A confiança é inconstante, e nem sempre é fácil assumir o risco de confiar totalmente em alguém ou algo, principalmente em situações inéditas ou desconhecidas. Veja o exemplo da TI híbrida, que com sua nova infraestrutura de TI baseada em nuvem inseriu um nível de incerteza ou, no mínimo, tecnologias e processos menos comprovados para os profissionais de TI.
Na verdade, o Relatório de tendências em TI da SolarWinds para 2017: Retrato de uma organização de TI híbrida explorou essa noção de confiança na era da TI híbrida, em especial no que diz respeito à relação entre o provedor de serviços de nuvem e o profissional de TI. A pesquisa revelou que, no âmbito da confiança, a maioria dos profissionais de TI (74%) afirma que confia apenas em parte nos provedores de serviços de nuvem. Para contextualizar isso, a SolarWinds também interrogou sua comunidade online de profissionais de TI THWACK® e descobriu exatamente onde os provedores de serviços de nuvem se enquadram no espectro da confiança:
Profissionais de TI…
- Confiam totalmente neles mesmos, em suas equipes e em seus familiares
- Confiam parcialmente em provedores de serviços de nuvem
- Desconfiam parcialmente de meteorologistas, provedores do setor de saúde e motoristas de táxi
- Desconfiam totalmente de outros motoristas na estrada
Apesar de não haver surpresas nessas informações, esse espectro de confiança destaca uma diferença importante: quando o controle sai de cena, a confiança diminui. Com isso em mente, vamos explorar melhor a relação entre o provedor de serviços de nuvem e a TI para descobrir que outros fatores, além da perda de controle, levam à erosão da confiança, e como os profissionais de TI podem estabelecer uma relação mais confiante com seus provedores de serviços de nuvem.
Fatores de confiança
Controle e visibilidade
A TI híbrida, e mais especificamente, a falta de visibilidade sobre a infraestrutura de nuvem que a acompanha, tem sido problemática para os profissionais de TI que estavam acostumados com total autoridade sobre os sistemas para corrigir ou testar aplicativos e hardware no local. Na era da TI híbrida, a mudança do controle da tecnologia para um provedor de serviços de nuvem, enquanto a TI ainda cuida dos tíquetes da central de ajuda quando algo dá errado, necessita de algumas adaptações. Mesmo que a tecnologia local fosse menos confiável, é mais fácil confiar no fator de controle do que na tecnologia terceirizada.
Some a essa questão do controle o histórico raro, mas memorável, das grandes falhas de nuvens públicas. Por exemplo, com a falha do S3™ da Amazon Web Services™ (AWS®) em fevereiro, a AWS perdeu um serviço essencial altamente divulgado e abrangente. Esse caso serviu para reforçar a metanarrativa dos profissionais de TI já céticos, que têm receio em ceder o controle para serviços passíveis de falha sem uma função de failover óbvia.
Lacuna de conhecimento
Certamente, a falta de controle pesa na hora de avaliar o nível de confiança existente na relação entre o provedor de serviços de nuvem e a TI, mas há também outra questão que preocupa os profissionais de TI: não confiar nos provedores de serviços de nuvem simplesmente porque eles não têm domínio seguro da tecnologia em evolução. O gerenciamento de TI por contrato de nível de serviço já é extenuante o suficiente e ainda mais difícil de enfrentar quando não há nenhum diagrama na (maior parte da) caixa preta da nuvem.
O que agrava ainda mais a lacuna de conhecimento de TI é o modo como os serviços de nuvem pública são vendidos. Quando os provedores vendem seus serviços de nuvem, eles vendem para empresas. Eles falam usando a linguagem com foco nos resultados, recorrendo aos termos da moda que agradam os líderes empresariais, como “rápida transformação digital da empresa”, mas que provocam reflexão entre os tecnólogos. Para os departamentos de TI, isso não reflete o modo como eles avaliam a tecnologia nem como se familiarizam com a ideia de trabalhar com ela.
