A origem da crise histórica da Petrobras não está apenas ligada à Operação Lava Jato. Existem outros agentes causadores que antecederam às dificuldades da companhia brasileira nos últimos anos.
Em 2010, o Brasil havia virado a página da crise financeira mundial de 2008, apontando um crescimento anual recorde de 7,5% – o maior aumento do PIB (Produto Interno Bruto) desde 1986. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), os investimentos dispararam cerca de 21,8%, ao passo em que o consumo das famílias cresceu 7% e os gastos do governo, 3,3%. Para conciliar com esta demanda, a indústria aumentou 10,1% os seus serviços e a agropecuária, por sua vez, cresceu 6,5%.
De acordo com as estatísticas, 2010 foi um bom ano para a economia brasileira. O ano seguinte prometia um aumento um pouco mais moderado, na margem de 3%. No entanto, mesmo sendo um número singelo, representava o dobro do crescimento dos Estados Unidos, por exemplo. Em contrapartida, a inflação havia voltado a subir, fechando aquele ano com cerca de 5,9% – maior nível em seis anos.
Os ganhos dos brasileiros aumentaram, o dinheiro passou a circular melhor, mas a produção não acompanhou o desenvolvimento, o que aumentou os preços do mercado. Para lidar com o problema, o Banco Central brasileiro subiu a taxa de juros do país gradativamente, passando de 8,5%, no começo de 2010, a 12,5%, em agosto de 2011. Esta estratégia foi utilizada para auxiliar o fluxo de dinheiro, tentando reduzir ao máximo a inflação. Por outro lado, esse plano freou o crescimento econômico.
Para que a economia voltasse a se desenvolver, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) demandou ao Banco Central que os juros começassem a cair, passando dos 12,5% de agosto de 2011 para 7,15% no começo de 2013. Mas Dilma não contava com o fato de que a inflação continuaria a subir, pressionando toda a economia brasileira. Tentando artificialmente solucionar essa bola de neve, a ex-presidente reduziu as tarifas de energia e congelou o preço da gasolina nas bombas, sangrando a Petrobras.
O efeito colateral desse erro primário foi a estagnação e o recuo da produção de etanol. Os investimentos pararam porque não dava para manter a competitividade de 70% do preço da gasolina nos postos, levando a estatal brasileira à crise.
Segundo Adriano Pires, sócio-fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o fator determinante dessa crise está na má gestão que a companhia teve durante o primeiro governo da ex-presidente Dilma. “Acho que a principal explicação foi uma interferência excessiva do Governo na Petrobras, deixando de lado a racionalidade econômica e transformando a empresa em um instrumento político. As despesas da Petrobras, no primeiro governo da presidente Dilma, com a venda da gasolina e do diesel abaixo dos preços de mercado, atingiram a cifra de US$ 40 bilhões”.
Pires ainda ressalta que a empresa passou de uma dívida de cerca de R$ 6 bilhões, em 2009, para quase R$ 500 bilhões, em 2016. “Nos anos de 2009 e 2010, o petróleo estava a US$ 100, o mercado de combustível cresceu mais de 100% ao ano e a Petrobras tinha sito capitalizada. E depois, em 5 anos, a empresa perdeu tudo. Acho que não existe caso na literatura econômica mundial de uma empresa do porte da Petrobras ter perdido tanto valor em tão pouco tempo”, complementa.
PLANOS INVIÁVEIS
Outro agente causador da crise histórica da multinacional brasileira está nos editais mal verificados, que geraram aditivos e, consequentemente, aumentaram os custos e causaram a paralisação de obras por impactos negociais. De acordo com Alberto Machado, diretor executivo da Abimaq (Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos) e Professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), ainda vale destacar outros pontos.
“O que levou a empresa à situação atual foram metas arrojadas com investimentos e valores muito elevados nos planos de negócios, que depois foram se mostrando inviáveis. Houve também o excesso de uso de mão de obra contratada pela empresa, projetos com escopos mal definidos, concentração elevada de contratos em poucas empresas – algumas até com pouca tradição – e início de obras sem finalização de projetos”, comenta.
Ainda para Machado, a Lava Jato não foi o principal causador desta crise. “Ela apenas evidenciou alguns desses problemas. Assim como o aumento do dólar e a desvalorização do real apenas agravaram uma situação que estava ruim”. José Goldemberg, presidente da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), ainda reforça: “O escândalo da Lava Jato tem a importância dada a ele. O que desacreditou a Petrobras foi o enorme endividamento que ela contraiu”.
Diante desses incidentes, como depreciação do petróleo, desvalorização do real e Lava Jato, para o presidente da consultoria agrícola DATAGRO, Plinio Mario Nastari, os gestores puderam tirar uma lição: “as empresas precisam estar blindadas contra estes tipos de ações, com controles internos mais rígidos, auditoria e transparência”.
Operação Lava Jato
A operação Lava Jato foi a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro que o Brasil já teve. Segundo o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Augusto Ribeiro Nardes, os desvios de recursos públicos que provocaram a Operação Lava Jato alcançaram a cifra de R$ 29 bilhões. Conduzida pela Polícia Federal, a investigação começou em março de 2014 para investigar grupos criminosos que usavam uma rede de lavanderias e postos de combustíveis para movimentar dinheiro ilícito.
A Petrobras foi, infelizmente, protagonista deste escândalo. A investigação foi muito além dos postos de combustíveis e identificou desvio e lavagem de dinheiro envolvendo diretores da multinacional, as principais empreiteiras do país e os políticos brasileiros.
Nesse esquema, grandes empreiteiras organizadas em cartel pagavam propina para altos executivos da estatal e outros agentes públicos. O valor da propina variava de 1% a 5% do montante total de contratos bilionários superfaturados. Esse suborno era distribuído por meio de operadores financeiros do esquema, incluindo doleiros.
A Lava Jato foi um escândalo de corrupção bilionário que colocou em xeque a credibilidade da Petrobras. Simultaneamente, a depreciação do petróleo e a desvalorização do real contribuíram para que a empresa, que já enfrentava uma situação de grave endividamento, chegasse à sua maior crise. “Pior que a corrupção foram os erros de gestão, como a compra da Refinaria de Pasadena, os projetos mirabolantes, como a refinaria de Recife e COMPERJ (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) – que abriram espaço para a corrupção – e o aparelhamento político”, complementa Goldemberg.
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