Imagine anos e anos de uma vida sem sons, em silêncio. Parece difícil, mas essa é a realidade de milhares de pessoas em todo o mundo – 300 mil somente no Brasil, segundo estimativas de especialistas – que possuem surdez severa ou profunda, quando não se escuta nada ou muito pouco. Contudo, em Ipatinga, para dois pacientes do Hospital Márcio Cunha, 2015 pode significar um ano novo de vida e sons novos. Em dezembro, eles foram os primeiros a receber o implante coclear, uma técnica inédita na cidade que permitirá a ambos voltar a escutar em algumas semanas.
“Ao disponibilizar essa tecnologia para pacientes do Leste de Minas Gerais, o Márcio Cunha avança de forma significativa na oferta de tratamentos resolutivos e de qualidade para pacientes com perda auditiva e torna-se um dos poucos hospitais de Minas Gerais aptos a realizá-la”, destaca o superintendente do Hospital Márcio Cunha, Mauro Oscar Soares de Souza Lima. “Além desse importante passo, outras novidades estão previstas para a otorrinolaringologia do hospital no ano de 2015”, complementa. A realização do implante auditivo inédito virou realidade com o ingresso do médico otorrinolaringologista e especialista em implante coclear, Rodrigo Magalhães, ao Corpo Clínico do HMC.
A expectativa agora é expandir a técnica e ajudar a dar vida nova a muitos outros pacientes. Segundo o médico, cerca de 2 mil pessoas no país já possuem o implante coclear. “O implante coclear, também conhecido como ouvido biônico, é a substituição das funções de uma parte danificada do ouvido interno de pessoas com surdez total, a cóclea, por um equipamento eletrônico, um espécie de prótese com duas partes. Uma é composta de um fio transmissor de impulsos elétricos, colocada cirurgicamente dentro da cóclea, e de um estimulador, que também é inserido durante a mesma cirurgia e que fica debaixo da pele, atrás da orelha. A outra parte é inserida semanas depois, do lado de fora da orelha, fixada ao couro cabeludo”, explica a médica coordenadora da Clínica de Otorrinolaringologia do HMC, Soraya Alves Pereira.
Localizada no ouvido interno, após a membrana do tímpano e dos ossinhos por onde passam as vibrações do som captadas pela orelha, a cóclea é uma estrutura em formato de caracol. Nela, há células com pequenos pelinhos, chamados de cílios, que transformam a vibração em sinais elétricos. Os nervos auditivos recebem esses sinais e os levam direto para o cérebro, onde são interpretados. “O que acontece no caso dos dois pacientes operados no Hospital Márcio Cunha, assim como em diversas pessoas surdas, é a ausência ou falha nos cílios da cóclea, comprometendo essa transmissão do som até o cérebro. Daí a importância do implante coclear, que capta os sons através do processador fixado na parte externa e envia esses sinais à parte interna implantada na cóclea, que, por sua vez, transmite-os ao nervo auditivo, realizando o processo de escuta de identificação dos sons”, conclui o médico Rodrigo Magalhães.
A expectativa é que, em janeiro, os primeiros pacientes que receberam o implante coclear finalizem a segunda parte do procedimento, quando, com o auxílio de uma fonoaudióloga, é instalado e ativado o processador externo. Após a ativação, a fonoaudióloga acompanha ainda o paciente por meses e até anos, ajustando os parâmetros ideais de estimulação elétrica para captação e compreensão correta dos sons.