Na manhã da última sexta-feira (18), a inclusão digital e as tecnologias aditivas foram temáticas de ampla discussão no segundo painel médico-hospitalar do CIMES. O encontro foi moderado por Dirceu Barbano, consultor da ABIMO e diretor da B2CD Consultoria Empresarial, e recebeu os convidados Tobias Zobel, diretor do Instituto Central de Engenharia Médica na Universidade Friedrich-Alexander de Erlangen-Nuremberg, na Alemanha; Eduardo Mário Dias, pesquisador e coordenador do Gaesi (Gestão em Automação e Tecnologia da Informação, do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétrica, da Escola Politécnica, da Universidade de São Paulo); e Guto Drummond, gerente comercial da TechCD.
A manufatura avançada – uma das tecnologias da Indústria 4.0 – promete mudar a forma de operação de todas as cadeias produtivas, o que inclui o segmento da saúde. Nesse contexto, a mudança na forma de fabricar e entregar produtos impõe urgência às discussões sobre a Medicina 4.0. Sob o mote de que a digitalização traz vantagens que devem ser aproveitadas, o painel buscou traduzir o significado das oportunidades existentes envolvendo as tecnologias médicas que buscam melhorar a produção brasileira de acordo com as necessidades do mercado.
Guto Drummond iniciou o discurso destacando que a impressão 3D é um método que está ganhando maior notoriedade nos dias atuais. “Algumas pessoas acham que a impressão 3D é algo que está surgindo agora, porém é antigo. Em 1996 a Stratasys vendeu a primeira impressora 3D. Isso mostra que ela já existe há algum tempo no Brasil, mas está tomando corpo agora. A relação entre a Indústria 4.0 e a impressão é algo que se acredita que vai trazer novas formas de produção, com produtos específicos para atender necessidades.”
Ele fez pequenas provocações aos empresários presentes no evento com questionamentos para que percebessem quão importante é olhar para todos os lados da impressão 3D e para suas inúmeras aplicações. “Os empresários que ainda não olharam para impressão 3D têm que sentir incomodo, pois é uma grande oportunidade de retorno de investimento”, disse.
“É preciso pensar que os investimentos proporcionam o lançamento de produtos customizados mais rapidamente para o seu cliente, reduzindo custos e fazendo coisas que só seriam possíveis com a manufatura tradicional”, completou.
Drummond chamou a atenção ainda para os atrasos na implementação de tecnologias e reforçou que a indústria já tem esse olhar, contudo é muito aquém do que realmente deveria ser. “Mundo afora, de maneira geral, está muito mais avançando do que o Brasil. Estamos em torno de cinco a oito anos atrasados em relação a outros países. Acredito que o motivo concentra diversos fatores, como a questão econômica, a falta de investimentos, as cargas tributárias; porém, quando abrimos o olhar e entendemos que a impressão 3D vai trazer benefícios reais de custo e desenvolvimento, de pronto não serão despesas para as empresas, e sim lucratividade.”
Em seguida, Zobel trouxe para a discussão o impacto que o uso de manufatura aditiva provocou no trabalho dos médicos na Alemanha e como esse modelo pode ser benéfico para o Brasil. “A manufatura aditiva influenciará o modo como eles preparam e realizam cirurgias. Permitirá a customização de próteses, implantes, materiais para a reconstrução facial, implantes cranianos, etc. Os softwares permitem simular cirurgias e treinar profissionais em situações reais. É claro que a manufatura aditiva não se restringe à área cirúrgica”, destacou
Na Alemanha as empresas precisam de registro para ter qualificação do processo de impressão, e quem participa dos processamentos é um designer especialista na área de TI e de saúde, que precisa de conhecimento fundamental na área de saúde, bem como de informática. Para Zobel, as companhias e os cientistas brasileiros atendem a todas as demandas para construir um sistema de saúde moderno e digitalizado. “Eu sempre fico impressionado com a motivação dos jovens empreendedores nas universidades e também com a dinâmica organizacional das empresas de pequeno e médio porte que atuam com inovação no Brasil”, disse.
Investimento em pesquisas
No decorrer do painel, o pesquisador Eduardo Dias defendeu a necessidade de os professores das universidades brasileiras impulsionarem o desenvolvimento de pesquisa em prol das insuficiências do país. “Na saúde é preciso urgentemente investir em tecnologia. Está na hora de o Brasil acreditar na sua inteligência, e os professores precisam se mexer e atender às necessidades do país”, argumentou.
“Precisamos pensar em transformar a tecnologia em realidade, pois os hospitais são carentes de tecnologia. Projetos têm que ser bem-escritos e planejados”, completou.
Dias apontou ainda a integração das linhas de pesquisa, permitindo mais agilidade na transferência de conhecimento para o setor produtivo. “Os laboratórios trabalham de forma autônoma. Com o avanço da manufatura aditiva, precisamos de um ambiente de cooperação para acompanhar o ritmo”, comentou.
Regulação
Na academia os esforços são crescentes para estabelecer os limites de segurança e eficácia dos produtos. Barbano alertou, no entanto, que a regulamentação do setor ainda não acompanha o ritmo das inovações, mas que isso não pode ser visto como desanimador.
“A regulação é natural. Não é cômodo que o ambiente regulatório se coloque à frente da indústria. Isso impõe desafios, e os reguladores precisam encontrar formas de avaliar como a regulação pode equilibrar o mercado, a fim de não permitir assimetrias em competitividade. É importante que o regulador estabeleça regras, afinal há regulação para tudo, e na saúde não é diferente. É bastante desafiador, porém isso não pode inibir as iniciativas das empresas de investimentos nessa área”, argumentou o moderador do painel.