes jovens e velhos na compreensão deste pensamento.
1-Quais são as propostas do Slow Medicine, ou da Medicina sem pressa?
Buscamos promover uma mudança das relações de escutar, dialogar e compartilhar as decisões com o paciente. A missão do Slow Medicine se baseia em três pilares: diagnóstico com moderação e sem desperdício; respeito, preservando cuidadosamente a dignidade e os valores de cada pessoa; e igualdade, com o compromisso de assegurar o acesso à saúde apropriada para todos.
2- Quais são os principais desafios para praticar a Slow Medicine?
Slow Medicine deveria se tornar uma forma de pensamento de qualquer profissional de saúde. É o cidadão que tem a consciência dos limites de sua profissão e da sua própria maneira de decidir. É aquele que evita conflitos de interesses para seguir livre e escolher o melhor tratamento para o paciente.
3- As universidades de medicina estão preparando os alunos para esta filosofia?
Muitas escolas de medicina priorizam a tecnologia ao invés de orientar o aluno para o cuidado humanizado com o paciente. Os estudantes sabem ler perfeitamente os exames ao invés de interpretar os dados e assim tomar decisões e comunicar com pacientes e seus pares.
4- E como é a recpeção dos estudantes quanto à Slow Medicine?
Observo que os jovens estudantes são mais interessados na Slow Medicine. Eles gostam de se envolver nas discussões e compreendem os limites da profissão. Já os estudantes mais velhos desprezam este movimento, considerando-o como ultrapassado e inviável para acompanhar as inovações e avanços. Acredito que durante este tempo de faculdade pensar é a forma de focar na competência, eficiência, diálogo, compreensão do ser humano, consciência crítica, humildade cultural e empatia.
Slow Medicine
O Movimento Slow Medicine tem suas origens na Itália. A expressão foi cunhada por Alberto Dolara, em 2002, em seu artigo “Un invito ad una Slow Medicine”. O autor pontuava que, à semelhança da alimentação, conforme a proposta do Movimento Slow Food, seria necessário fazer uma reconstrução dos valores relacionados à saúde, particularmente uma desaceleração do processo de tomada de decisões em algumas situações clínicas comuns na prática médica.
*Você pode conferir a entrevista na íntegra na 50ª edição da revista Healthcare Management.