Felipe Kietzmann ocupará a presidência da Abimed até 2019. O novo presidente visa contribuir com um estilo de trabalho analítico e diplomático, mas sem deixar de imprimir “o senso de urgência necessário para cumprir com o planejamento estratégico da Associação”
Entre 2014 e 2017, o Conselho de Administração da Abimed (Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde) esteve sob a liderança de Fabrício Campolina, diretor Senior Ethicon Brasil na J&J. Seu mandato representou um salto de amadurecimento da associação, com grande aumento no número de empresas associadas, encerrando o ano com 230 empresas associadas.
A partir do ano que vem, o novo Conselho de Administração da Abimed estará sob a liderança de Felipe Kietzmann, diretor de Compliance para a região da América Latina e Caribe da Alcon, empresa do grupo Novartis. “O novo Conselho foi formado buscando um delicado equilíbrio entre continuidade e inovação”, afirma o novo presidente.
Para compor esta nova diretoria foram convidados profissionais renomados de empresas que ainda não participavam do Conselho de Administração. E, pela primeira vez na história da entidade, o Conselho contará com a participação de duas executivas, Simone Agra, Gerente Geral para a América Latina da Edwards, e Neide Kawabata, presidente da B. Braun no Brasil, que ocupam posição de liderança em suas empresas. “Eu estou seguro de que essa pluralidade produzirá novas ideias e abordagens, além de fomentar maior engajamento por parte de outras empresas associadas”
Confira abaixo a entrevista com Felipe Kietzmann como presidente da Abimed para Healthcare Management.
1- Quais foram seus cargos anteriores na Abimed e suas principais contribuições?
Fui eleito em 2015 como membro da Comissão de Ética da ABIMED, que naquele momento contava com apenas 3 integrantes. Em 2016, fui eleito presidente da nova Comissão de Ética (biênio 2016-2017) e, como primeiro ato, alteramos a composição de 3 para 5 membros, aumentando sua representatividade e a qualidade das discussões. Em 2016, tomei parte na iniciativa do Conselho de Administração que revisou o Estatuto Social da Abimed e coordenei a elaboração do primeiro Regimento Interno da Comissão de Ética. Em 2017, além de coordenar atividades regulares da Comissão de Ética, sobretudo dando suporte direto ao Conselho de Administração (o que me aproximou efetivamente da gestão da Abimed), promovemos uma revisão extensiva do Código de Conduta da associação. A nova versão do Código de Conduta, que se tornará válida a partir de 1º de janeiro de 2018, recebeu pela primeira vez a chancela do CFM – Conselho Federal de Medicina, o que é um acontecimento memorável.
2- Qual a sua avaliação do mandato anterior da Abimed?
Encerraremos o ano com cerca de 230 empresas e produção de conteúdo cada vez mais qualificado. Como consequência, a Abimed vem sendo reconhecida como uma das principais vozes na interlocução com o governo e com os reguladores da cadeia da Saúde. Adicionalmente, a entidade evoluiu muito também em relação à sua bandeira de promoção da Ética e de Compliance, tendo produzido duas versões atualizadas do seu Código de Conduta (em 2014 e 2017), aplicável a todas as empresas associadas, com regras de conduta cada mais alinhadas às melhores práticas internacionais.
3- Qual a mensagem para o mercado com sua eleição como presidente do Conselho de Administração da Abimed?
Entendo que a escolha de um profissional com o meu perfil pelas empresas associadas para assumir a Presidência do Conselho de Administração está carregada de simbolismos. O primeiro diz respeito a uma mudança de paradigma em relação aos profissionais das chamadas “áreas de suporte”, notadamente, no meu caso, com background Jurídico e de Compliance. Cada vez mais, o mercado tem reconhecido essas funções não apenas como apoio, mas como parceiros estratégicos para suas operações. Esse entendimento, cada vez mais disseminado nas empresas, é incorporado pela primeira vez por uma associação setorial. Já o segundo simbolismo está relacionado a algumas das prioridades da associação: reforçar ainda mais nosso compromisso com a promoção da Ética e do Compliance no setor da Saúde, bem como fortalecer a Governança Corporativa e os processos internos da associação, inclusive para ampliar sua representatividade e o engajamento dos associados.
4- Na sua opinião, quais são os diferenciais deste novo conselho?
O novo Conselho de Administração da Abimed foi formado buscando um delicado equilíbrio entre “continuidade” e “inovação”. Daremos continuidade às inúmeras iniciativas bem-sucedidas e que contarão com representantes de associadas que possuem um sólido histórico de contribuição com projetos e com os grupos de trabalhos. Por outro lado, para compor esta nova diretoria foram convidados também profissionais renomados de empresas que ainda não participavam do Conselho de Administração. E, pela primeira vez na história da entidade, contaremos com a participação de duas brilhantes executivas, Simone Agra e Neide Kawabata, que ocupam posição de liderança em suas empresas. Eu estou seguro de que essa pluralidade produzirá novas ideias e abordagens, além de fomentar maior engajamento por parte de outras empresas associadas.
