Não se pode falar em cuidados paliativos sem observar todas as possibilidades de aprimoramento de qualidade de vida a pacientes que enfrentam doenças graves. Passando pelo diagnóstico, os cuidados no decorrer do tratamento e o eventual fim da vida, é justamente esse aprimoramento que torna o tópico cada vez mais relevante. No Brasil, o aumento exponencial da expectativa de vida representa automaticamente o crescimento da demanda por cuidados paliativos, não apenas junto ao paciente, mas também de seus familiares.
“O cuidar, em cuidados paliativos, significa prover conforto, agir e reagir adequadamente frente a situação de morte com o doente, família e consigo mesmo; reconhecendo o sofrimento e as conquistas de cada pessoa”, afirma André Filipe Junqueira Santos que, junto a André Luiz Fioravante, está a frente do setor de cuidados paliativos da Nova Bene de Ribeirão Preto.
Bem-estar estrutural
Para os médicos, o objetivo do cuidado paliativo é muito claro: promover o controle dos sintomas, medidas de conforto e preservação da dignidade e autonomia do indivíduo. Na Nova Bene de Ribeirão, uma equipe multidisciplinar foi formada por médicos especialistas em cuidados paliativos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e outros profissionais da saúde para estruturar o setor.
“Todos foram treinados para oferecer o melhor cuidado para pacientes com doenças graves e que precisam de atenção em todas as suas necessidades”, complementa Fioravante. As melhorias foram colocadas em pauta com base em estudos científicos recentes, que demonstram que, quando bem implementados, os cuidados paliativos provêm melhor controle de sistemas e aumento da qualidade de vida dos pacientes. “Sendo que em algumas doenças, como o câncer na fase avançada, aumentam o tempo de vida com qualidade”, ressalta.
Acompanhamento
Para os serviços de Saúde, isso representa, para além de um melhor tratamento de seus pacientes, um melhor gerenciamento de recursos de saúde, evitando assim a realização de tratamentos muitas vezes invasivos ou agressivos, que não ajudam em fase terminal ou irreversível. “Isso significa um cuidado mais humanizado, centrado nos desejos e valores do paciente”, explica Junqueira.
Mas, ainda que seja muito associado ao fim da vida, o médico explica que o cuidado paliativo pode atuar em qualquer momento de uma doença grave e que ameace a vida, desde do diagnóstico, e se estender por anos, até o fim da vida e além, amparando o luto dos familiares. “Quanto mais cedo a equipe de cuidados paliativos atua, mais poderá ajudar o paciente e seus entes queridos. Na fase mais avançada, a demanda é, claro, maior; mas isso não significa que só deva ser uma possibilidade apenas nesta situação.”
Apoio
Fioravanti ressalta que os cuidados paliativos devem ser oferecidos em todos os níveis de atendimento, e que a detecção precoce da necessidade de cuidados paliativos deve ser realizada nos serviços de atenção primária da comunidade, responsáveis também pelos atendimentos iniciais. “Se a situação se complicar ao longo da trajetória, entram em cena equipes especializadas e recursos avançados, tanto para o alívio da dor e de outros sintomas quanto em situações de falta de apoio familiar e social adequado”, conta.
Hoje, todos os profissionais de saúde envolvidos nos cuidados paliativos oferecidos pela Nova Bene são instruídos a promover a qualidade de vida, o melhor controle de sintomas, conforto e bem-estar máximo. A equipe, que está sendo ampliada e treinada pela Instituição, também fará parte de uma rede de cuidados que se estende às famílias para além do hospital. “Levaremos a atenção para dentro da casa, criando um vínculo de continuidade e atenção em todos os momentos.”
Democratização
Ampliar essa atuação é justamente um dos maiores desafios da Bene, assim como demonstrar, tanto para pacientes quanto para familiares me outras equipes de saúde, que o cuidar é fundamental na promoção da qualidade de vida. “É preciso reforçar sempre que, além de todos os recursos tecnológicos que a Bene possui, a atenção ao cuidado do paciente em todas as suas demandas pode ajudá-lo diante do impacto de uma doença grave em sua vida”, relembra Junqueira.
Ainda que em expansão por todo Brasil, os cuidados paliativos ainda atendem a uma pequena parcela da população que os necessita, ressalta o médico. Especialmente quando se leva em consideração que, dos 2.500 hospitais brasileiros com mais de 50 leitos, apenas 5% disponibiliza uma equipe voltada ao segmento. “Para efeito de comparação, em um levantamento de 2016 sobre o número de equipes nos Estados Unidos, o Center for Advanced Palliative Care encontrou 1.831 equipes, cobrindo mais de 90% dos hospitais norte-americanos com mais de 50”, ilustra.
Consciência
“Muitos irão viver seus últimos dias dentro de hospitais, por isso é essencial que os mesmos ofereçam não somente recursos tecnológicos e condições para controle da doença, mas também um ambiente de acolhimento e bem estar para que as outras pessoas que venham infelizmente a falecer recebam toda a atenção e cuidados que necessitem, em todas as dimensões, sejam físicas, patológicas, sociais ou espirituais.”
Para os médicos, é importante lembrar sempre que os cuidados paliativos são muito mais do que um modelo de atenção à saúde. “É uma filosofia de bem-estar e cuidados a todas as pessoas que lidam com doenças graves e que têm impacto em suas vidas. É uma valorização de cada indivíduo, seus entes queridos e uma visão amplificada dos profissionais de saúde em cuidar não somente das doenças e suas complicações.”
Essa matéria e muito mais você confere na edição 70 da Revista Quem Realiza.