Mesmo ainda carregando o fardo de petroleira mais endividada do mundo, a Petrobras começa a dar os primeiros sinais de que irá superar a crise e reverter os estragos causados pelo escândalo da Operação Lava Jato e pelos problemas de gestão, que marcaram o comando da companhia nos últimos anos. Por reconquistar a confiança dos investidores, a multinacional está voltando, aos poucos, a ocupar uma posição no mercado que nunca deveria ter saído.
Em 2016, a Petrobras apresentou alta de 168% em suas ações acumuladas no ano, conseguindo subir três degraus em um ranking de valor de mercado que reúne as maiores companhias do setor, em que ocupou o terceiro lugar em 2008. Em janeiro de 2016, a empresa, em seu pior momento, estava na 11ª posição. Porém, segundo o ranking, a petroleira conseguiu mostrar bons resultados no final deste mesmo ano, subindo para o oitavo lugar em outubro.
Apesar de todo o drama vivido nos últimos anos, a empresa ainda possui uma marca forte. É o que defende Adriano Pires, sócio-fundador e diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura). “A Petrobras é uma empresa que tem grandes reservas de petróleo, quadro técnico de alta qualidade e tecnologia de expansão de petróleo no mar. Então, ela tem todas as condições de voltar a ser uma empresa com credibilidade e que gera riquezas para o país, que volte a investir e gerar empregos. Acho que essa ficha já caiu para a nova gestão da empresa, com as reduções de custos e a reformulação dos investimentos. Estão colocando-a nos trilhos, em uma nova direção.”
A Petrobras apresentava fluxo negativo desde 2008, mesmo antes de a Lava Jato vir à tona. Foi somente no ano passado, em 2015, com Aldemir Bendine à frente da companhia, que voltou a ter fluxo positivo. Para Pires, o primeiro desafio de Bendine foi a publicação do balanço da empresa, que lançou o plano de investimentos. “Eu acho que, de certa maneira, a gestão dele deu início a mudanças na Petrobras e cumpriu um papel.”
Já para José Goldemberg, presidente da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), além de ter acabado com o sistema de corrupção da empresa, Bendine conseguiu transmitir uma imagem de administrador apolítico, sem a demagogia da gestão anterior.
Ainda sobre a gestão de Bendine, Plinio Mario Nastari, presidente da Datagro, avalia: “Ele impediu que o barco naufragasse, começando o processo de recuperação. Conseguiu evitar que o tsunami de ações no exterior causasse estragos maiores e conseguiu recuperar o capital de giro que estava comprometido quando assumiu. Apresentou uma atuação positiva, que agora se intensifica com a gestão de Pedro Parente”.
Entretanto, a escolha de Dilma Rousseff (PT) por Bendine para substituir Graça Foster na presidência da Petrobras, em 2015, não agradou o mercado num primeiro momento. Derrubou as ações da estatal em quase 7% no dia em que a ex-presidente anunciou a nomeação.
Exatamente há 18 dias após o Senado ter aberto o processo de impeachment contra Dilma, em maio de 2016, Aldemir Bendine renunciou ao cargo de presidente da Petrobras. Para tanto, o ex-presidente da petrolífera enviou carta ao Conselho de Administração da companhia e também aos colegas dizendo: “Tomei esta decisão para que os conselheiros possam conduzir as propostas de mudança na diretoria feitas pelo acionista controlador sem sobressaltos que possam prejudicar os interesses da companhia. (…) Deixo esta empresa com a enorme satisfação de ter podido participar da história da maior empresa do Brasil”.
No mesmo dia da renúncia, em reunião extraordinária, o Conselho Administrativo nomeou Pedro Parente para a presidência da empresa, que assumiu o cargo no dia seguinte, em 31 de maio de 2016.
PLANO ESTRATÉGICO
Parente é reconhecido por sua gestão de crises, o que foi um dos motivos para ter sido escolhido para liderar a maior empresa brasileira e a petroleira mais endividada do mundo. O novo mandatário terá como maior desafio dar continuidade ao esforço de solucionar a dívida da estatal, que hoje se aproxima a R$ 450 bilhões.
