A formação na área de biotecnologia engloba desde a biologia geral e tecnologia da informação até a robótica e estatística, estrutura mais avançada que a da produção de medicamentos de origem química. Justamente por esse nível de complexidade, as indústrias farmacêuticas que pretendem produzir medicamentos biológicos no Brasil vêm sofrendo com a falta de recursos humanos qualificados, o que atrasa o início da produção das drogas em território nacional. Para reverter o quadro, hoje muitas empresas estão investindo no treinamento de pessoal, porém ainda falta muito para que o setor conte com uma força de trabalho satisfatória. O assunto será tema de debate do 8º Encontro Nacional de Fármacos e Medicamentos (ENIFarMed), que acontece nos dias 8 e 9 de setembro, em São Paulo.
De acordo com Camille Silva, diretora médica da Zodiac, para que os projetos de biotecnologia saiam do papel são necessários profissionais que possuam competências que as empresas não têm. “Nossa equipe aqui nas indústrias farmacêuticas é mais básica, então essa nova equipe requer capacitações que as pessoas que trabalham no P&D não estão acostumadas a fazer”, explica.
Segundo ela, as empresas não fizeram um bom dimensionamento dos recursos e demoraram a perceber que esse tipo de P&D não era tão simples como o de desenvolvimento de genéricos, o que atrasou a capacitação. “Isso vai demorar um pouco, elas acharam que já iriam começar fazendo e tiveram que dar um passo atrás e se reorganizar”, destaca Camille.
Apesar do atraso no qual o País se encontra, há empresários otimistas quanto à qualidade dos recursos humanos existentes aqui. Andrew Simpson, presidente da Orygen, é um deles. Ele ressalta que ainda que o campo da biotecnologia esteja deficiente, o Brasil possui grandes profissionais talentosos disponíveis. “Nós vamos treinar pessoas, mas não acho que isso será o nosso maior problema”, assegura.
Para suprir a demanda, Simpson acredita que as empresas precisam se mobilizar para identificar quem são esses talentos e implementar seus planos. “Existem brasileiros no exterior com bastante experiência e também temos jovens talentosos aqui, inclusive em outros setores industriais bem parecidos que podemos aproveitar”, afirma.
Já Márcia Martini Bueno, diretora de relações institucionais da Libbs, acredita que a busca por profissionais especializados não é tão fácil como parece e que é preciso fazer investimentos para melhorar a qualidade dos recursos humanos do setor. “É preciso muito investimento em formação de nível técnico e parceria com as universidades para que os profissionais formados tenham conhecimento teórico e também conhecimento prático de modo a atender a necessidades para o desenvolvimento do setor”, ressalta.
No entanto, a diretora diz que é possível transpor as dificuldades da cadeia de P&D para o desenvolvimento de biológicos com a cooperação entre a indústria brasileira e as universidades. Hoje, muitas universidades têm a infraestrutura necessária para realizar pesquisas, mas não investem na interação com a indústria para capacitar seus profissionais. “O ideal é que haja um esforço conjunto entre indústria e academia visando uma cooperação recíproca para formação de profissionais em alinhamento com as necessidades da indústria”, aponta Márcia.
Serviço
8º Encontro Nacional de Fármacos e Medicamentos (ENIFarMed)
Data: 08 e 09 de setembro de 2014
Local: Av. Rebouças, 600, Cerqueira César, São Paulo, SP
Inscrições em www.ipd-farma.org.br