Só temos a agradecer às quase 200 pessoas que durante dois dias conviveram conosco no 4º CIMES (Congresso em Inovação de Materiais e Equipamentos para a Saúde), discutindo assuntos importantes relativos ao nosso setor que nos permitiram definir uma pré-agenda sobre esse importante tema que é a inovação.
Ao longo desse período, debatemos sobre vários assuntos. Começamos pela demonstração inequívoca da capacidade que a indústria nacional tem de inovar. Trouxemos os últimos vencedores do Prêmio Inova Saúde, promovido pela ABIMO. Mostramos, não apenas com palavras, mas com produtos já em comercialização, que a nossa indústria é capaz.
Tivemos também a manifestação clara de que o Brasil possui e reúne competência científica. As nossas academias são um manancial de competências. Nelas ocorre uma grande geração de conhecimento.
Há ainda, porém, divergências que separam esses dois elos da corrente da inovação e que precisam ser dissolvidas. Isso é possível!
Diversas experiências de encontros em todo o Brasil entre universidades e institutos de ciência e tecnologia já apresentam resultados positivos. Então, o que nós precisamos é encontrar, cada vez mais, mecanismos para essas junções.
Todavia, não há fórmula única. Não há uma única regra a ser seguida pela academia, ou pelo ICT, tampouco pelas empresas. Mas há um elemento comum, e falo aqui também como empresário, que há mais de dez anos vem construindo essas relações. Esse elemento comum é o ser humano.
Não há interação que não passe pelo ser humano. Por isso, é fundamental encontrar pessoas vocacionadas para a inovação tanto nas empresas quanto nas universidades.
Se você perguntar para qualquer uma das empresas inovadoras desse país qual é o segredo do sucesso nas áreas de desenvolvimento de novos produtos, tenho absoluta convicção de que elas responderão ser a persistência dos atores envolvidos no processo, embora as lógicas possam até ser distintas. A empresa precisa de resposta imediata e a deseja, diferentemente do tempo acadêmico. E por isso é necessária a convivência harmoniosa entre esses dois atores. É o resultado dessa convivência que gera a inovação. Uma realidade absolutamente viável e factível.
Nos dois dias de CIMES, demonstramos também que o Brasil tem demanda. Seja ela pública – com seu viés explorado em bastante profundidade na questão da atenção básica –, seja ela privada – identificando claramente que tecnologias de média densidade já têm espaço e capacidade de desenvolvimento local.
Há ainda o gargalo relativo à necessidade de aproximação entre o usuário [médico e outros profissionais de hospitais e clínicas] e a empresa, bem como com o centro de desenvolvimento. Essa é uma lacuna importante que pudemos perceber em nossas discussões e que, ao alcançarmos esse patamar de interação, daremos mais celeridade aos processos de inovação.
Trouxemos também à discussão o guarda-chuva da política industrial, que está sendo repensada no Brasil. Ela trará o eixo da competitividade e da produtividade como diretriz básica nessa transversalidade de todos os setores. Essa política também aborda a exportação. Assim sendo, não posso deixar de citar aqui a excelente parceria que a ABIMO tem com a Apex-Brasil há 14 anos no seu projeto de fomento à internacionalização de nossas empresas, o Brazilian Health Devices.
Quando nos reunimos com órgãos públicos e privados para tocar nesse tema, sinto-me orgulhoso pela capacidade que nossa indústria tem. Recordo-me de que, no ano passado, em um evento que contava com a presença do empresário Jorge Gerdau, apresentamos a modelagem que havíamos imaginado para o setor privado dessa construção de política industrial.
Isso mostra que nós não esperamos que algo nascesse do governo. Não ficamos parados aguardando que o governo nos desse respostas.
Nós preferimos colocar os problemas na mesa, levar propostas. Juntos buscarmos soluções. E, apesar de ainda termos uma grande agenda e um grande desafio pela frente, já fomos exitosos em algumas delas.
Por fim, não posso deixar de abordar a demanda da regulação e do financiamento. Assim como “financiamento”, esse tema era a atração principal de toda e qualquer reunião. Hoje os órgãos reguladores passam como convidados, contribuindo com suas apresentações.
Há alguns anos, esses eram um dos mais preocupantes itens de qualquer congresso ou evento na área da saúde. Hoje podemos dizer que, apesar de pequena, essa política de fomento é ousada e dá a cada dia novos passos em direção às melhorias. Colocamos frente a frente BNDES, Finep, Embrapii, DesenvolveSP e Anvisa.
É absolutamente normal, em qualquer país com uma agência reguladora forte e atuante, certo tensionamento com o setor regulado, já que as lógicas do Estado e dos órgãos privados também são distintas. Isso faz parte do processo.
Mas nós não podemos deixar de reconhecer o grande avanço em nossa relação com a Anvisa, essa agência que também nos agrega valor ao colocar em nossos produtos seu selo de garantia de qualidade, eficácia e segurança.
Postos todos esses elementos, concluo que a inovação é uma pedra que precisa ser lapidada. Um trabalho que pode até levar muito tempo. E vai levar.
Mas cabe a nós, durante esse processo, descobrimos se teremos um pedregulho ou um diamante no final.
A indústria nacional, por sua vez, acredita que tem toda a capacidade de buscar esse diamante.