Dispositivos eletrônicos prometem ajudar na meditação
A meditação é uma técnica de reflexão, o objetivo é desenvolver clareza mental e foco em resolver algo. Existem os que praticam apenas pela grande sensação de relaxamento que o exercício traz.
Muitas tribos antigas já praticavam esse exercício, com os primeiros registros remontando aos Vedas Hinduístas, cerca de 2000 anos a.C. Outras formas de praticar vieram à tona no confucionismo, taoísmo, jainismo e budismo, todas filosofias de vida orientais. No ocidente, a prática só foi aparecer no império romano, mais de mil anos depois.
Tecnicamente, uma das primeiras lições para meditar é se desconectar do mundo, ou seja, se afastar de qualquer distração e dispositivos eletrônicos. Algumas empresas levaram essa regra de uma interpretação diferente.
Na era das tecnologias facilitadoras, o caminho extenso e árduo que leva ao tão prometido encontro do indivíduo consigo mesmo e uma esfera distante e única de sua psique, ficou mais fácil.
O processo de aprendizado, para alguns recheado pelo tédio e a estática, ganhou um atalho digital impulsionado pela febre de bem estar causada por influenciadores digitais ao redor do mundo. Em poucos clique, o Google transborda soluções, dicas, gadgets e aplicativos que prometem te levar em poucos dias à tão sonhada paz interior.
Um dos aparelhos que promete concentração imediata, o Muse é um objeto tecnológico inovador que, uma vez acoplado à cabeça do aspirante a mestre da meditação, transforma os pensamentos em sons e, assim, colabora para o relaxamento.
Ao final da sessão, o usuário ainda pode verificar o registro do tempo em que foi capaz de se manter em estado “zen”, em detrimento ao período em que teve sua atenção desviada ou seu foco atrapalhado.
O objeto já está em sua segunda geração, ou seja, já recebeu uma atualização de hardware, e pode ser encontrado em duas variações. A linha S, mais cara, disponibiliza controle do sono e um formato mais anatômico.
De acordo com o fabricante, também possui maior durabilidade; os preços ficam na casa dos US$349,99, aproximadamente R$1520. Já o Muse 2, mais fino, por US$209,99, cerca de R$910, colabora apenas para o exercício de relaxamento.
Mas o Muse, é claro, não é único no mercado que promete facilitar o processo de meditação. O Melomind é um pouco mais caro, e consiste em um fone de ouvido com duas pequenas garras na parte traseira, que detectam as ondas cerebrais.
O produto ainda produz um som único que, de acordo com a empresa, “é o som do seu próprio relaxamento”. Com o hábito, você ainda pode aprender a controlar esses momentos com o aplicativo complementar disponibilizado pela marca. O Melomind pode ser adquirido por €399, aproximadamente R$1880.
Real funcionalidade
As duas companhias apresentam em seus sites argumentos bem firmes e confiáveis sobre a ciência por trás do aparato. O Melomind fornece um feedback instantâneo, possibilitando o aprendizado imediato através do método de Eletroencefalografia (EEG), o mesmo que médicos utilizam na realização de leitura de atividade cerebral.
Já o Muse utiliza a mesma ferramenta, o EEG, mas cria um padrão de aprendizagem diferente, que promove níveis extremos de relaxamento através do canto de pássaro.
No site da empresa também são apresentados nove estudos realizados com o aparelho. Em contrapartida, algumas análises do Muse têm conclusões diferentes. Alguns usuários apresentaram queixas de desconexão com o ponto principal do relaxamento, e relatam funcionamento contraditório do aparelho.
Em relato, uma praticante de assídua meditação que testou o aparelho concluiu que, em momentos em que pensava em uma narrativa ou história contínua, os pássaros aumentaram, enquanto em momentos nos quais ela simplesmente parava de pensar, tecnicamente o real objetivo do exercício, os barulhos de alerta iniciavam.
Os especialistas ainda não têm uma opinião formada sobre os objetos, mas no decorrer dos próximos anos, e com o protagonismo cada vez maior das máquinas em prol da saúde, é provável que estudos mais aprofundados na área sejam desenvolvidos. Por hora, a conclusão científica é que os conectores são passivos; ou seja, não produzem de fato nenhum tipo de descarga elétrica quando estão em perfeito funcionamento.
Alternativas
Os aplicativos para relaxamento já estão disponíveis há algum tempo, e boa parte deles é gratuito. Em alta nas lojas de apps está o Lojong, um app gamificado que avança em fases e níveis na medida em você o utiliza. Ao ultrapassar as fases, você desbloqueia novos itens para utilizar em suas sessões.
Outro app que trabalha com o mesmo sistema é o Mediopia. O diferencial, no entanto, é a opção Premium oferecida ao usuário. Através do upgrade, o usuário ganha acesso a sons diferentes, mais tempo de uso contínuo e acesso a programas específicos. Nenhum dos dois aplicativos explica cientificamente ou menciona qualquer pesquisa que embase seu sucesso.
Solução
O vício social da tecnologia criou um grande impasse. Como é possível de desconectar-se de tudo estando plugado por fios? Em seu princípio, a meditação foi criada para guiar a busca por calmaria e plenitude, colocando-se como um meio de acalmar e promover o autoconhecimento.
Apesar das muitas alternativas, a dica é não criar barreiras para os momentos de reflexão, e iniciar suas sessões de relaxamento fechando os olhos e respirando fundo.
Esta matéria foi publicada originalmente na edição 69 da Revista Quem Realiza.