A família de uma aposentada paulistana de 86 anos enfrentou semanas de angústia depois de receber o resultado de um exame de sangue com diagnóstico de leucemia. Após ser examinada por um hematologista foi verificado que o estado clínico da paciente era incompatível com o resultado do exame. Analisada por um segundo especialista, que pediu nova coleta, a suspeita do médico foi confirmada: a aposentada não estava doente.
Assim como neste caso dezenas de outros erros são vivenciados pelos laboratórios diariamente no Brasil. Eles ocorrem com maior frequência na fase pré-analítica do processo, quando pode acontecer a identificação incorreta da amostra ou sua contaminação, cadastro errado do paciente, amostra colhida em tubo trocado e até troca de pacientes durante a coleta. “Cerca de 46-68% dos erros ocorrem nesta fase”, salienta Eduardo Ferraz, avaliador da ONA (Organização Nacional de Acreditação).
Um paciente está vulnerável ao erro laboratorial, no entanto, em qualquer fase do processo (pré-analítica, analítica e pós-analítica), ou seja, desde a expedição do pedido médico, passando pelo atendimento, cadastro, coleta das amostras, realização das análises, liberação dos resultados até sua interpretação.
“No laboratório clínico, como em qualquer atividade de saúde, temos riscos que podem ser eliminados ou reduzidos. Uma organização que esteja centrada na segurança do paciente tende a reduzir a um mínimo aceitável o risco de dano desnecessário associado ao cuidado de saúde”, explica Ferraz.
Para que esses riscos sejam reduzidos, a liderança precisa também estar atenta à gestão da equipe e dos processos. O avaliador explica que cada vez mais os laboratórios têm se modernizado por meio da aquisição de equipamentos, mas nem sempre investem em pessoas. “Os profissionais são fundamentais para o alcance dos resultados esperados na ótica da qualidade”, afirma.
A liderança tem impacto direto no clima organizacional, no desempenho das equipes e nos resultados obtidos. “Não basta padronizar os processos, eles devem ser implementados e treinados, ter a eficácia verificada e os resultados monitorados. Se os resultados não alcançarem as metas e objetivos, as causas devem ser investigadas e ações de melhoria propostas.” As experiências vividas em cada ciclo devem embasar as melhorias dos ciclos seguintes.
Os profissionais de saúde, dentro de uma cultura de segurança, precisam entender o paciente e encorajá-lo a abandonar o papel de espectador passivo para atuar como peça-chave no seu cuidado. “O paciente pode ser parte ativa na gestão dos riscos, como por exemplo, conferindo a identificação das amostras, a adesão ao protocolo de higienização de mãos, fornecendo corretamente dados do cadastro incluindo o nome”, destaca Ferraz.