Certamente a saúde é uma das áreas com maior inovação, porém mais voltada para equipamentos, novas drogas, medicina personalizada, e menos avançada em processos de gestão ou softwares.
No passado, quando empresas de outras áreas já tinham adotado conceito de sistema integrado, os ERPs (Enterprise Resource Planning), estávamos fazendo processamento de contas, depois na onda do BI (Business Intelligence) não tínhamos ainda informações para tangibilizar o benefício destas ferramentas. Na área de processos é bem recente o conceito de Lean Healthcare, por exemplo.
Parece que há uma diminuição neste distanciamento das soluções de saúde em relação às demais industrias, com muito mais hospitais indo além da informatização integrada das áreas administrativas, ampliando para área assistencial, Prontuário Eletrônico do Paciente, mesmo que no Brasil esta área assistencial seja atendida ainda de forma incipiente no que tange a entrega de melhoria assistencial, guidelines ou algo mais avançado de suporte a decisão clínica, mas estamos caminhando.
Também se fala em Big Data em Saúde, que pode ser revolucionário, pois existe muito conhecimento para ser extraído e aplicado, mas como teremos estas informações disponíveis se não temos sistemas com coleta de informações no chamado point-of-care, ou ponto de cuidado, beira-de-leito?
Este é um solo fértil para inovação. Pelo que já vi nos EUA, existem muitas informações assistenciais disponíveis nos sistemas lá existentes pelo alto nível de integração dos equipamentos beira-de-leito direto nestes sistemas.
Um dos meios de viabilizar esta coleta no ponto de atenção seria também através de dispositivos móveis, mas sempre foi difícil de operacionalizar, ou pela dificuldade de lançarmos mão do conceito de BYOD (Bring Your Own device), o que comprometeria a questão de confidencialidade dos dados do paciente num equipamento do próprio profissional, segurança, questões legais/trabalhistas, ou também pelos riscos envolvidos em distribuir o equipamento, que incorreria numa questão de gerenciamento de dispositivos, danos, desvios, etc… Mais um caso de inovação que a tecnologia pode resolver e mesmo assim, temos vários fatores que dificultam a adoção, isto que ainda não falamos em custo e usabilidade.
Desta forma, somente teremos inovação se tornarmos uma invenção viável. Não devemos nos deter a modismos e sim ao resultado final, ou seja, o benefício que traremos à saúde.
Um exemplo que temos foi da onda de migração dos softwares Hospitalares (HIS) para ambiente WEB como fosse uma grande inovação tecnológica, onde em alguns processos é inviável no quesito performance das aplicações ou usabilidade em ambientes que requerem manuseio intensivo das informações, integrações com dispositivos, etc… Aí entra a necessidade de um roadmap orientado ao resultado da inovação e não ao apelo comercial ou intenção de pioneirismo sem resultado.
Uma prática recomendada é a inovação em rede, que envolva o agente da saúde, orientado a real necessidade, proporcionando um ambiente de co-criação, sempre em ciclos iterativos e rápidos, em constante alinhamento.
Outra busca que poderíamos perseguir é a coopetition, onde os players algumas vezes podem cooperar com seu diferencial para o ecossistema de saúde, apesar de ser difícil ainda imaginar este cenário, pois nem vencemos ainda questões inerentes a interoperabilidade de sistemas, que poderia melhorar muito a integração em rede de todos prestadores em todos níveis de atenção ao paciente.
Por fim, devemos pensar nas muitas startups de saúde que surgem e sinalizar a importância de integração de suas soluções com as empresas que operacionalizam o sistema de saúde para podermos entregar inovação alinhada a necessidade. Por mais disruptiva que a solução seja, ela tem que estar em rede, integrada aos sistemas e entregando resultado de forma viável.
O sonho grande é que possamos trabalhar todos num único objetivo de melhorar a saúde, numa soma positiva onde todos envolvidos alavanquem nossa área a um novo patamar de efetividade e racionalização dos recursos.