Recentes trabalhos mostram que 35% dos gastos no sistema de saúde são desperdícios, ou seja, equivale a um terço ou mais dos gastos em saúde nos EUA. Os desafios dos stakeholders do sistema de saúde é eliminar o desperdício sem causar prejuízo ao consumidor ou reduzir a qualidade dos cuidados prestados.
O desperdício inclui custos cobertos ou pagos para tratar danos evitáveis, como:
- As infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS);
- Uso excessivo de procedimentos ou tratamentos ineficientes que podem causar incidentes.
O custo do desperdício nos Estados Unidos em comparação com outros países desenvolvidos era próximo de US$ 650 bilhões. E esta diferença não era atribuída ao fato de a população americana estar mais doente. Outros U$ 91 bilhões eram devidos às práticas administrativas ineficientes e redundantes, segundo o estudo do McKinsey Global Institute, realizado em 2006.
Quando Donald Berwick era administrador do Center for Medicare and Medicaid Services (CMS) em conjunto com a RAND Corporation Analyst Andrew D. Hackbarth, ambos realizaram um estudo que identificou cinco categorias de desperdícios, que consumiram U$ 476 bilhões a U$ 992 bilhões, isto é, de 18% a 37% aproxidamente dos U$ 2,6 trilhões de gastos em 2011. Os programas do Medicare e Medicaid contribuíram com cerca de um terço desse desperdício de gastos, ou seja, U$ 166 bilhões a 304 bilhões. Do mesmo modo, o painel do Institute of Medicine estimou no relatório em setembro de 2012 que o desperdício era de U$ 690 bilhões, e não incluía fraudes.
Uma das categorias de desperdício são as falhas na prestação do cuidado que incluem práticas não seguras, além de não seguir as evidências científicas e medidas preventivas para segurança do paciente.
Como consequências, podem ocorrer incidentes com dano temporário, como vômitos e hipoglicemia, ou dano grave, como insuficiência renal motivado por um erro de medicação com grande impacto econômico, pelo aumento no tempo de internação na unidade de terapia intensiva, procedimentos como hemodiálise e todo o processo de reabilitação com possível impacto social para as famílias envolvidas. Em geral, 44% desde tipos de eventos adversos são preveníveis.
Outra categoria de desperdício são as falhas na coordenação do cuidado, que ocorrem quando os pacientes experimentam uma assistência fragmentada e desarticulada, por exemplo, na transição do cuidado do hospital para atendimento primário. Como consequência, temos reinternações hospitalares desnecessárias e complicações evitáveis, além de declínios do estado funcional, especialmente dos pacientes crônicos.
A melhora na segurança do paciente, assim como a redução do desperdício no sistema de saúde, passa por uma mudança radical no incentivo econômico. Inúmeras iniciativas têm sido introduzidas no sistema para deslocar do tradicional mecanismo de remuneração por serviços, que paga com base no volume de serviços prestados, para aqueles que pagam com base no valor e nos resultados.
Há várias recomendações para criação de um sistema de saúde diferente, no qual novos incentivos – como parcerias dos provedores e pacientes e uma cultura que apoie o aprendizado e o desenvolvimento contínuos – possam levar à melhoria na eficiência e eficácia dos cuidados de saúde com redução dos eventos adversos graves.
Conhecendo as consequências dos eventos adversos, são fundamentais sete medidas descritas abaixo:
- Melhorar a capacidade do sistema de saúde de coletar e usar os dados digitais para avançar na melhoria dos processos assistenciais;
- Envolver pacientes e familiares na tomada de decisão sobre seus cuidados;
- Usar os guidelines e as ferramentas de suporte de decisão;
- Promover parcerias e coordenações entre os provedores e a comunidade para melhorar a transição do cuidado;
- Realinhar incentivos financeiros para promover o aprendizado contínuo e a prestação de cuidados de alta qualidade e de baixo custo;
- Buscar novos modelos de pagamentos como pagamento por pacote (bundle), pagamento por grupo de doenças (DRG) ou capitation, no qual os fornecedores recebem um pagamento fixo per capital;
- Melhorar a transparência no desempenho dos prestadores, incluindo informações de qualidade, preço, custo e resultados.
Não temos evidências claras de amplas mudanças ou de melhorias generalizadas na segurança do paciente, mas temos que entender e reconhecer o impacto econômico e social dos eventos adversos para, então, buscarmos soluções inovadoras e criativas.
*Por José Branco, diretor-executivo do IBSP, médico infectologista e diretor clínico do Hospital São Camilo Santana, em São Paulo, MBA em Gestão em Saúde pela FGV e especialista em Segurança do Paciente pelo IHI.
**Artigo publicado na 46ª HealthCare Management. Clique e confira a edição completa.