Há 25 anos na área de Health IT, Jacson Barros ocupa o cargo de Diretoria Corporativa de Tecnologia da Informação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP desde 2011.
“Trabalhar na área de Saúde é realmente gratificante e cheio de desafios, pois além das conquistas pessoais, sempre buscamos a excelência, pelo fato de que nossas ações estão diretamente ligadas à expectativa de alguém”, afirma o executivo.
Nos últimos quatro anos, sua gestão vem investindo intensamente na informatização da instituição. “Criamos um programa chamado “INFORMATIZA HC”, que compreende um conjunto de projetos no âmbito da Tecnologia da Informação focados não somente nas áreas assistenciais, mas em outras como suprimentos, recursos humanos, custos, etc. São setores que de alguma forma contribuem para dar todo o suporte que o corpo clínico precisa para realizar o seu trabalho”, explica.
Barros considera que, além das questões tecnológicas, o relacionamento é peça fundamental para o sucesso dos projetos de TI. “Estamos aos poucos ganhando a confiança do corpo clínico, pois cada vez mais eles entendem como a TI pode auxiliá-los no seu dia a dia. Estreitamos a comunicação com a diretoria clínica e as estratégias são discutidas em conjunto.”
Em 2016, Barros foi eleito pela revista Healthcare Management entre os “100 Mais Influentes da Saúde” na categoria Tecnologia. O executivo foi escolhido pelo editorial da Health-IT e do Grupo Mídia como o CIO do ano, devido não apenas as suas recentes conquistas, como também por toda trajetória de sua carreira profissional.
Toda tecnologia, para ser promissora, deve ser…
Acessível e sustentável. Considerando isso, considero que a Internet das Coisas trará grandes benefícios para as instituições de saúde, mesmo sabendo que ainda há gaps para serem preenchidos, principalmente no contexto da segurança da informação. Mas é inegável que sua adoção marcará uma nova era no tratamento da informação em tempo real.
A relação entre CIO e CEO está mudando porque…
Antes, esta relação era marcada pelo conhecimento técnico, cabendo ao CIO apenas a operacionalização das decisões previamente tomadas. Hoje, o cenário está mudando. Com a globalização e o aumento da dependência do uso da Tecnologia da Informação, em todos os setores, a participação do CIO na definição das estratégias está cada vez mais evidente. No âmbito da Saúde, ainda percebe-se uma parcela muito pequena que reconhece a TI como estratégica. Na prática, o que vemos, é uma TI operacional e com limitações de recursos.
Historicamente, o Brasil sempre ficou atrás de países mais desenvolvidos, no que tange à adoção de tecnologias. Hoje…
Com a globalização, os consumidores se tornaram mais exigentes, pois passaram a ter parâmetros para escolha. Este cenário exigiu uma readaptação do mercado brasileiro para atender às novas expectativas. Percebo que perdemos o medo de experimentar coisas novas. Antes, tínhamos receio de adotar uma nova tecnologia, pois ela não havia sido implementada em nenhum lugar. Hoje é ao contrário, todos querem ser pioneiro, pois há o status da inovação. Este cenário contribui para que novas tecnologias ganhem espaço. Não vejo que temos déficits tecnológicos, temos déficit na adoção de novas tecnologias, sejam pelo desconhecimento ou pela burocratização dos órgãos de controle.
As dificuldades que temos quanto ao uso da TI nos hospitais brasileiros poderiam ser solucionadas através da…
Criação de mecanismos para ampliar a maturidade da adoção da tecnologia dentro de padrões brasileiros; da deburocratização do registro eletrônico nos sistemas de gestão hospitalar, considerando a segurança e legitimidade da informação; e buscar subsídios, junto ao governo, programas de incentivo para os hospitais e fornecedores.
Na atual recessão que o país atravessa, temos que ser…
Criativos. Neste contexto, temos reuniões semanais onde todas muitas questões são colocadas em pauta através de cenários. Este exercício estimula o pensamento “fora da caixa” e motiva a discussão em grupo.
Atualmente, nossos maiores desafios são…
No âmbito da TI, temos, hoje, desafios como a indefinição de fluxos, em todos os níveis, pois eles ainda continuam baseado em pessoas e não em processos; e os investimentos limitados em recursos humanos e infraestrutura. Para resolvê-los, temos focado muito na comunicação e trazendo para as grandes discussões quem realmente é o dono do processo, compartilhamos com eles os problemas e discutindo em conjunto as soluções. O principal objetivo é buscar a confiança do usuário.
Os fornecedores de TI estão aptos para atender as demandas e necessidades das instituições de saúde do país, porém…
Vejo que estamos perdendo o foco. Muitos fornecedores estão em busca de recolocação no mercado, onde o importante é vender e não resolver o problema da informatização da saúde no Brasil. Embora exista o discurso, muitos estão longe disto. Vejo as empresas focando nas tendências como Big Data e IoT, mas esquecem que 70% dos nossos hospitais nem sequer possuem registro eletrônico. Logicamente, precisamos sempre inovar, mas se quisermos realmente chegar ao topo e poder oferecer tecnologias disruptivas temos também que olhar para a base e focarmos em melhorar a qualidade do cuidado à saúde em todas as esferas (municipais, estaduais e federais).
Jacson Barros ocupa o cargo de Diretoria Corporativa de Tecnologia da Informação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP desde 2011. Em 2016, foi eleito pela revista Healthcare Management entre os “100 Mais Influentes da Saúde” na categoria Tecnologia. O executivo também foi escolhido pela publicação Health-IT como o CIO de 2016.