Ainda há uma longa estrada a ser percorrida quando o assunto é inovação no país. Segundo a Bloomberg Rankings, o Brasil ocupa a longínqua posição 47º entre os países mais inovadores do mundo. Quem está na liderança é os Estados Unidos, com as empresas do Vale do Silício sendo os grandes carros-chefes desta conquista.
O primeiro passo para avançar nesta corrida está no diálogo entre universidade, indústria e governo. Além de fomentar este intercâmbio, também é preciso melhorar o ambiente de negócio. “Devemos melhorar a cultura das academias que estão amarradas para repassar suas inovações ao mercado. Além disso, é necessário criar um ambiente que atraia investidores e que propiciem uma maior assunção de riscos”, afirma Carlos Goulart, Presidente-executivo da ABIMED.
Valter Pieracciani, consultor da Pieracciani Desenvolvimento de Empresas, acredita que, de maneira geral, o Brasil tem feito o que é preciso para a inovação do país, porém a passos lentos. “Estamos investindo em Pesquisa e Desenvolvimento, trabalhando com as universidades e usando incentivos do governo. Mesmo assim, temos um enorme fosso que separa, de um lado, cientistas que olham para os dirigentes de empresas como tubarões e, de outro lado, empresários que creem que os trabalhos das universidades têm pouca utilidade e não se aplicam ao mundo dos negócios.”
Outro obstáculo para a inovação é a falta de uso amplo e simplificado de financiamentos a juros subsidiados e reduções de impostos oferecidos para empresas que inovarem. “Superando esses obstáculos é que a Coreia se tornou uma das nações mais inovadoras do mundo. Precisamos fazer o mesmo no Brasil. Caberá a especialistas e consultores o trabalho de construir pontes sobre esse fosso e apoiar as empresas a fazerem, cada vez mais, o uso amplo e seguro dos incentivos”, afirma Pieracciani.
Aurimar Pinto, Diretor-executivo de Relações Institucionais da ABIMED, ressalta que a inovação no setor de produtos para a Saúde também passa pelo reconhecimento da complexidade de sua cadeia de suprimentos. “Este olhar inclui a contribuição legítima e necessária de seus atores neste processo, principalmente dos profissionais da saúde. Capturar as reais necessidades destes agentes em favor de procedimentos mais seguros e eficazes aos pacientes faz a diferença no momento de inovar.”
Não são apenas os pacientes que ganham com a inovação, mas também as instituições de saúde que passam, cada vez mais, a serem gerenciadas com foco em produtividade e qualidade.
Vale ressaltar também o importante equilíbrio entre tecnologia e custos. “Uma boa gestão consegue operar sempre dentro de limites positivos para todas as partes interessadas, combinando tecnologia, resultados e acessibilidade. As fontes pagadoras, por sua vez, reconhecem que a tecnologia pode, muitas vezes, reduzir custos globais quando se olha para o ciclo completo pelo qual passa um paciente”, ressalta Aurimar Pinto.
Gestão da inovação – Quando menos é mais
Simplificar e desburocratizar. Esses são elementos fundamentais quando se fala em inovação na gestão. Tais mudanças, segundo especialistas, trariam benefícios imediatos a todas as partes interessadas.
“Precisamos eliminar etapas e processos que não geram nenhum valor. Essas mudanças dependem, muitas vezes, da cooperação em consenso entre fontes pagadoras, organizações de saúde, pacientes e órgãos de defesa do consumidor e governo. Não teremos inovações radicais na gestão enquanto não tivermos fóruns de discussão aos quais pertençam essas partes interessadas”, defende Pieracciani.
Aurimar também compartilha este pensamento e salienta que a inovação dos processos é uma importante ferramenta para uma maior transparência em cada elo da cadeia de suprimentos. “Com isso os serviços podem ser compreendidos e corretamente legitimados para que a eficácia e a segurança embarcada nos produtos possam chegar integralmente aos pacientes, e seus custos justamente renumerados. Também é importante que empresas adotem processos de Gestão de Inovação tal como qualquer outro processo de marketing, finanças, produção ou vendas.”
A regulamentação é outra questão a ser repensada, afinal, quando o assunto é inovação, velocidade passa a ser tão importante quanto às características inovadoras que estão sendo geradas. “A regulamentação é essencial em qualquer país. Ela não pode ser, no entanto, uma barreira para a inovação. Se quisermos nos tornar uma nação inovadora, será preciso rever esses freios regulamentares à inovação e criar fast tracks”, explica Pieracciani.
* matéria publicada na edição 37ª da revista Healthcare Management.