Mistério
A falta de conhecimento sobre a nuvem é um outro fator que pode reduzir a confiança e se multiplica quando os fornecedores da nuvem pública fazem mistério em relação às suas ofertas. Em um mercado de nuvem incrivelmente competitivo, é compreensível que fornecedores de serviços de nuvem não queiram abrir mão de sua “receita secreta”, mas relutar em revelar esses detalhes certamente pode afetar a predisposição da TI em confiar neles. Em geral, os fornecedores que incentivam a instalação de hardware no local falam de maneira aberta e com muitos detalhes técnicos como estratégia de venda, uma conversa que normalmente não ocorre com os outros, exceto com os maiores clientes de nuvem pública.
Porte da empresa
Ao aprofundar ainda mais no ecossistema de TI, descobrimos que o porte da empresa também é um fator de confiança do provedor de serviços de nuvem. Empresas de pequeno e médio porte são as que mais confiam nos provedores de serviços de nuvem, com 13% de cada uma afirmando que confia plenamente nesses provedores, e as grandes empresas são as que confiam menos (8%). Para entender de onde vêm essas diferenças, é importante conhecer os detalhes dos recursos de TI.
Para as pequenas empresas, a confiança tende a ser maior porque elas usam a nuvem mais como um utilitário: não costuma haver falhas, e ela funciona basicamente sozinha. Ao mesmo tempo, ela proporciona acesso aos dados e recursos de computação que antes estava limitado às empresas maiores. No quesito corporativo, as empresas podem usar aplicativos nativos da nuvem e manter a equipe centrada no DevOps, que sabe como gerenciar a tecnologia de nuvem de maneira eficiente. No entanto, elas geralmente enfrentam mais complexidade do que as pequenas empresas, e complexidade leva à desconfiança. Isso nos aponta para as empresas de médio porte, que normalmente têm a maior fatia da TI hibrida, que não terceirizam muita coisa e têm departamentos de TI menores e menos diversificados, criando um turbilhão perfeito de complexidade com o advento da nuvem e uma redução natural da confiança.
Ganhando confiança
Provavelmente, nunca chegaremos a um ponto em que os profissionais de TI confiem tanto nos provedores de serviços de nuvem quanto em uma Camada zero infalível, mas com certeza, há práticas recomendadas que os departamentos de TI podem seguir para promover a confiança:
Confie desconfiando (e informe-se)
Pense no provérbio: “confie desconfiando”. A capacidade de verificação vem do conhecimento necessário (neste caso, conhecimento técnico e informações sobre desempenho) sobre algo que pode se tornar digno de confiança. Para muitos profissionais de TI habituados a monitorar e gerenciar a infraestrutura no local, a nuvem é um território desconhecido. Dessa forma, é crucial que eles obtenham conhecimento suficiente para verificar a tecnologia e ganhar confiança.
Garanta visibilidade central dos ambientes local e de nuvem
Da mesma forma, diante da taxa exponencial de mudanças na tecnologia corporativa, um conjunto de ferramentas de gerenciamento e monitoramento que apresenta um ponto único da verdade nos ambientes local e de nuvem é essencial para a confiança. A capacidade de consolidar e correlacionar dados para proporcionar mais alcance, profundidade e visibilidade do datacenter permite que profissionais de TI trabalhem mais proativamente com os provedores de serviços de nuvem para identificar e corrigir áreas problemáticas e reduzir o tempo de resolução.
Assuma o controle do processo de tomada de decisão
Você não poderá jogar se não fizer parte do jogo. Considerando a mudança no modo como a tecnologia de nuvem é vendida para as empresas, os profissionais de TI devem obter mais conhecimento para ganhar confiança e demonstrar entusiasmo com o gerenciamento. Ao obter conhecimento sobre a tecnologia de nuvem, eles retomam a função de consultores confiáveis e, como resultado, a empresa os inclui nas decisões de compra importantes. Além disso, um pouco de graça na pronúncia de “Kubernettes” não faz mal a ninguém.
Nos administradores nós confiamos
Por fim, os profissionais de TI têm a oportunidade de transformar a confiança que têm neles mesmos e em suas equipes em motivação para abrir as portas a mais conhecimento em tecnologia de nuvem. E mesmo que parte do controle sobre processos e infraestrutura seja renunciada para sempre, conhecimento ainda é poder. Na carreira de TI, não há milagre maior para ganhar a confiança na relação entre o provedor de serviços de nuvem e a TI do que ser especialista no assunto.
Patrick Hubbard é Head Geek™ da SolarWinds