5- Há uma grande expectativa de implementar no mercado padrões éticos e de transparência. Qual a sua análise sobre esse anseio da comunidade da saúde e como a Abimed atuará para este fim?
Desde a sua fundação, em 1996, a Abimed possui um firme compromisso com a promoção da integridade no setor. É louvável que já no longínquo ano de 2006, muito antes de se falar em lei brasileira anticorrupção, lava-jato ou máfia das próteses, a Abimed tenha sido pioneira na publicação de um Código de Conduta, que agora chega à sua 5ª edição (2017). O fato de, como profissional especializado em Compliance, Governança Corporativa e Direito Empresarial, eu ter sido convidado e eleito pelas próprias empresas para assumir essa posição de liderança na associação é um sinal inequívoco de que a Abimed continuará atuando com protagonismo para que sejam corrigidos os principais desvios e desequilíbrios no setor da Saúde, em um trabalho conjunto com o governo, reguladores, profissionais de saúde e demais membros da cadeia, sempre com absoluta transparência.
6- A Abimed tem sido muito atuante junto à Anvisa. Como você avalia este diálogo e quais serão as principais demandas da associação para a Agência?
Desde a sua fundação, a Abimed estabeleceu diálogo contínuo com a Anvisa, que hoje está em um estágio extremamente aberto e contributivo. Em 2016, foi assinado um “Contrato de Cooperação” entre associações setoriais e a agência, que facilitou muito o nosso intercâmbio. Fazem parte dessa parceria discussões sobre a agenda regulatória, que é revista periodicamente, até casos específicos de consulta pública e potenciais novas normas. A Anvisa tem sido bastante receptiva em relação à Abimed, respondendo seus questionamentos e demandas de forma rápida e objetiva. Atualmente, a Abimed tem conversado com a agência sobre estratégias para reduzir os prazos de liberação alfandegária das importações dos equipamentos e produtos para saúde em geral.
7- E quanto ao Ministério da Saúde? Como serão os trabalhos e demandas para a pasta?
A Abimed também possui um canal de diálogo bem estabelecido com o Ministério da Saúde. Na gestão anterior, a Abimed compôs o Fórum do GECIS – Grupo Executivo do Complexo Industrial da Saúde, que trata de políticas de Parcerias de Desenvolvimento Produtivo (PDP) e compensação tecnológica (offset). Além disso, em 2017, foram criados 5 grupos de trabalho no GECIS, todos com a participação da Abimed. Por fim, a associação tem colaborado com os esforços do Ministério da Saúde por uma gestão mais eficiente, por meio de sistemas e digitalização de processos.
8- De que forma a Abimed atuará a fim de desenvolver a tecnologia no setor de forma sustentável?
A Abimed assumiu a responsabilidade de demonstrar ao governo, aos demais membros da cadeia da Saúde e a toda sociedade o valor da alta tecnologia de produtos para saúde. Esse valor se relaciona ao impacto positivo que promovem na Saúde dos pacientes, em seu bem-estar e em sua produtividade, bem como na redução das despesas médicas e terapêuticas, no tempo de internação e em inúmeros outros indicadores relevantes. A tecnologia é também uma ferramenta fundamental para melhorar a gestão e a sustentabilidade do sistema de saúde, ajudando por exemplo a identificar e reduzir desperdícios. Por isso, um dos principais projetos da Abimed tem como focos demonstrar o valor da alta tecnologia, a complexidade da cadeia de fornecimento e todos os elementos que contribuem para formação dos custos dos produtos. Entendemos que o reconhecimento do valor da alta tecnologia da saúde para a sociedade brasileira contribuirá para as decisões de políticas públicas para o setor, com a promoção de um ambiente de incentivo ao desenvolvimento tecnológico e a ampliação do acesso da população a esses produtos.
9- Qual o modelo de liderança que pretende implementar estando à frente da Abimed?
Entendo que a liderança de uma associação da indústria deve privilegiar o estilo “democrático”, que nada mais é do que o reconhecimento de que o Conselho de Administração precisa acomodar as demandas do maior número possível de associadas, e “dirigente”, que busca motivar as pessoas em relação às prioridades estatutárias, com base em muito diálogo e transparência. Espero contribuir com meu estilo de trabalho analítico e diplomático, mas sem deixar de imprimir o senso de urgência necessário para cumprir com o nosso planejamento estratégico.
10- Quais são as expetativas para o setor em 2018?
Apesar de ainda termos certa instabilidade política, o contexto geral cria uma perspectiva favorável para a economia do país e para o setor de produtos para saúde, com a retomada dos investimentos e geração de mais empregos no ano que vem. Estamos otimistas e desejosos de continuar contribuindo cada vez mais com a melhoria da Saúde no país.