Em uma iniciativa inovadora, o Hospital Moinhos de Vento (Porto Alegre/RS) passou a operar uma tecnologia inédita no Brasil. Nesta terça-feira (10), um paciente com câncer de próstata foi submetido a um tratamento de radioterapia que diminui a dose de radiação nos tecidos sadios e aplica uma quantidade mais precisa. A instituição passa a operar a partir de agora o Sistema Calypso, mesma tecnologia adotada em 17 dos 25 hospitais de referência no tratamento de doenças oncológicas nos Estados Unidos.
A aplicação da radioterapia, uma das formas de tratar o câncer, é feita através da demarcação de uma área do corpo onde o feixe de radiação será aplicado. O diferencial do Sistema Calypso, acessório acoplado ao TrueBeam (acelerador linear onde é feita a radioterapia) é o acompanhamento em tempo real a movimentação do órgão a ser tratado. Para isso, o paciente recebe três implantes de sete milímetros na próstata uma semana antes do procedimento. O implante dos localizadores que funcionam como um GPS é feito ambulatorialmente e o paciente pode seguir sua rotina sem limitações.
“É como se tivéssemos um piloto automático que usa os implantes como referência. O tratamento é mais rápido, com menos efeitos colaterais e permite a entrega de uma dose mais concentrada de radioterapia”, ressalta o Coordenador da Unidade de Radioterapia e Radiocirurgia, Wilson de Almeida Junior. Com a localização precisa do tumor é possível diminuir os efeitos colaterais sobre a bexiga, intestino e disfunção erétil, além de aplicar uma dose maior de radioterapia, diminuindo o tempo de tratamento.
Em agosto de 2016, o Hospital Moinhos de Vento inaugurou um dos centros de Oncologia mais modernos do Brasil. A instituição investiu R$ 30 milhões para a construção da unidade. Destes, R$ 25 milhões foram destinados à compra dos três aceleradores lineares com a plataforma TrueBeam e R$ 5 milhões para a estrutura física. Os outros dois aceleradores lineares entrarão em operação em 2017 e 2018. “Essa novidade só foi possível graças a um planejamento estratégico da gestão que colocou como meta tornar o Moinhos de Vento uma referência no tratamento do câncer no Brasil e na América Latina”, ressalta o Superintendente Administrativo do Hospital Moinhos de Vento, Evandro Moraes.
Em um estudo recente realizado em centros de tratamentos radioterápicos nos EUA pesquisadores conseguiram aumentar as doses de radioterapia e diminuir as margens da radiação de 10mm para 3 mm – o que foi decisivo para melhorar os resultados do tratamento. “A consequência é a redução dos efeitos colaterais e da toxicidade aos tecidos saudáveis”, aponta o Chefe do Serviço Médico do Centro de Oncologia, Sérgio Roithmann.
O paciente Ivo Fernando Noll, primeiro a passar pelo procedimento com a nova tecnologia, ressalta: “Isso me deixa com uma expectativa de vida futura maior do que tenho agora. Tenho a probabilidade de ser quem eu era em um tempo muito menor com essa nova tecnologia”. Ivo retorna agora à instituição onde nasceu há 74 anos para realizar o tratamento da doença que descobriu há seis meses.
A mesma tecnologia será utilizada em breve com outros três pacientes, sendo duas com câncer de mama. Nestes casos, os transponders serão aplicados superficialmente na própria pele, permitindo que a radiação preserve o coração conforme o movimento respiratório das pacientes. No futuro, também passará a operar em órgãos como bexiga e pulmão.