Investimento público em pesquisa científica é fundamental para o lançamento de novos produtos e tecnologias na Saúde. Em maio deste ano, o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), assinou um decreto para a implantação de um núcleo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Ribeirão Preto (SP).
A discussão para a implantação de um projeto da Fiocruz no estado de São Paulo não é nova. As tratativas começaram em 2000, mas foi no ano passado que um acordo bipartite entre a Fundação e a Universidade de São Paulo (USP) foi assinado, possibilitando ações oficiais da Fiocruz no estado.
A discussão sobre a expansão nacional das atividades da Fundação faz parte de um posicionamento estratégico do Estado Brasileiro. “Vinculada ao Ministério da Saúde, a Fiocruz deve estar presente, de forma nacional, junto aos bons projetos que possam melhorar a qualidade de vida do brasileiro”, diz o pesquisador titular Rodrigo Stabeli, que é responsável pela coordenação da plataforma da Fiocruz em Ribeirão Preto. “O acordo possibilita o trabalho conjunto de pesquisadores de vanguarda das duas instituições em um ambiente criativo, propício para criar subsídios para a transformação do conhecimento científico em produto para a população”, acrescenta.
A IMPLANTAÇÃO
Eduardo Cicconi, gerente do Supera Parque de Inovação e Tecnologia, informa que o decreto assinado pelo governador Geraldo Alckmin determina estudo para definir detalhes sobre o financiamento para a instalação do núcleo.
Segundo Stabeli, o Supera Parque foi escolhido por ser um dos parques do Brasil que possui a maior concentração de empresas em saúde do país. Ele destaca ainda que a implantação da Fiocruz em Ribeirão Preto prevê duas linhas de atuação:
– em pesquisa básica orientada à aplicação e com convergência tecnológica para produção em escala de candidatos a medicamentos ou insumo diagnóstico no espaço destinado pela Faculdade de Medicina da USP/RP;
– instalação de uma planta de montagem e controle de qualidade de diagnóstico Point Of Care (POC) a ser instalada no Supera Parque, da Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto.
Cicconi destaca que o dispositivo para diagnóstico Point of Care (POC) deve ser capaz de avaliar rapidamente várias doenças (infecciosas ou não), por meio de uma tecnologia que não existe no Brasil. “A planta POC proporcionará uma inovação na oferta e confecção em diagnósticos realizados no país e uma planta inédita. A intenção é oferecer diagnósticos complexos em equipamentos simples de forma que o próprio cidadão ou as unidades básicas de saúde possam realizar os exames sem ter que procurar laboratórios complexos. Os primeiros a serem ensaiados serão na área das doenças tropicais, como dengue, zika e chikungunya”, detalha Stabeli.
A planta do núcleo da Fiocruz em Ribeirão Preto demandará um investimento de R$ 54 milhões, financiado pelo governo de São Paulo. Deste total, R$ 18 milhões devem ser investidos ainda em 2017. “A Fiocruz entra com contrapartidas não financeiras e o governo estadual com as financeiras”, diz Cicconi. Para a concretização do projeto, cabe ao Supera Parque oferecer a estrutura física para a instalação do laboratório da Fiocruz.
RIBEIRÃO PRETO E REGIÃO
A chegada do núcleo da Fiocruz a Ribeirão Preto tem tudo a ver com a identidade local. Cicconi lembra que a cidade é um celeiro de ideias inovadoras e reúne centenas de ótimos pesquisadores na área da Saúde. “Temos aqui, por exemplo, um dos melhores cursos de Medicina do país, cientistas premiados internacionalmente, uma estrutura física para pesquisa nas mais diversas áreas, além de uma grande concentração de empresas na área médica”, relata.
“O núcleo é uma conquista para Ribeirão Preto, que se consolida como um importante polo de inovação em Saúde. Aqui temos o parque tecnológico, que concentra uma incubadora de empresas, um centro de tecnologia, uma aceleradora de empresas e é sede dos APLs (Arranjos Produtivos Locais) da saúde e do software”, conclui Cicconi.
TECNOLOGIA AGREGA VALOR
A Fiocruz é o maior laboratório nacional para pesquisa e produção de bioinsumos para a saúde. “A Fundação e a USP, juntas, poderão criar subsídios para encurtar o tempo necessário para a produção de bioterapêuticos, diagnósticos e insumos a partir da biotecnologia”, sublinha Stabeli.
O acordo de instalação do núcleo planeja a implantação de um projeto inovador para o Brasil a partir de uma plataforma bi-institucional de Medicina translacional. A plataforma tem o objetivo de fazer pesquisa direcionada à entrega de produtos e bens para a saúde, como insumos terapêuticos e protótipos de vacina e diagnóstico.
O Brasil importa basicamente toda tecnologia em Saúde, seja ela em medicamentos ou em equipamentos. O Fortalecimento do Complexo Econômico e Industrial da Saúde brasileira é um dos caminhos para o desenvolvimento, de forma sustentável, do país. “Temos que entender que, sem valor agregado em tecnologias produzidas nacionalmente, não teremos como praticar mudança em nossa economia”, dispara Stabeli. “Sem ciência e tecnologia não existe desenvolvimento em país nenhum.”
*Matéria publicada na 49ª edição da Healthcare Management. Clique aqui e confira a edição completa.