Que atire a primeira pedra quem nunca teve o coração partido. As lágrimas, a sensação de que aquele momento não vai ser superado, a tristeza e até mesmo a dor física fazem parte do processo de lidar com as decepções da vida, principalmente as amorosas. Mas o que muita gente não sabe é que, em certos casos, essas situações podem alcançar um outro nível.
A síndrome do coração partido, também conhecida como “broken heart disease” ou cardiomiopatia de Takotsubo é um problema cardíaco que pode ocorrer quando o indivíduo passa por um grande estresse emocional e provoca sintomas semelhantes aos de um infarto, como dor no peito, pressão alta, falta de ar ou cansaço.
“Separações, desastres, perda de algum ente querido, exposição à violência ou acidentes são alguns dos gatilhos para a síndrome. Estas situações podem provocar um aumento da produção de hormônios e neurotransmissores no organismo devido ao estresse sofrido, levando a uma ação direta no miocárdio e na microvasculatura cardíaca. Isso provoca uma alteração na conformidade e contratilidade do músculo do coração bem característica, chamada de Takotsubo (instrumento de pesca de polvo japonês). O coração nessas ocasiões se assemelha ao formato deste instrumento de pesca”, explica o cardiologista Diego Garcia.
Relatada pela primeira vez por médicos japoneses, no início dos anos 1990, esta síndrome não é considerada uma doença psicológica, pois situações não relacionadas com a mente também são estímulo para provocar a doença como outras doenças graves ou quadros clínicos críticos. Estudos hemodinâmicos comprovam que durante a crise os ventrículos do coração não contraem corretamente.
“A descarga adrenérgica em situações de estresse é muito grande, o que pode afetar temporariamente a musculatura do coração”, esclarece o cardiologista Diego Garcia.
O cardiologista ainda explica que a síndrome é rara e possui um menor risco de mortalidade, quando comparado ao infarto. “Na Síndrome do Coração Partido, as coronárias não tem obstrução, o coração diminui a sua função, mas volta ao normal em semanas a meses. Já em um infarto as artérias coronárias se encontram obstruídas totalmente ou parcialmente e parte do coração não volta a funcionar posteriormente”, esclarece.
Por não ser muito conhecida, ainda existem muitas dúvidas que cercam essa alteração cardíaca. Um estudo de 2011, realizado por pesquisadores da Universidade do Arkansas, nos Estados Unidos, a partir do banco de dados de cerca de mil hospitais americanos, apontou que mulheres com menos de 55 anos são cerca de nove vezes mais propensas a sofrer com a síndrome em relação aos homens dessa idade. As causas exatas para isso ainda não foram esclarecidas, novos estudos são necessários. O cardiologista Diego Garcia ainda explica que cerca de 1/3 dos pacientes com a síndrome não apresentam nenhum fator gatilho identificável.