Após vistoria ontem (24) nas instalações do Hospital Federal de Bonsucesso, zona norte da capital fluminense, integrantes da Defensoria Pública da União (DPU) no Rio de Janeiro e do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) identificaram o agravamento dos problemas na emergência e no setor oncológico da unidade denunciados há meses.
O defensor público federal Daniel Macedo disse que relatou à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em Washington, a falta de insumos e medicamentos, sobretudo os oncológicos, o que vem determinando a interrupção de mais de 50% dos tratamentos de câncer na unidade. Na semana passada, a comissão pediu uma atualização sobre o caso.
“Vemos excesso de pacientes, falta de médicos e insumos e medicamentos. Há pacientes que ficam até 50 dias esperando na emergência. É um filme de terror. Em um contexto onde as redes estadual e municipal estão em colapso e mais de 1 milhão de planos de saúde privados foram cancelados, a situação é muito grave”, disse.
Além disso, segundo o defensor, as filas de espera cirúrgicas foram interrompidas nos seis hospitais federais da capital fluminense e a DPU entrará com uma ação civil pública para garantir que os pacientes com câncer tenham acesso aos procedimentos.
A paciente Paula Christina trata um câncer de mama no Hospital Federal de Bonsucesso desde agosto do ano passado, mas teve que interromper a quimioterapia durante dois meses por falta de insumos necessários para o tratamento. “Por causa disso, a cintilografia [exame de imagem de medicina nuclear] apontou uma alteração na coluna. Agora tenho que tomar mais quimio para tratar isso. Se não tivesse faltado o remédio, de repente a cirurgia já poderia ser marcada”, disse.
O presidente do Cremerj, Nelson Nahon, disse que há mais de seis meses a entidade foi à Justiça junto com a DPU para exigir a melhora no atendimento na unidade, mas que após a visita de hoje, ficou claro que situação só piorou, sobretudo no setor da oncologia.
“Havia oito oncologistas, que já era um número insuficiente, perdemos cinco. A Defensoria exigiu a contratação imediata de três, mas só contrataram mais um”, disse. “Os pacientes estão tendo os tratamentos interrompidos por falta de medicamentos oncológicos, alguns inclusive de baixo custo.”
Interrupção do tratamento
Na vistoria, foram identificados no setor de ginecologia e obstetrícia pelo menos 30 pacientes com tratamento interrompido. Além disso, há uma lista de pacientes que aguardam por tratamento desde fevereiro. “E no câncer, isso é fatal, pois precisa de diagnóstico precoce e tratamento imediato. Pacientes estão morrendo ou sendo prejudicados em sua qualidade de vida”, denunciou Nahon.
Dos dois equipamentos de tomografia existentes no hospital, apenas um funciona, e de maneira intermitente, segundo o presidente do Cremerj.
A mãe de uma paciente, que não quis se identificar, disse que faltam médicos e leitos. “Ela faz hemodiálise e está há dois dias sentada no corredor. Estou desde cedo hoje tentando conseguir um quarto para ela. Ontem nem tinha médico.”
A DPU e o Cremerj também farão vistorias conjuntas no Hospital do Andaraí e no Hospital Cardoso Fontes, nos dias 3 e 5 de maio, respectivamente.
O Ministério da Saúde, responsável pelos hospitais federais, não se manifestou sobre as denúncias da DPU e do Cremerj até o fechamento desta reportagem.