Coronavírus: mais um motivo para parar de fumar?
Comemorado em 29 de agosto, o Dia Nacional de Combate ao fumo tem um assunto a mais este ano: a pandemia. A associação do tabagismo com o coronavírus ganhou a atenção de pneumologistas e do Instituto Nacional de Câncer (INCA) – afinal, o hábito é um fator de risco para transmissão e desenvolvimento de formas mais graves da doença.
Patologias que o tabagismo provoca, como doença pulmonar obstrutiva crônica e exacerbações da asma, estão associadas a uma série de complicações da COVID-19 e fazem com que a recuperação seja mais lenta e com maior risco de sequelas. As consequências a longo prazo da infecção por coronavírus no trato respiratório ainda são desconhecidas. Mas, como o tabaco é um grande agressor deste sistema, é possível que exista um efeito sinérgico desses agentes. Além disso, o fumo está ligado ao desenvolvimento de tumores e a doenças em outros órgãos, como o coração. Infarto, isquemias cerebrais e AVC são mais frequentes entre fumantes, e essas doenças aparecem entre as complicações graves da COVID-19.
Um outro olhar sobre o tabagismo neste momento de extrema angústia e isolamento social é a questão da dependência química, que pode estar ainda mais exacerbada. Ao ficar doente ou já na recuperação, além de enfrentar os problemas respiratórios, os pacientes precisam de apoio em relação às alterações psíquicas e físicas da abstinência.
Por fim, o ato de fumar facilita a transmissão. Levar a mão à boca repetidas vezes pode ser a porta de entrada para o vírus. Produtos que promovam o compartilhamento, como narguilé e cigarros eletrônicos, são outros canais de propagação da COVID-19.
No enfrentamento de uma doença que, segundo pesquisadores, pode infectar mais de 70% da população mundial, pacientes com melhor imunidade e estilo de vida mais saudável têm mais chances de se saírem bem. Ao deixar de fumar, os benefícios são imediatos: sem cigarro, os pulmões já funcionam melhor cerca de 12 a 24 horas depois. Que a pandemia sirva de incentivo para que mais pessoas parem de fumar.
Por Flávia Gabe Beltrami, médica pneumologista do Serviço de Pneumologia e Cirurgia Torácica do Hospital Moinhos de Vento.