A ABRH- Brasil (Associação Brasileira de Recursos Humanos) realizou uma pesquisa em parceria com a ASAP (Aliança para Saúde Populacional), sobre as práticas de gestão da saúde nas empresas. O objetivo do estudo é promover o desenvolvimento de estratégias e implementação de ações destinadas à melhoria da gestão da saúde corporativa, apoiadas pelos conceitos e melhores práticas da Saúde Populacional.
Os planos de saúde, individuais e coletivos, que atendem a 48 milhões de brasileiros, representam o segundo maior gasto das companhias, atrás da folha de pagamento. Esses gastos, que estão entre 10% e 20% dos custos totais de uma empresa, têm registrado consistente alta nos últimos anos, superando de longe a inflação. Em 2017, quando a inflação esperada é em torno de 4%, a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) definiu em até 13,55% o índice de reajuste dos planos de saúde, individuais e familiares, no período compreendido entre maio de 2017 e abril de 2018.
O reajuste dos planos de saúde empresariais, que não é regulado pela ANS, varia caso a caso, podendo superar o índice de correção.
Resultado
Para entender como as empresas vêm atuando na gestão da saúde de suas equipes e se têm adotado programas efetivos nessa área, a ABRH uniu-se à ASAP para desenvolver a pesquisa.
O questionário foi respondido por 668 profissionais de RH, que representam aproximadamente 1,3 milhão de empregados ou 3 milhões de beneficiários dos planos de saúde corporativos, contando os dependentes. O número corresponde a 10% do total de usuários desses planos no Brasil.
A pesquisa revela que 71% das empresas trabalham com estratégias e programas voltados à melhoria da saúde de seus colaboradores. Em 81% das companhias, os custos dos planos subiram acima da inflação dos últimos 12 meses, sendo que em 55%, o valor aumentou mais que o dobro da inflação. 83% das empresas acreditam que os custos não devem baixar.
Análise
Com este cenário, entende-se que, apesar de a maioria das organizações promoverem ações específicas de saúde, elas não estão sendo eficazes. “O estudo aponta, ainda, que as principais razões do alto custo são sistemas frágeis de gestão corporativa, a ausência de indicadores e ações de prevenção muito isoladas. Essa falha impacta diretamente na produtividade e, consequentemente, nos resultados das empresas, uma vez que afeta a produtividade, absenteísmo e presenteísmo”, explica Luiz Edmundo Rosa, diretor de Desenvolvimento de Pessoas da ABRH. ”As empresas precisam investir, principalmente, em política de prevenção, trabalharem nas causas do problema e não apenas nos seus efeitos”
A pesquisa lista uma série de motivos que podem explicar por que as estratégias e programas não são tão efetivos. Entre eles:
41% dos responsáveis pela gestão dos programas de saúde nas empresas pesquisadas eram analistas e coordenadores, posições com menores possibilidades de decisão e influência;
54% não trabalham com indicadores;
40% não utilizam a coparticipação nas consultas e exames, pagando integralmente o valor;
51% não têm programas estruturados para gerenciamento de grupos de risco, como diabéticos, hipertensos, obesos, entre outros, os quais costumam ser os usuários de maior custo para os planos de saúde;
56% não adotam programas de alimentação saudável, e apenas 20% contam com os serviços de nutricionistas;
40% consideram o nível de estresse alto e muito alto em suas empresas, e 80% acreditam que a tendência é não baixar;
61% têm na negociação com fornecedores sua principal ação para a redução de custos com a saúde.
Uso inadequado dos planos
Para justificar a alta dos custos, especialistas de saúde registram a existência de exageros: o elevado número de cirurgias, próteses, exames repetitivos e medicamentos desnecessários.
Dados da ANS mostram que, no Brasil, médicos de planos de saúde solicitam mais exames do que outros países mais desenvolvidos. O número de ressonâncias magnéticas cresceu 22,5%, em apenas dois anos (2014-2016), e hoje supera em 153% o número de exames per capta dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
“Por desinformação e despreparo, as pessoas utilizam os planos de saúde de forma inadequada, fazem consultas e exames em excesso, muitas vezes solicitados por médicos que não têm condições de fazer um diagnóstico apropriado”, afirma Luiz Edmundo Rosa. Para complementar o desperdício, muitos exames, depois de realizados, não são sequer retirados. Neste caso, são as empresas que financiam a maior parte desses gastos, e muitas delas sem saber ou acompanhar o que está acontecendo. Simplesmente pagam.
Para agravar ainda mais, muitos empregados que utilizam intensivamente o plano de saúde, não mudam seus comportamentos de risco: sedentarismo, sobrepeso, sono insuficiente, alimentação deficiente e descuido com doenças crônicas, como diabetes, pressão alta, entre outras.
“Sem atuar sobre as causas, os problemas se repetem e se agravam. E muitas empresas assistem a tudo isso, sem fazer nada ou quase nada”, completa.
Esses resultados mostram que há uma grande oportunidade para os líderes de RH aprimorarem suas estratégias e gestão da saúde corporativa, visando reduzir a escalada dos custos e, acima de tudo, proteger a vida e a integridade das pessoas. O desperdício de recursos pode ser revertido em economia para a empresa, produtividade e satisfação para o colaborador.