À frente da multinacional brasileira Fanem há 55 anos, Djalma Luiz Rodrigues é referência quando o assunto é gestão no setor da indústria de equipamentos médicos e laboratoriais. Atual conselheiro titular da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (ABIMO), o executivo possui uma trajetória admirável dentro da Associação, tendo ocupado diversos cargos, entre eles a gestão da presidência por nove anos seguidos.
O executivo recebeu a equipe do Grupo Mídia na fábrica em Guarulhos e falou sobre a comemoração dos 93 anos da Fanem, o atual cenário econômico nacional, os entraves enfrentados pela indústria de saúde brasileira e a relevância da ABIMO dentro do setor.
Mais de 90 anos de trajetória
“O dia de hoje é muito importante para nós. A Fanem comemora 93 anos, dos quais eu participo há 55 anos. Durante essa trajetória em que estou aqui, posso resgatar, nesse momento, não só aquilo que os fundadores trouxeram de importante em seu DNA – que sempre foi o espírito inovador de lançar produtos melhores para a preservação da vida humana – mas, principalmente, posso ver que os esforços empreendidos por eles se tornaram uma vitória de trabalho da família toda em prol da Saúde no Brasil e também nos 110 países que estamos presentes. Nossos equipamentos estão presentes em, aproximadamente, 80% das maternidades e UTIs do Brasil. Isso significa que 85% dos brasileiros respiram o primeiro ar em um equipamento Fanem. Isso é uma responsabilidade!”
Modelo em exportação
“Hoje, somos um dos poucos braços da cadeia produtiva que é superavitária. Durante a década de 1970, nós [Fanem] fizemos os primeiros passos de exportação. Naquele tempo, já antevíamos o que poderia acontecem em nosso país. Buscamos, principalmente, expertise em P&D, contratando pessoas capazes para a nossa engenharia. A consequência desse processo foi a nossa crescente exportação e a abertura da nossa fábrica na Índia, que é um dos nossos principais desafios, pois vencer nesse país não é nada fácil. Lá, buscam-se preços extremamente baixos dentro de condições adversas de competição predatória e é onde podemos encontrar também competidores muito grandes. Como consequência disso, investimos, agora, em um segundo plano: a abertura da nossa fábrica em Guadalajara, no México.”
História na Saúde
“Eu tive a oportunidade de trabalhar com o meu sogro [Walter Schmidt] e convencê-lo, na época, de trazer para o Brasil a tecnologia da incubadora mais famosa do mundo. E com a compra dessa tecnologia, tivemos a oportunidade de lançar a primeira incubadora de ar circulante no país. Meu sogro foi o pioneiro da neonatologia no Brasil e na América Latina. Ele também fez a primeira incubadora com sistema de gravidade. Esse marco trouxe inovações sucessivas que eu vi acontecer dentro da Fanem, como a introdução da parede dupla com redução das percas calóricas dos bebês.”
União de esforços
“Quando Manoel Amaral Baumer, Gentil Leite Martins e outros empresários se reuniram para formar a ABIMO, nascida em 1962, o setores odontológico e médico eram fracos em termos de representação junto ao governo. Não existia uma voz ressonante que pudesse carregar a importância dos esforços que eram feitos pela indústria. Nesse momento histórico de junção dos setores [odontológico, indústria médica e hospitalar], nasceu a ABIMO, dentro de um refrão muito conhecido: ‘é com união de esforços que se consegue o sucesso’. E todos os anos que ali permaneci, uma vez que exerci a presidência da Associação, sempre participei com muito entusiasmo, o mesmo que continuo tendo naquilo que faço até hoje.”
Antigos obstáculos
“O sistema regulatório é uma das barreiras mais importantes a serem enfrentadas para a adequação dos produtos ao mercado, não só interno como o externo – em que as exigências estão cada vez mais rigorosas. E para isso, gasta-se muito dinheiro. Uma das questões que eu discuto, consistentemente, dentro do comitê gestor da ABIMO, e dentro da nossa diretoria, é que precisa haver um apoio maior aos laboratórios de certificação, adequando-os para que os produtos da linha de saúde sejam feitos com o máximo de comprovação de qualidade e certificação dentro do país, sem precisar buscar recursos como enviar o produto para o exterior para que as certificações sejam completadas. E, principalmente, fazendo com que esses produtos cheguem ao mercado cada dia mais com as últimas novidades tecnológicas que a saúde exige. O nosso setor é volátil em tecnologia e devido a essa particularidade precisamos andar um passo à frente. Outra coisa que devemos fazer é buscar a modernização da fabricação dos produtos e ferramentas de gestão para que os projetos andem dentro de um sistema mais organizado, visando acompanhar as inovações necessárias.”
Tecnologia envelhecida
“O nosso parque industrial de neonatecnologia está extremamente envelhecido. Há mais de 40 anos não são trocados os equipamentos em importantes hospitais da cadeia de saúde desse país. Isso acontece também em hospitais universitários, exatamente onde ocorre a formação do conhecimento dos profissionais de saúde do amanhã. Se deixamos dentro das universidades equipamentos tecnologicamente mais antigos, como é que podemos exigir que esse profissional vá para o mercado conhecendo o que há de melhor? Pode acontecer desse indivíduo ir para o exterior e encontrar novos equipamentos lá fora e querer um igual aqui, quando deveria acontecer o contrário: o Brasil deveria dar o exemplo da competência que temos, hoje, em nosso mercado.”
Crise de confiança
“O principal desafio de se enfrentar uma crise como a que estamos passando é, principalmente, tirar da cabeça a psicose de que não somos capazes de enfrentá-la. Hoje, vivemos uma crise mais de confiança do que de mercado, embora ele esteja muito restrito dentro do Brasil. Eu falo isso como quem plantou uma semente de exportação desde a década de 70 e graças isso estamos conseguindo participar ativamente com nossos produtos no mercado externo. A crise precisa ser superada através de diversas maneiras e uma delas é ter o produto sempre dentro de todo o sistema regulatório atendido.”
Bate-pronto
Primeiro emprego: Com formação em química, trabalhou no laboratório de uma indústria de tintas.
Hobbie: Hipismo e criação de cavalos.
Time de futebol: São Paulo Futebol Clube.
Livro de cabeceira: Bíblia.
Filme favorito: O Poderoso Chefão.
*Esta matéria foi publicada na 50ª edição da revista Healthcare Management.