Recentemente, Parente declarou à imprensa que, em cinco anos, a estatal estará saneada, com a credibilidade resgatada e sem riscos de perder a posição que ocupa no mercado.
Sobre a meta financeira, o presidente disse que a empresa irá antecipar a meta de redução da alavancagem (a relação entre dívida e geração de caixa) para antes de 2020. “A dívida não pode ser duas vezes e meia superior à geração de caixa. Vamos trabalhar pra reduzir o endividamento [hoje, para cada R$ 1 de caixa, há R$ 5 de dívida] e melhorar a receita, com uma política de preços de combustíveis com foco empresarial”, disse à imprensa.
Segundo Goldemberg, a nomeação de Pedro Parente como novo presidente da estatal é excelente. “Ele traçou as diretivas para a correção de curso da empresa, já esboçadas por Bendine para fazer a Petrobras voltar às suas origens, que é produzir petróleo em associação com empresas estrangeiras, dividindo riscos e ganhos e não se expandir em ações como distribuição de gás e outros”.
Sob a gestão de Parente, a Petrobras anunciou, em setembro deste ano, o seu Plano Estratégico para o período de 2017 a 2021, com dois indicadores principais que visam o aumento da segurança dos seus trabalhadores e a recuperação financeira da empresa no curto prazo. A meta é reduzir a taxa de acidentes registráveis, um indicador da indústria que mede todos os tipos de acidentes e incidentes ocorridos, dos atuais 2,2 por milhão de homens/hora em operações da companhia, conforme registrado em 2015, para 1,4 até 2018, chegando a 1 em 2021.
A projeção foi apresentada por Parente ao presidente Michel Temer em reunião no Palácio do Planalto. Segundo o presidente da petrolífera, um dos horizontes do plano é a redução mais rápida das dívidas da empresa. Caso se confirmem as expectativas de Parente, em três anos, a estatal voltará a crescer para, em cinco anos, se tornar a quarta ou quinta maior empresa do setor, com uma produção de 3,4 milhões de barris de óleo e gás por dia.
Plínio Nastari acredita que a recuperação da estatal acontecerá antes do prazo previsto por Parente. “Em poucos anos a extração deve superar 3,4 milhões de barris por dia, e a empresa voltará a ser uma das maiores da indústria mundial.”
Em contrapartida, para Alberto Machado, diretor executivo da Abimaq (Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos) e Professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a questão primordial desta projeção não é o prazo, mas sim a tendência. “Não quer dizer que nada disso vai ser consertado de uma hora para a outra, mas na medida em que os indicadores de desempenho começarem a dar sinais de melhora, certamente será indício de que está sendo retomado o crescimento.”
Ainda sobre o novo Plano Estratégico da Petrobras, Adriano Pires acredita que a premissa de reduzir os custos e manter planos dos investimentos são decisões acertadas, porém os números são otimistas demais. “Os desafios são enormes, ele tem total competência para levar a Petrobras de volta ao caminho da lucratividade”, complementa.
Novo marco do pré-sal
O pré-sal é nosso, mas a exploração dele não é mais exclusividade da Petrobras. A base do governo de Michel Temer (PMDB) conseguiu aprovar, no final de novembro, uma lei que acaba com a obrigatoriedade de a Petrobras ser sócia e operadora única do pré-sal. Além de ampliar a participação privada na exploração dos campos, a lei favorece a atração de investimento e geração de receitas.
Antes, a lei vigente determinava que a estatal seria a única operadora do pré-sal, com participação mínima de 30% em cada consórcio de exploração. A nova lei permite que a Petrobras defina os campos nos quais tem interesse de participar.
“O simples fato de passar de obrigação para um direito de escolha já é uma vantagem para a empresa. Mas é importante mencionar que não é só uma vantagem para a empresa, é uma vantagem para o País também”, disse Pedro Parente à imprensa.
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